Salvação do Taquari vem de rio acima, do planalto pantaneiro

Giro do Boi entrevistou o engenheiro agrônomo Renato Roscoe, diretor executivo do Instituto Taquari Vivo, que busca por soluções para a restauração de um dos mais importantes rios do Pantanal

O Pantanal é a maior área alagada contínua do mundo. Grande parte deste status se deve ao rio Taquari. Ele é responsável por 36% da planície do bioma, que se estende por 15 milhões de hectares. Juntando planície e planalto, a área mais alta, o bioma soma uma área de 36 milhões de hectares. No entanto, há mais de 40 anos, esse importante curso d’água vem sofrendo com constantes assoreamentos e mudanças de cursos.

A solução pode vir da parte mais alta do rio, na área do planalto pantaneiro, segundo o engenheiro agrônomo Renato Roscoe, diretor executivo do Instituto Taquari Vivo. A entidade, formada por ambientalistas, produtores, empresários e pesquisadores, quer restaurar o rio. Para isso foram elencadas tanto soluções ambientais como para o fortalecimento da economia da região.

“A solução para o rio não possui nada fora do normal. É preciso fazer a lição de casa, através de boas práticas agropecuárias, como recuperação de áreas de pastagens degradadas. Também são necessárias restauração de áreas que são mais sensíveis, como das Áreas de Preservação Permanente (APPs) e das reservas legais para que o rio e seus afluentes sejam protegidos”, diz Roscoe.

A bacia do rio Taquari, no planalto, possui 2,8 milhões de hectares. Dessa área, 90% é tomada pela pecuária. Resolver os problemas ambientais dessa área, além de diminuir o problema das erosões do rio, também significa o retorno econômico da atividade nessa área.

“A erosão não é somente a física do solo, mas também é uma erosão financeira do pecuarista. Gradualmente, ele vai perdendo sua competitividade gradualmente com a degradação da sua pastagem”, diz Roscoe.

Raiz do problema

Diferente das demais bacias hidrográficas pantaneiras, a do Taquari é muito arenosa no planalto. A ocupação desenfreada nessa região, nas décadas de 1970 e 1980, levou a desmatamentos. Isso fez com que o processo de erosão fosse acelerado. E, assim, o rio passou a levar mais areia para as áreas mais baixas, na planície pantaneira.

Esses sedimentos forçaram mudanças de cursos muito profundas no Taquari, com a criação de canais alternativos, chamadas de arrombados. O principal desses arrombados foi o chamado Caronal, iniciado na década de 1990. Ele causou a inundação permanente de uma área de 650 mil hectares.  

“O arrombado do Caronal começou com cerca de 4 metros de largura, em 1996, e hoje ele tem 120 metros de largura. Todo o rio Taquari hoje verte para esse lado, que fica na margem direita do rio”, diz Roscoe.

A mudança trouxe prejuízos ambientais e econômicos para a época. De um lado, 150 quilômetros do rio ficaram secos e, do outro, inviabilizou a vida e a economia por conta da inundação. “Estamos falando de umas das regiões que era a mais produtiva da bacia pantaneira, a região do Paiaguás, com fazendas muito boas”, diz o diretor executivo do Taquari Vivo.

União pela restauração

Criado em 15 de março de 2021, o Instituto Taquari Vivo busca unir esforços da iniciativa privada, do poder público e da própria sociedade civil para trazer de volta à vida o rio, o meio ambiente e a própria produção pecuária.

O objetivo da entidade é servir como um fio condutor desse processo de restauração, para que sejam definidas ações de Estado, para que o trabalho não acabe ou recomece conforme vão e vêm os governos. Além disso, o apoio do pecuarista será mais do que essencial, segundo Roscoe.

“Nós entendemos que a restauração ambiental do Taquari só acontece se nós tivermos a reestruturação da produção. Ela tem de estar junto e viável para que consigamos proteger o meio ambiente”, diz Roscoe.

Metas para a próxima década

Dentro de trabalho de ação proposto pelo Instituto Taquari Vivo estão:

  • 1.250 propriedades assistidas, que abrangem 94% das áreas mais críticas, em Mato Grosso do Sul;
  • 500 mil hectares de pastagens recuperadas;
  • 20 mil hectares de vegetação nativa restaurada;
  • 1.000.000 de toneladas de CO2 equivalente sequestrados pela vegetação nativa e pastagens recuperadas;
  • 100 assistentes técnicos treinados.

Confira no vídeo abaixo a entrevista na íntegra: