Morte súbita de gado no Pantanal pode ter sido causada por plantas tóxicas ou botulismo

Cerca de 40 cabeças vieram a óbito no caso que aconteceu no Pantanal da Nhecolândia, em Corumbá-MS; veterinário deu dicas para evitar a situação

Uma notícia que viralizou nas redes sociais nos últimos dias deixou pecuaristas pantaneiros em alerta. Em fevereiro foi constatada a morte súbita de cerca de 40 cabeças de gado numa região conhecida como Nhecolândia, no município de Corumbá, no Pantanal de Mato Grosso do Sul. Os animais apresentaram sintomatologia nervosa depois de terem pousado num piquete infestado por plantas daninhas tóxicas e beberam água suja e parada de lagoas, que são comuns na região, que é a maior área alagável do planeta. O caso foi informado à Iagro, a Agência de Defesa Agropecuária Animal e Vegetal de MS e também ao técnico do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Andrew Vitório, médico veterinário que concedeu entrevista ao Giro do Boi desta quinta, dia 11.

“A notificação (do caso) foi realizada por mim em 19 de fevereiro. Eu fui à fazenda com o proprietário, ele me relatou essa ocorrência nos animais. Esses animais saíram de uma fazenda e seguiam em comitiva até o destino em Rio Verde de Mato Grosso-MS e, ao pousar na fazenda do pecuarista que me chamou, esses animais dormiram em um piquete infestado por várias plantas tóxicas, entre elas o fedegoso, a guanxuma, malva-branca. Essas eram as plantas existentes no piquete onde os animais dormiam. E, nessa comitiva, esses animais pousaram em outras fazendas e essas fazendas, como teve um período chuvoso aqui no Pantanal, tiveram a formação de várias lagoas, várias poças de água se acumularam. Então se suspeita muito do botulismo, que essas chuvas tenham levado resto de matéria orgânica vegetal como animal para essas lagoas e poças de água e esses animais possam ter ingerido essa água e ter ocasionado botulismo hídrico”, disse o veterinário, listando as duas causas mais suspeitas para a morte dos bovinos.

Formações de lagoas e poças, típicas do Pantanal, podem ter sido causa da morte do gado por conta de toxinas presentes na água.

“40 animais haviam chegado a óbito. Numa tentativa meio que sem esperança, a gente começou a medicar alguns e vários animais já estavam deitando. 30 animais foram deitando e todos com a sintomatologia idêntica. […] De início, já conversei com o proprietário, falei que seria o caso de notificar a agência de defesa, no caso a Iagro. Eu entrei em contato com o escritório da agência em Corumbá, formei o caso e foram tomadas providências,” relembrou Vitório.

Uma das providências foi chamar um profissional para que a necrópsia fosse realizada. “(A fiscal da Iagro) entrou em contato com o professor Ricardo Lemos, da UFMS em Campo Grande (capital do estado). Ele é um grande especialista […], se dispôs a vir e foi uma verdadeira jornada até chegar à fazenda. Eles vieram em vários carros, que quebraram, fomos socorrer na estrada através de comunicação por rádio… Foi uma luta incansável até ele chegar na fazenda. Chegando à fazenda, ele pousaram e no outro dia de manhã cedo a gente realizou a necrópsia de três animais, dois mais jovens e um sinuelo, mais adulto. […] Morreu gado de todas as idades”, informou.

O problema atingiu animais de todas as categorias, machos e fêmeas, animais jovens e adultos, conforme observou Andrew. “A proporcionalidade geralmente vem de acordo com a ingestão da toxina. No caso do animal mais jovem, um garrote, ele vai beber de 10 a 15 litros de água, no caso de a causa ser o botulismo hídrico. No caso de um sinuelo, são 40 a 60 litros de água ingeridos. Assim como também a quantidade de matéria orgânica ingerida, se a ingestão de planta tóxica for a causa, é proporcional. Então essa toxina pegou de animais jovens até sinuelos, proporcionalmente, todas as categorias”, frisou.

Plantas daninhas tóxicas estavam presentes no piquete onde boiada pousou em meio a comitiva

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Conforme revelou o veterinário do Mapa, as duas causas – ingestão de plantas tóxicas e botulismo hídrico – seguem como suspeitas pela morte súbita. “Em relação ao laudo, o que eu posso falar é que eu entrei em contato com o professor Ricardo Lemos na última segunda-feira (08) pela manhã e ele me falou que, infelizmente, os resultados das análises foram inconclusivos. […] Não é que não seja botulismo, mas não foi possível identificar botulismo nas amostras enviadas. As amostras levadas foram coletadas em órgãos, tecidos, conteúdo ruminal, tudo da forma mais adequada possível. Nós tivemos o suporte da Polícia Militar, que disponibilizou um avião até a fazenda mais próxima para levar o professor com as amostras. Nós fizemos de tudo, mas infelizmente as amostras foram inconclusivas. O professor falou que não descarta nenhuma possibilidade, mas a única causa que podemos descartar é raiva. Isso conseguiu ser identificado, a amostra foi bem processada e raiva foi descartada como causa das mortes”, especificou.

“Então o professor (Ricardo Lemos) vai fechar um diagnóstico e enviar esse laudo para a Iagro. A Iagro vai analisar e vão ser divulgadas as possíveis causas que podem ter acometido esses animais”, acrescentou.

O veterinário recomendou que os pecuaristas fiquem alertas para diminuir as chances de ocorrência similar daqui para frente, uma vez que os bovinos dependem 100% do cuidado do ser humano para que se mantenham saudáveis. “Os animais são irracionais […] e totalmente dependentes do que o ser humano proporciona no meio ambiente para ele poder sobreviver. A água disponibilizada, os piquetes infestados, o manejo desses animais é realizado por nós. Então os bovinos são suscetíveis ao que nós oferecemos. Por isso o proprietário tem que ter consciência que a propriedade precisa de invernadas limpas, piquetes limpos, aguadas nas invernadas, as pilhetas, como são chamadas aqui no Pantanal… Elas têm que estar limpas, com manutenção adequada, evitar acúmulo de água suja, evitar poças de água. Só que, no Pantanal, como tem as lagoas, que é uma coisa tradicional, a única maneira de prevenir o botulismo seria a vacinação”, concluiu.

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Confira no vídeo a seguir a entrevista completa com o veterinário Andrew Vitório: