Quero começar a fazer IATF no meu rebanho. Qual o primeiro passo?

Brasil já se tornou o país que mais insemina gado de corte no mundo, mas número pode ser ainda maior se o criador perder o receio de aplicar a técnica

Para o criador de gado de corte, começar a fazer IATF (inseminação artificial por tempo fixo) não precisa ser como enfrentar “bicho de sete cabeças”. Foi o que destacou o médico veterinário e mestre em reprodução animal João Barbuio, gerente técnico da MSD Saúde Animal, em participação no Giro do Boi desta segunda-feira, dia 17.

“Isso acontecia muito quando nós começamos a trabalhar com IATF há quinze ou vinte anos. Realmente as pessoas ficavam muito preocupadas em adotar a tecnologia porque acreditavam que não eram capazes de conduzir. Mas hoje a tecnologia evoluiu tanto que já existem equipes preparadas para executar o trabalho, até mesmo pessoas dentro das fazendas com conhecimento suficiente”, tranquilizou.

Antes de dizer por onde o criador deve começar para adotar a IATF em sua propriedade, o especialista listou os benefícios da técnica. “A inseminação artificial é uma grande aliada em busca de uma melhoria genética do rebanho, em busca de melhores resultados de ganho de peso, enfim, em busca de um maior desempenho financeiro da propriedade em si. Através da inseminação artificial, nós conseguimos produzir bezerros de alta qualidade que consequentemente também ficam com preço muito bom de venda, caso seja um produtor que trabalha com cria especificamente, ou mesmo para os que fazem recria e engorda é um animal de melhor desempenho e, com certeza, vai estar pronto para o abate muito mais precocemente”, destacou.

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Pelos seus benefícios e pela facilidade da implantação, a inseminação artificial se popularizou no Brasil a ponto de transformar o País no expoente da tecnologia em todo o mundo. “O nosso país, com a graça de Deus, é uma baita de uma potência no agronegócio. Um índice interessante, para ficar bem claro a nossa expansão na IATF: no ano passado, nós superamos os 20% no número de matrizes inseminadas artificialmente no Brasil. São praticamente 18 milhões de vacas inseminadas no Brasil. Isso é muito interessante e nos transforma no país que mais insemina artificialmente gado de corte  no mundo. É um motivo de orgulho para todos nós, com certeza”, celebrou.

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Barbuio recomendou que o produtor que queira começar a fazer IATF em seu rebanho de fêmeas procure um técnico especialista. O profissional pode inclusive oferecer equipamentos os quais o próprio criador não precisa comprar em definitivo.

“É lógico que é importante sempre estar atrelado a um técnico para fazer todo o processo, mas é um processo extremamente simples. Inclusive o produtor não precisa mais adquirir botijão de nitrogênio. Se ele não quiser adquirir nada disso, ele pode pagar pelo custo total do processo e existem técnicos que oferecem esse tipo de trabalho. O criador vai simplesmente colocar as vacas no brete de contenção com a sua equipe e a equipe contratada vai fazer todo o demais trabalho que seja necessário. Então não tenham receio! Quem ainda não faz a IATF, não tenha receio porque qualquer um consegue fazer. O que é importante lembrar é fazer o planejamento de modo que os fatores que interferem diretamente no resultado – alguns exemplos são nutrição, manejo, inseminador, sêmen, protocolo – estejam muito bem controlados de modo a propiciar os melhores resultados possíveis”, ponderou.

Mas antes de tomar a decisão, qual o primeiro passo do planejamento do criador? Conforme enalteceu Barbuio, trata da nutrição das vacas a serem desafiadas, o principal gargalo para o bom resultado da IATF.

“Eu acho que o principal ponto é tomar atenção com a nutrição dos animais. Tudo depende da e começa na nutrição. Por exemplo, nós estamos atravessando um ano agora em 2021 muito atípico. As chuvas pararam muito cedo, e tomara que voltem mais cedo também. Mas isso daí é um ponto de atenção de extrema importância porque nós temos que nos planejar de modo com que as nossas vacas não sintam a seca e, quando começar a estação de monta, por exemplo, se for uma tradicional, que elas tenham condição corporal mínima para conseguir emprenhar para conseguir conceber. Então o principal ponto do planejamento é o nutricional. Esse é o momento de ir para os pastos e ver como está a condição das pastagens, fazer manejos de pastagens, ou seja, artificialmente, conforme a possibilidade, de maneira que a gente mantenha pelo menos a condição corporal das vacas”, reforçou o veterinário.

Com a certificação de que as matrizes estarão em boas condições corporais para conceberem e manterem a prenhez, o produtor começa a se preocupar com outras variáveis. “Além disso, é lógico, tem outros fatores também que são as compras dos insumos, do sêmen, sempre é importante a gente fazer esse planejamento antecipado, mas acho que a questão fundamental é a nutricional”, frisou.

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O veterinário comentou a diferença que o manejo sanitário pode fazer no resultado final da estação de monta, inclusive com um erro cometido quando as atuais matrizes desafiadas ainda eram bezerras. “Nós temos trabalhos científicos desenvolvidos, por exemplo, em bezerras que acabaram de nascer. Se a partir do momento do nascimento você não estipula um calendário sanitário adequado, nós temos efeitos. Um trabalho que foi feito, por exemplo, com o nosso Solution, mostrou que quando elas entraram na estação de monta reprodutiva pela primeira vez enquanto novilhas, nós tínhamos uma maior proporção de novilhas (que foram vermifugadas) ciclando, ou seja, animais púberes em relação ao grupo que não recebeu protocolo sanitário adequado. Então esse é um exemplo da importância do equilíbrio sanitário associado ao equilíbrio nutricional para que a gente tenha sucesso no processo”, ilustrou.

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Além da vermifugação, o mestre em reprodução animal listou outras doenças que podem acometer as matrizes e prejudicar seu desempenho depois da concepção. “Nós temos algumas doenças que não interferem diretamente na ciclicidade, mas sim na manutenção da gestação. A gente consegue emprenhar essas fêmeas, mas depois a gente tem que cuidar delas para que elas não percam as gestações, não tenham mortalidade embrionária. Podemos citar aqui a IBR, a BVD, a leptospirose e a própria brucelose, que é extremamente importante – inclusive é uma zoonose. Então esse calendário sanitário é de fundamental importância para que a gente não só tenha bons resultados de concepção, como também de manutenção da gestação. E, nesse contexto, mais uma vez os nossos técnicos consultores de pecuária espalhados pelo Brasil todo estão aptos a contribuir com o pecuarista em traçar, em desenhar o melhor calendário sanitário para a sua fazenda”, salientou.

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O especialista indicou quando é o momento ideal para iniciar a prevenção dos males reprodutivos dentro das fazendas de cria. “O ideal é que você comece a aplicar antes (da estação de monta) porque quando essa vaca concebe, ela já vai começar a sofrer os efeitos do vírus ou da bactéria, então a gente pode ter mortalidades precoces em função de IBR ou BVD, por exemplo. O ideal é que esse calendário se inicie antes, inclusive bem antes da estação reprodutiva. Por exemplo, muitos pecuaristas estão acostumados a administrar primeira dose da vacina contra a IBR e a BVD no dia zero do protocolo de IATF. Isso até pode funcionar numa vaca multípara, que já tem o seu sistema imunológico bastante evoluído e desenvolvido, mas isso não está funcionando em animais jovens, como novilhas ou primíparas. E aqui é o grande gargalo da sanidade, porque esses são animais com sistema imunológico menos desenvolvido. Então nesses animais jovens, principalmente, nós precisamos iniciar o calendário de vacinações, seja para IBR, BVD, leptospirose – brucelose já é dessa maneira – ainda enquanto bezerras para que quando elas cheguem na estação reprodutiva com toda a proteção necessária para que aquelas doenças não interfiram nas mortalidades daquela gestação”, advertiu.

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O veterinário falou ainda da importância da escolha do protocolo hormonal ideal a ser usado para sincronizar o cio da vacada. “Vale lembrar algo que é importante como um último recado, que é o protocolo de IATF. Eu gostaria de considerar que existem diversos tipos de protocolos de IATF e basicamente a grande diferença entre eles é que há protocolos de três e de quatro manejos até você conseguir fazer a inseminação em tempo fixo. Nesse contexto, […] as pesquisas da MSD Saúde Animal foram orientadas na busca por um protocolo que trouxesse o menor número de manejos possível com o melhor resultado possível. E já está estabelecido ao longo dos últimos anos que o protocolo de três manejos feitos com os medicamentos da MSD Saúde Animal têm os mesmos resultados do que os de quatro manejos”, sustentou.

Barbuio listou os benefícios da opção pelo protocolo de IATF de três manejos. “É importante a gente optar e se informar com relação aos protocolos com menos manejos porque nós temos dois benefícios com isso. Primeiro, o bem-estar dos animais, que é uma bandeira levantada pela MSD Saúde Animal há muito tempo. E segundo, o bem-estar dos próprios funcionários, que consequentemente terão menos trabalho para conseguir inseminar. E como o propósito da nossa empresa é melhorar a vida das pessoas através da saúde e bem-estar dos animais, as nossas pesquisas seguem nesse contexto e a gente dispõe aos nossos clientes protocolos de três manejos com alta eficiência de resultados”, finalizou.

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No vídeo a seguir é possível assistir a entrevista completa concedida por João Barbuio ao Giro do Boi: