Meu gado tem lesões de pele na cara, pescoço e barbela. O que pode ser e como tratar?

Veterinário adiantou que rebanho de produtor em MG pode estar sendo acometido por dermatofilose ou dermatofitose bovina e deu dicas de diagnóstico e tratamento

O Giro do Boi Responde desta segunda, 31, atendeu um “pedido de socorro” vindo do pecuarista José Wolney Marocco, que tem propriedade em Bicas, no estado de Minas Gerais.

Ele disse em sua mensagem enviada ao programa “Já tentei solucionar o problema que acomete meu rebanho (25 vacas tabapuã) com três veterinários da região, sem sucesso. […] Conforme mostram as fotos anexas, meus animais apresentam, há alguns meses, lesões na pele. Elas começam com pequenos pontos pretos que vão aumentando, formando manchas, cordões pretos e, em alguns casos, abrem feridas e sangram. As lesões ocorrem principalmente na cara, pescoço e barbela. Já usei oxitetraciclina, mas sem resultado. […] Pulverizei com iodo e com sulfato de cobre durante semanas, o que inicialmente foi animador, pois as lesões sumiram, mas depois voltaram. E estou nesta luta, vai e volta. Resolvi começar a descartar alguns animais mais suscetíveis, que se contaminam mais, mas fico apreensivo porque a reposição está muito difícil e cara. Não há animais da mesma qualidade disponíveis na região. Foi feita uma autópsia cujo resultado deu sugestão de contaminação por “Dermatophilus congolensis“, mas desconfio do exame porque o laboratório sumiu com as amostras e depois de algum tempo enviou o resultado”, detalhou Marocco.

Para atender o complexo caso do produtor rural, o Giro do Boi consultou o médico veterinário e professor Guilherme Vieira, criador das plataformas Farmácia na Fazenda e do Semiconfinamento.com.br. Vieira disse que conversou com uma junta de colegas veterinários para chegar aos possíveis diagnósticos e soluções para o caso do pecuarista mineiro.

“Eu tenho algumas suspeitas clínicas, consultei também outros colegas professores e também alguns colegas veterinários de campo, que têm bastante experiência no trato diário, e nós chegamos a duas conclusões. Essas lesões como as apresentadas nas fotos enviadas pelo seo Wolney nos sugerem duas doenças: ou pode ser a dermatofilose bovina ou a dermatofitose bovina pelos indicativos das lesões, que nos levam à conclusão. Nós não podemos chegar a uma conclusão exata porque não nos foi enviado o exame, e deve ser feito sempre o exame raspado cutâneo nesses casos”, ponderou Vieira.

O veterinário, então, detalhou cada uma das doenças que podem estar acometendo o rebanho do pecuarista de Bicas, Minas Gerais.

DERMATOFILOSE BOVINA

“Vamos aproveitar a oportunidade e alertar não só os produtores, mas os colegas veterinários de campo sobre a lesão da dermatofilose bovina, porque é uma doenças que às vezes passa despercebida, mas que tem grande disseminação num rebanho e pode levar à morte dos animais. A dermatofilose bovina é uma doença também chamada de esporotricose cutânea dos bovinos. É uma doença de origem bacteriana causada pela bactéria Dermatophilus congolensis, que é uma bactéria gram positiva do gênero Actinomicetos. Essa bactéria penetra justamente na pele dos animais, principalmente os animais mais jovens, mas pode acometer também animais erados. E devido também à imunossupressão e outros fatores”, esclareceu.

CAUSAS

“As causas são diversas. Ela ocorre principalmente nos períodos chuvosos, de longa duração de chuva, onde os animais também têm acesso a uma vegetação grosseira. Alguns trabalhos apontam também os capins de porte alto, do tipo braquiarão, e também uma alta infestação de carrapatos e por moscas. Tudo isso leva à imunossupressão dos bovinos, já que alguns autores apontam que essa bactéria é oportunista. […] Esses animais são acometidos por uma infecção e ela progride em seu corpo. Ela atinge a região da cabeça, da barbela e do pescoço”.

SINTOMAS

“Essa doença acomete a epiderme desses animais, causando lesões crostosas e pustulares. E chega a até ter uma hiperplasia dessas lesões. Os animais podem apresentar febre, já que é uma infecção bacteriana, os bovinos ficam prostrados e pode levar, caso não tenha tratamento adequado, à morte, principalmente os bezerros que estão imunossuprimidos”.

DIAGNÓSTICO

“O que o colega veterinário, ao se deparar com essa lesão, pode organizar? Primeiramente ele deve fazer uma prova sorológica para fechar o diagnóstico com um hemograma e também as provas sorológicas GGT e AST. Os colegas sabem o que é isso. E também fazer o raspado cutâneo. O raspado cutâneo é um exame extremamente simples no qual ele faz um raspado da pele, da lesão, e leva a um microscópio, num laboratório, e então ele vai saber exatamente se tem presença ou não do ectoparasita – no caso, um fungo. Caso dê negativo, ele tem que fazer o raspado destas lesões crostosas presentes na pele dos animais para fazer o exame histopatológico ou citológico. Fazendo esse exame citopatológico e histopatológico, ele vai identificar os filamentos e também as lesões características causadas pelo Dermatophilus congolensis e aí fecha o diagnóstico. Caso dê negativo, é interessante também fazer uma cultura bacteriana. Isto é o que a gente pode falar da dermatofilose bovina, que é uma doença altamente contagiosa e que tem sérios efeitos, principalmente no desenvolvimento dos animais. E, às vezes, ela passa totalmente despercebida, tanto pelos produtores quanto também pelos colegas veterinários.

DERMATOFITOSE BOVINA

“A outra doença que nos sugeriram as lesões apresentadas na foto foi a dermatofitose bovina. Essa, sim, uma doença causada por um fungo, o Trichophyton verrucosum, que é o agente causal. Ele pode também estar associado à alta umidade do ambiente, e apresenta lesões circunscritas, lesões mais leves. Em cavalos, se apresentam aquelas lesões circunscritas esbranquiçadas, que o pessoal coça, dá uma raspada e sai aquele pózinho da pele do cavalo, que o pessoal fala que é uma micose de pele. No bovino, apresenta a mesma coisa, uma lesão mais superficial. O exame diferencial é o raspado cutâneo, que acaba demonstrando a presença do fungo”.

“No caso do seo Wolney, de Bicas, em Minas Gerais, depois de debater com vários colegas – e também gostaria de agradecer vários colegas de Universidade de São Paulo e de Brasília que nos ajudaram a elucidar esse diagnóstico – pelas fotos que ele nos enviou e pelo tipo de lesão apresentada, nós chegamos à conclusão de que pode ser indicativo de dermatofitose, ou seja, por uma infecção por fungos, já que não apresenta lesões pustulares e crostosas que caracterizam a lesão pela dermatofilose bovina”, opinou o veterinário.

TRATAMENTO

“Seria interessante fazer a remoção dessas crostas e fazer durante cinco dias uma lavagem com hipoclorito de sódio a 10%, ou então clorexidina. Peça para manipular em uma farmácia de manipulação, fazendo cinco dias seguidos a aplicação em todos os locais, e também repetir na segunda semana. E em ambos os casos, mas mais indicado para a dermatofilose, um colega veterinário pode prescrever uma antibioticoterapia, que vai de acordo com o que o colega preconizar”, recomendou.

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A resposta completa de Guilherme Vieira ao pecuarista de Bicas, em Minas Gerais, pode ser vista pelo vídeo a seguir: