Zootecnista há 30 anos, Tavinho relembra momentos marcantes da seleção do Zebu

Formado em 1991 pela Fazu e jurado da ABCZ, Otávio Batista Oliveira Vilas Boas comentou as transformações do perfil do zebuíno ideal para a pecuária brasileira

São três décadas completas desde sua formação na turma de zootecnia 1991 da Fazu, as Faculdades Associadas de Uberaba, e muita experiência como jurado de gado zebuíno em eventos chancelados pela ABCZ, a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu. Nesta quarta-feira, dia 05, o Giro do Boi levou ao ar entrevista com Otávio Batista Oliveira Vilas Boas, o Tavinho, rosto conhecido nas pistas de julgamentos bovinos por todo o país e até no exterior.

Tavinho relembrou alguns dos momentos que marcaram tanto a sua trajetória, que em certa parte se confunde com a evolução da seleção genética do Zebu brasileiro.

Para o jurado, infelizmente, um dos momentos marcantes é justamente o atual. De modo negativo, a pandemia de Covid-19 impactou a realização de eventos da pecuária por todo o país enquanto busca preservar a população da doença.

“Nós tivemos esse ano aqui no Parque Fernando Costa a Expoinel Minas e foi muito boa a exposição. O pessoal estava com muita vontade de trazer os animais, a peonada, você imagine, acostumada a sair todo dia para as exposições estão em casa já tem mais de um ano… Então foi uma época (início de fevereiro de 2021) que essa situação estava um pouco mais calma, mais tranquila. Mas aí veio essa confusão dessa segunda onda e Uberaba foi muito afetada, sendo que até hoje as pessoas estão passando por uma situação muito difícil aqui. Mas graças a Deus parece que os números estão melhorando. De todo modo, a ABCZ decidiu por bem, junto à prefeitura municipal e o governo do estado, não fazer Expozebu (presencial)”, comentou.

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Tavinho recordou como adentrou no mundo dos julgamentos de gado e como o padrão dos animais mudou deste então. “Na nossa época, na época em que eu estava me formando (início dos anos 1990), eu fui durante muito tempo auxiliar de julgamento. Então a gente sempre estava tentando se especializar nesta parte de julgamento, de exposição, de melhoramento genético. Você via os animais que eram premiados em pista e inclusive quando eu entrei, em um dos meus primeiros julgamentos, se julgava um animal com um modelo totalmente diferente de hoje. Antigamente era um animal que era um pouco mais pernalta, um animal mais alto, mais comprido, ainda tinha um pouco do resquício daquele animal que eles chamavam de moderno novilho de corte, que era um animal alto e comprido. E com o passar do tempo você vê que aquele animal, apesar de ser muito bonito, grande e pesado, era um animal que não tinha a mesma eficiência dos animais que a gente trabalha hoje”, ponderou.

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Hoje você tem um animal equilibrado, um animal que, além de tudo, também é muito pesado. Esse melhoramento genético trouxe para esse animal equilíbrio, diminuiu um pouco o tamanho, mas continua dando peso e com desempenho muito melhor em todos os quesitos de fertilidade, de funcionalidade, de desempenho. Então eu acho que a pecuária, a cada dia que passa, a gente se assusta com o grau do melhoramento. O pecuarista brasileiro é um expert no trabalho que ele faz”, reconheceu Tavinho.

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RECORDAÇÕES

Uma das fotografias que ilustrou a conversa mostra Tavinho ao lado de Arnaldo Borges, o Arnaldinho, ex-presidente da ABCZ, e Luiz Humberto, seu amigo pessoal. “Este foi um ano muito especial porque o Luiz Humberto é um grande amigo, hoje é um dos grandes amigos que eu tenho na pecuária. O Arnaldinho hoje é meu compadre, é padrinho do meu filho Lucas, e foi a primeira vez que nós julgamos juntos uma Expoinel, que foi uma exposição de respeito, foi muito bom. O Rômulo também foi um professor, um amigo e um grande professor que eu tive e até hoje eu tenho muitas referências desses dois como formadores da minha carreira”, destacou.

Tavinho (à esquerda na foto acima) recorda momento marcantes de sua carreira de 30 anos como zootecnista.

PROGRAMAS DE MELHORAMENTO GENÉTICO E A “BELEZA INTERIOR”

“Ontem a gente está fazendo um evento aqui em Uberaba, o Shopping D, que é o Shopping Diamantino, e a gente estava conversando justamente sobre isso. Eu acho que hoje é fundamental você trabalhar com melhoramento genético. Pouquíssimos criadores conseguem fazer um rebanho com eficiência, com qualidade se não tiver esse apoio do melhoramento genético. Eu acho que os programas de melhoramento genético hoje vieram trazer ao criador aquilo que ele não consegue enxergar dentro do animal. Do lado de fora do animal, o brasileiro é expert, o criador de Nelore e de Zebu, de modo geral, formou o maior rebanho do país no olho. Sempre foi no olho. Eles foram buscar essa gado na Índia, às vezes não tinha dado nenhum, não tinha referência nenhuma, e escolheram no olho. Eles trouxeram ao Brasil e selecionaram durante muitos anos esses animais pelo olho, pelo feeling, pela experiência. E hoje eu acho que os números vieram para dar um suporte ainda maior para você errar menos. Você tem condição hoje de escolher o seu animal, um animal que te agrada, um animal que vai agradar o seu cliente e, junto com isso, você tem um número que vai te dar uma consistência maior naquilo que você está tentando procurar para o seu rebanho e o rebanho dos seus clientes”, opinou.

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Como ilustração de sua constatação, Tavinho apontou para um lote de vacas filhas do touro Backup cujos embriões foram recentemente comercializados em um evento do qual participou. “Os animais são muito bem caracterizados, são bem conformados e com uma avaliação genética que atende ao comprador. Esse é um lote em que foi feita a venda de embriões no leilão da Guadalupe. O comprador deste lote tinha a garantia do fenótipo, você viu a maravilha que era esse lote de vacas, e também no genótipo tinha garantia das avaliações genéticas mostrando que elas eram altamente eficientes, que os acasalamentos iam nascer animais muito bem avaliados e com essa conformação, com acasalamento que for feito. Eu tenho certeza que a bezerrada vai ser show quando nascer, vai contribuir bastante”, projetou.

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O jurado também observou que acredita que assim como os programas de melhoramento genético se estabeleceram como ferramentas quase indispensáveis para a formação de um rebanho de pecuária, a genômica será incorporada rapidamente a este processo.

“Eu acho que é uma ferramenta que veio para ficar e não tem volta. A gente tem ainda pouca experiência[…] Eu acho que a gente ainda tem pouca experiência principalmente no zebuíno. A gente vê que na raça Holandês a genômica hoje é usada em 99% dos touros, eles são praticamente todos avaliados genomicamente. Os selecionadores do Holandês já estão coletando sêmen de bezerro em condição de produzir para fazer a avaliação genômica. E a avaliação genômica tem dado acurácia maior. A gente tem visto que os nossos animais jovens com avaliações genômica têm confirmado a sua qualidade e têm oferecido uma acurácia maior, uma garantia maior ao pecuarista para ele poder usar um touro jovem sem errar. Até porque hoje em dia acontece muito isso – você acha que um reprodutor é muito bom, muito bonito, tem uma avaliação genética boa porque a matriz de parentesco te traz essa avaliação genética dos pais e quando você usa esse animal efetivamente, você pode dar o azar de ele estar fora da curva e não te trazer o benefício que você quer. E a genômica vai confirmar isso mais fácil, você vai ter mais tranquilidade para isso. Você tem uma confiabilidade maior e uma certeza maior muito mais rápido”, sustentou.

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O zootecnista também reforçou a contribuição que outras raças Zebu além do Nelore pode oferecer para a pecuária brasileira. “A gente que trabalha com a ABCZ roda muito em todas as fazendas pelo Brasil inteiro. E eu já vi várias vezes cruzamento de Angus ou de outra raça europeia com Brahman e com Guzerá. O resultado é extraordinário. Eu acho que hoje é muito mais fomentado o Nelore pelo volume de animais. A raça Nelore hoje é uma raça com maior volume de animais em todo o Brasil, então por isso quando a gente fala, às vezes, em cruzamento, a gente sempre pensa no Nelore porque é onde você tem uma facilidade maior de ter as matrizes cara limpa. […] Mas eu te garanto que se você usar o Sindi, o Guzerá, se usar o Brahman, se usar Tabapuã e o próprio Gir (ficará satisfeito). Eu tive oportunidade de ter alguns animais Gir e ter um touro Braford na fazenda e teve um cruzamento de Gir com Braford e você não sabe o espetáculo que deu a produção!”, ressaltou.

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Pelo vídeo a seguir é possível assistir a entrevista completa com o zootecnista e jurado Otávio Batista Oliveira Vilas Boas, o Tavinho: