A inteligência artificial está batendo porteiras de propriedades de pecuária de corte Brasil afora e não está somente de passagem. Nesta quarta, dia 25, o Giro do Boi mostrou o que esta tecnologia já está fazendo na prática pelo produtores do País, conforme confirmaram as entrevistas com Breno Cerqueira, diretor de tecnologia e inovação da Prodap, responsável pelo sistema “Lore” e com o pecuarista Ricardo Espírito Santo, que utiliza a inovação em suas propriedades, como na Fazenda Bom Sucesso, em Goianápolis, no interior goiano, e também no sul do Pará.
Cerqueira resumiu de que se trata inteligência artificial na pecuária. “A inteligência artificial começa a analisar os dados que as pessoas estão coletando nos seus sistemas de gestão, porque muitos pecuaristas utilizam sistema de gestão hoje. E ela começa a correlacionar esses dados e começa a fazer uma probabilidade de causa e efeito. Por exemplo, a gente começa a coletar dados […] de como está a qualidade da água, como está a carga de suporte da fazenda, ou seja, quantidade de animais naquele pasto, como está o ciclo da forrageira, como está a quantidade de quilos de ração que um vaqueiro colocou no cocho, […] e começa a amarrar essas informações, começa a dar uma correlação de possibilidades de resultados […]. A inteligência artificial começa a aprender com os dados, olhando o passado, e começa a tentar predizer o que vai acontecer para ajudar no resultado como um todo”, explicou.
De acordo com Breno, a tecnologia facilita a rotina porque transformar dados que podem ser difíceis de ser interpretados em informações que podem ser assimiladas de modo mais didático.
“A Lore, nossa inteligência artificial, começa a pegar a quantidade, o tamanho do lote que tem no pasto, o peso médio desses animais, quantas vezes o vaqueiro vai lá naquele lote e coloca uma determinada quantidade de ração no cocho e começa a predizer quando vai faltar comida naquele cocho. Ela avisa para o vaqueiro ou para o pecuarista quais são os pastos em que está faltando comida ou que vai faltar amanhã, dali a dois dias. […] Então a gente consegue atuar direto na rotina da fazenda e aí, consequentemente, é importante para melhorar o resultado final do pecuarista”, ilustrou.
+ Conheça a Lore, a inteligência artificial da PRODAP
+ Software indica ponto de abate do boi confinado com 30 dias de antecedência
Um exemplo prático de propriedade que está melhorando a gestão e os resultados vem do interior de Goiás, onde o pecuarista Ricardo Espírito Santo, diretor da Fazenda Bom Sucesso, localizada em Goianápolis, está implementando com sucesso a inteligência artificial dentro da porteira.
“Eu sempre gostei muito de ter informações e buscar as novidades, e quando apareceu essa questão de desenvolvimento da Lore, eu fiquei entusiasmado porque vi que ela me dava muitas informações que eu necessitava. […] Essa ferramenta ainda está em desenvolvimento, mas o que ela oferece hoje já é algo extraordinário para quem precisa fazer gestão das suas propriedades, tanto essa gestão à distância como para quem já está dentro da propriedade mesmo. […] Eu sei exatamente o que está se passando na minha fazenda no sul do Pará também e quando eu estou fora, quando estou na atividade empresarial, eu fico sabendo o que está acontecendo nas fazendas. Isso é uma informação que você tem em tempo real e de forma precisa”, aprovou.
+ Não pode sair de casa? Veja 5 pilares da gestão à distância de sua fazenda
O pecuarista ilustrou como a inteligência artificial atua na propriedade, aproveitando a ronda dos vaqueiros em diversas áreas da fazenda para registrar informações que serão interpretadas pela plataforma para ajudar nas tomadas de decisão. O campeiro coleta por meio de um smartphone dados sobre altura de capim, condição de pasto, leitura de cocho, consumo de suplementação e condições sanitárias, por exemplo, para que isso seja interpretado pelo sistema e se torne a base da tomada de decisão.
“Então ela te dá uma série de informações. Uma curiosidade também interessante é que você sabe que um dos indicadores que demonstram que os animais estão sendo bem nutridos ou não indicadores é o escore de fezes. Então o vaqueiro vai no pasto e naquele lote de gado ele fotografa as fezes dos animais e coloca no aplicativo. Então na mesma hora você vê todas essas informações, informações que são coletadas naquele momento, naquele local, e elas são coletadas pelo celular sem a necessidade de internet. O vaqueiro chega até o escritório, até a sede da fazenda com esse celular, automaticamente o celular sincroniza no computador e o pecuarista recebe essa informação”, detalhou o passo a passo.
+ Como avaliar as fezes no confinamento de gado e o que cada escore indica?
Conforme destacou Cerqueira, ao invés de substituir, a tecnologia promove a inclusão social do vaqueiro, fornecendo informações que podem transformá-lo em um verdadeiro gestor da pecuária. “É interessante que esse conhecimento todo fica na palma da mão do vaqueiro […] e é por isso que a gente fala que ele deixa de ser um mero vaqueiro vira um gestor, porque a gente começa a enviar informação para ele no momento certo para ele tomar uma decisão ou seguir uma sugestão que vai melhorar o resultado da fazenda”, sustentou.
No vídeo a seguir é possível assistir a entrevista completa com Breno Cerqueira e Ricardo Espírito Santo: