Em entrevista ao Giro do Boi nesta terça-feira, dia 04, o vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), Emílio Salani, falou sobre a possibilidade levantada pelas companhias associadas de produzir vacina contra a Covid-19 em laboratórios detentores da tecnologia de imunizantes que usam cepas inativadas.
“Eu coordenei a parte de adequação, o entendimento entre Ministério da Agricultura, a Anvisa, (o ministério da) Ciência e Tecnologia, Butantã e outros detentores de tecnologia de vacina inativada para que se abrisse essa discussão. Eles estão avançando rapidamente na busca de produzir vacinas inativadas nos quatro laboratórios biosseguros que o Brasil possui para produção de vacinas contra a febre aftosa, disse Salani, atualizando as informações.
“Uma das grandes características que faz com que a gente abrace esse desafio, além da questão humanitária, é que os nossos volumes são muito grandes. Você imagine: se nós vamos comercializar 180 milhões de doses de vacinas de 2 ml com dois vírus (variantes do vírus da febre aftosa), imagine nossa capacidade de produzir uma vacina de 0,5 ml com um vírus só. Pare e pense. […] Os laboratórios produziriam tranquilamente 700 milhões de vacinas de 0,5 ml de um vírus só, só para fazer uma correlação”, projetou.
“Então todo esforço é bem vindo, é importante, e o que eu notei é que todos os órgãos estão dando prioridade para que a gente possa executar, para que a gente possa implementar essa produção de vacinas humanas nos laboratórios biosseguros. Sempre lembrando também ao pecuarista que a condição sine qua non imposta pela ministra Tereza Cristina (titular da pasta da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) é garantir a produção de vacinas para o rebanho brasileiro”, ponderou.
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Salani falou ao Giro do Boi sobre o aprendizado do Sindan no ano passado com a operação de vacinação contra aftosa antes de antecipar as expectativas do Sindan a respeito da primeira etapa da campanha nacional, que ocorre, com algumas variações em todo o Brasil, ao longo de de maio.
“Eu entendo que (2020) foi um ano de aprendizado, tanto para nós […] quanto para o pecuarista na aquisição e aplicação da vacina. Nós lançamos uma campanha bem ampla, do João Vacabrava, levantando os principais pontos sobre aquisição, contato com as lojas, higiene, segurança e vamos repetir esta campanha agora semanalmente para que aqueles pontos mais importantes sejam ressaltados. Eu entendo que com a decisão do ministério (Mapa) do ano passado de fazer prorrogação de 15 a 30 dias em algumas regiões e estados e também prolongar um pouco a comunicação, nós podemos considerar que foi uma campanha exitosa, ao redor de 300 milhões de doses. Você imagine, nessa época em que todo mundo fala de vacina, o que se fala é vacina, imunização, falta de vacina… No ano passado, o pecuarista adquiriu e aplicou 300 milhões de doses e, para se ter ideia, são basicamente 600 mil litros de vacina condicionadas de 2 a 8º C. É a maior operação de imunização de rebanho que nós tivemos no mundo”, orgulhou-se.
Salani também tranquilizou os produtores a respeito do fornecimento de imunizantes para este início de calendário de vacinação 2021. “Para que todo mundo tenha calma e faça muito bem feita a sua vacinação nos horários corretos, com equipamentos corretos e lembrando ao pecuarista que nós já disponibilizamos para a cadeia comercial – cooperativas, revendas, distribuidoras – 130 milhões de doses. Então o que nós fazemos? Numa campanha de 170 até 180 milhões de doses, por aí, de maio agora, a gente disponibiliza 50 a 60% do volume no mês de abril e começo de maio para não estressar a cadeia de frios, para termos espaço e tranquilidade. E vamos fazendo a reposição ao longo do mês de maio. Isso leva àquela tranquilidade do acesso ao balcão para aquisição de vacina”, assegurou.
Salani lembrou que, contando com regiões em que a vacinação começa em março e abril, toda a primeira etapa da campanha deve somar a aplicação de 185 a 190 milhões de doses. “Nós estamos no início da campanha já com praticamente 70% ou mais das vacinas nos locais de aplicação, nas revendas e nas fazendas. Todo o canal de vendas está albergando esses 130 milhões, mais um estoque de segurança que existia nas revendas. Nós temos na nossa central de selagem mais 40 milhões a 50 milhões de doses a serem liberadas pelo Mapa até o fim do mês, com tudo acertado, selado com dupla garantia e com total rastreabilidade”, sustentou.
O executivo lembrou que as doses disponíveis contempla a mudança recente de diminuição do volume aplicado por cabeça. “Lembrando que o pecuarista teve um grande benefício a partir de 17/18 para cá, quando ele passou a receber essa vacina de 2 ml. Foi uma luta de todas as autoridades, produtores e laboratórios. Apesar de ser um volume menor, tem que se observar bastante para não ter refluxo, é um volume menor, então você tem que imunizar bem, aplicar bem esse volume e não deixar de observar a qualidade da agulha, a contenção do animal e aplicar na região da tábua do pescoço, que é a região correta de se aplicar tanto em termos de região quanto em termos de carne nobre para o caso algum efeito. […] Eu acredito que o pecuarista está muito bem atento a esses detalhes, tanto que nós não tivemos nas campanhas do ano passado nenhuma reclamação relevante referente a armazenagem, recepção, procura de vacina, abastecimento e inclusive de caroços, reações que poderiam levar perdas tanto ao frigorífico quanto para o produtor na hora do abate”, celebrou. “Foram investidos US$ 35 milhões, o governo investiu também muito dinheiro no controle, na avaliação dessa nova vacina, mantendo a segurança e a proteção”, ressaltou.
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O especialista elencou quais são os pontos de atenção para evitar que mesmo com a dose menor o produtor não tenha efeitos indesejáveis na carcaça de seus animais. “Muitos abscessos podem ser oriundos de agulha sujas. E se o animal não estiver contido, você não tem esse tempo de seringa na mão porque, ao vacinar a tábua do pescoço, o animal vai reagir. E lembrando, sempre tome cuidado com animais menores para não empelotar todos os animais ali (no tronco coletivo). Você deve passar um por um (no tronco de contenção individual), com tranquilidade. Quando a pessoa opta por aplicar a vacina naquele tronco, no corredor, você acaba podendo deixar até animal sem vacinar”, alertou.
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Ainda em sua participação, Salani tratou dos esforços do Sindan sobre a criação do fundo emergencial com o intuito de ser acionado para ajudar a conter um eventual foco de febre aftosa. O fundo, segundo Salani, vai incentivar o produtor a acionar as autoridades no momento adequado com a garantia de uma indenização justa. “Vai ser um esforço muito grande para obtenção desse fundo. Ele é primordial para que o produtor tenha segurança em ser indenizado adequadamente. Ele vai notificar na hora correta e você sabe que a recuperação do status de livre sem vacinação está diretamente ligado à velocidade de reação dos produtores e das autoridades. E eu coloco mais um tempero no programa, que é a nossa parte, com a qual eu estou envolvido, que é a construção, a elaboração de uma banco de antígenos e vacinas porque você tem a opção de abater os animais no foco e fazer uma vacinação no anel no entorno da propriedade que foi acometida. Então você precisa ter vacinas e antígenos à disposição. O governo fez um primeiro exercício já com os estados do Sul, já definiu mais ou menos um quantitativo em milhões de doses e nós estamos nesta tratativa em que ainda existem dois pilares faltantes: o fundo emergencial e o banco de antígenos e vacinas. Na minha opinião, com um rebanho de mais de 200 milhões de cabeças, não se pode abrir mão de ter um banco de vacinas à disposição nesse país”, destacou.
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No vídeo a seguir é possível assistir a entrevista completa com Emílio Salani:
Foto ilustrativa: Reprodução / Sindan