A taxa de mortalidade de bezerros no Brasil ainda é alta e pode chegar a 10% no período de cria, que vai do nascimento ao desmame. Isso representa até 5 milhões de bezerros perdidos por ano, gerando um prejuízo estimado de mais de R$ 13 bilhões para o setor pecuário. Mas, segundo duas das principais especialistas no tema, essa taxa deveria ser zero. Assista ao vídeo abaixo e confira.
Em entrevista ao programa Giro do Boi, as doutoras Janaína Braga, especialista em bem-estar animal, e Fernanda Macitelli Benez, doutora em zootecnia, defenderam que mortes de bezerros não devem ser encaradas como normais na pecuária. Ambas fazem parte da consultoria BE.Animal, projeto que atua com o lema “Cada bezerro importa”.
Bezerro morto é só a ponta do iceberg
Segundo Janaína Braga, a morte de um bezerro é apenas o sintoma mais grave de falhas no manejo.
“Por trás de cada morte, há outros animais doentes, altos custos com medicamentos e perda de desempenho zootécnico. Isso impacta diretamente no bolso do produtor”, alerta Braga.
A especialista reforça que muitos casos podem ser evitados com ações simples e baratas, como:
- Correta cura do umbigo
- Fornecimento adequado de colostro
- Monitoramento diário dos recém-nascidos
- Sombras e abrigo no piquete maternidade
Manejo preventivo custa pouco e evita grandes prejuízos
Fernanda Benez destacou que, segundo levantamento do Sindan, o custo anual com saúde bovina gira em torno de R$ 2 por cabeça. Isso representa menos de 0,5% do valor de uma arroba.
“Com o que se perde com a mortalidade de bezerros, daria para cuidar da saúde do rebanho brasileiro por mais de três anos”, afirma a zootecnista Benez.
A especialista lembrou ainda que a maior causa de mortalidade está relacionada à falha humana. Um bom materneiro, com atitude de dono e empatia pelos animais, faz toda a diferença no sucesso da criação.
Colostro: vacina natural, alimento ideal e cobertor térmico
O colostro é apontado como uma das principais defesas do bezerro nos primeiros dias. Além de ser rico em anticorpos, ele:
- Aquece o bezerro recém-nascido
- Alimenta com nutrientes essenciais
- Melhora a imunidade
- Funciona como laxante natural
“Um bezerro que mama colostro aumenta a temperatura corporal, ganha vigor e reduz drasticamente o risco de doenças como diarreia e pneumonia”, explica Braga.
Cura do umbigo: simples, mas essencial
A cura do umbigo também é fundamental. Deve ser feita com solução de iodo a 10% e imersão total do cordão umbilical por pelo menos 30 segundos.
Aplicações rápidas, em spray, são ineficazes. O umbigo é a principal porta de entrada para infecções que causam artrites, problemas urinários e até infecções generalizadas.
Bezerro fraco ou prematuro precisa de atenção redobrada
Quando o bezerro nasce fraco ou antes do tempo, o estresse térmico da mãe pode ser o responsável, segundo Fernanda Benez. Nestes casos, os cuidados devem incluir:
- Ajuda para mamar o colostro
- Suplementação com leite extra e vitaminas
- Observação da hidratação
- Avaliação da produção de leite da vaca
O maior custo da fazenda é a morte do bezerro!
As especialistas reforçam que o maior custo da fazenda não é com ração ou insumos, mas com as perdas evitáveis.
Um bezerro morto representa não só prejuízo financeiro, mas também perda genética e impacto na segurança alimentar.
“Cada bezerro que morre deixa de alimentar até oito pessoas por um ano”, destacou Fernanda.
Iniciativa “Cada Bezerro Importa”
A campanha “Cada Bezerro Importa” tem um site oficial com vídeos, tutoriais e guias práticos que ajudam produtores e vaqueiros a melhorar o manejo. O conteúdo é gratuito e voltado ao dia a dia da fazenda. Acesse: www.cadabezerroimporta.com.br
O recado das especialistas é direto: a morte de bezerros não pode ser tratada como normal. Com treinamento da equipe, atenção aos primeiros dias de vida, manejo de sombra e colostro, é possível chegar à mortalidade zero e garantir o sucesso da criação.