
O aumento das queimadas exige do produtor rural ações concretas de prevenção e documentação para evitar prejuízos legais e financeiros
Em 2024, o Brasil enfrentou uma das maiores crises de incêndios rurais da história. Segundo o INPE e o MapBiomas, entre janeiro e setembro, cerca de 22,4 milhões de hectares foram queimados — um salto de 150% em relação ao ano anterior. Biomas como a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal foram duramente atingidos, com destaque para a Amazônia, que teve um crescimento de 196% nas queimadas em setembro.
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Esse cenário de devastação está ligado a condições climáticas extremas, como secas prolongadas, ventos fortes e baixa umidade, além do uso inadequado do fogo em áreas agropecuárias. A combinação desses fatores tem acendido o alerta sobre a responsabilidade legal dos produtores rurais que não adotam medidas preventivas contra incêndios.
Responsabilidade legal e omissão nas medidas preventivas
Com a intensificação das queimadas, o Judiciário e órgãos ambientais estão responsabilizando produtores rurais não apenas por ações indevidas, mas também por omissões. No livro “Prevenção como economia: o custo dos incêndios em propriedades rurais e a responsabilidade jurídica”, o advogado, consultor jurídico e professor em Direito Agrário, Ambiental e Imobiliário, Pedro Puttini Mendes aborda o tema, alertando e orientando os agropecuaristas.
Em São Paulo, o Tribunal de Justiça manteve uma multa de R$ 14 mil contra uma empresa de celulose. O fogo, de origem desconhecida, atingiu uma área de preservação permanente. A empresa não foi responsabilizada por iniciar o incêndio, mas por não manter aceiros e estruturas de observação adequadas.
Segundo o desembargador Roberto Maia, relator do caso, a empresa assumiu o risco ao negligenciar a manutenção preventiva. A legislação ambiental brasileira prevê responsabilidade objetiva, ou seja, o dever de reparar o dano independe de culpa.
Por isso, os produtores precisam olhar suas propriedades com visão estratégica e jurídica, mapeando riscos e mantendo documentação das condições ambientais da fazenda. Esse histórico pode ser essencial em casos de litígios ou fiscalizações.
Mapeamento e monitoramento: tecnologia como aliada da prevenção
A primeira etapa para prevenir incêndios é o mapeamento das áreas de risco. Essa análise deve considerar o relevo, o tipo de vegetação e a incidência histórica de focos de calor. Tecnologias como drones e imagens de satélite permitem uma visão detalhada da propriedade e identificação de pontos vulneráveis.
- Drones com câmeras de alta resolução facilitam inspeções minuciosas.
- Imagens de satélite oferecem uma visão ampla e periódica.
- Sensores térmicos permitem detecção em tempo real de focos de calor.
Essas ferramentas possibilitam uma resposta rápida e precisa, principalmente em locais de difícil acesso. Além disso, a análise de solo e vegetação orienta a criação de barreiras físicas como aceiros — faixas de solo exposto que interrompem a propagação do fogo.
Quanto custa prevenir? Um investimento que evita prejuízos
A prevenção tem custo, mas o prejuízo da omissão pode ser muito maior. O mapeamento com drones varia entre R$ 50 a R$ 150 por hectare. Já o uso de imagens de satélite de alta resolução pode custar entre R$ 5 mil a R$ 15 mil anuais.
A implantação de aceiros também é recomendada e permitida pelo Código Florestal. O valor pode chegar a R$ 1.500 por hectare, dependendo da área, do tipo de solo e da vegetação. Os principais custos incluem:
- Aluguel de maquinário: R$ 75 a R$ 150 por hectare;
- Mão de obra especializada: R$ 75 a R$ 125 por hectare;
- Combustível: R$ 50 a R$ 100 por hectare.
Somando esses fatores, o custo total de um aceiro pode variar de R$ 600 a R$ 1.500 por hectare. Um investimento que, se bem documentado, pode proteger a propriedade de multas, embargos e processos judiciais.
Documentar para proteger: a importância da prova preventiva
Tão importante quanto implementar medidas, é registrar tudo o que foi feito. A recomendação é manter um inventário ambiental atualizado, com:
- Fotografias da vegetação e das estruturas de proteção;
- Relatórios de monitoramento térmico e uso do solo;
- Registro de eventos climáticos extremos e ações corretivas adotadas.
Essa documentação reforça o compromisso com a preservação ambiental e serve como prova de diligência em caso de investigação. A Instrução Normativa nº 14/2024 do Ibama destaca que, em projetos de recuperação de áreas degradadas, devem constar medidas como manutenção de aceiros.
Portanto, prevenir é mais do que proteger o meio ambiente — é blindar o produtor contra riscos legais e financeiros. Ao investir em planejamento, tecnologia e registros bem feitos, o pecuarista assegura tranquilidade jurídica e continuidade da produção.
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