É mais fácil dar mastite com ordenha manual do que com a mecânica?

Telespectador de Campina Verde-MG enviou dúvida durante entrevista com médico veterinário especialista; confira as causas, prejuízos, tratamentos e prevenção do problema

A mastite é um dos mais comuns problemas de ordem sanitária inerentes às fazendas de gado de leite. “É um problema que se nós tivermos uma fazenda leiteira, provavelmente nós vamos ter mastite dentro dessa fazenda. É algo que acontece corriqueiramente. Não é desejável, mas é algo que realmente ocorre nas fazendas leiteiras”, ponderou em entrevista ao Giro do Boi desta quarta, dia 24, o médico veterinário e gerente de produtos de ruminantes da MSD Saúde Animal, Henderson Ayres.

Em sua participação no programa, o especialista falou sobre as causas, prevenção, tratamento da infecção e também respondeu a dúvida de um telespectador, o Thiago Miranda, de Campina Verde, município de Minas Gerais, que por Whatsapp perguntou se vacas que passam por ordenha manual com bezerro ao pé, e após a ordenha esse bezerro fica solto com a mãe, estão menos suscetíveis à mastite em comparação com as vacas que passam por ordenha mecânica sem o bezerro ao pé.

O veterinário explicou que, de modo geral, fazendas que usam a ordenha mecânica estão mais avançadas nas técnicas de prevenção, mas que a opção entre o manejo manual ou mecânico em si não interfere na susceptibilidade à mastite.

“A exposição é semelhante entre um animal que vai ser ordenhado manualmente ou vai ser ordenhado com ordenhas mecânicas. […] A gente pode falar que existem duas formas de mastite clínica, uma chamada de contagiosa e outra ambiental. A ambiental seria aquela que (a vaca) pega no ambiente. As vacas estão num mesmo ambiente, seja ela com bezerro ao pé ou não. As vacas a pasto estão expostas ao mesmo risco. Pensando na contagiosa, é uma que ocorre quando a mastite passa de um animal para o outro. Isso normalmente acontece durante a ordenha. E acontece independente de ser equipamento (mecânica) ou a mão do ordenhador, em ambos os casos a infecção pode ser transmitida. Em geral, quando se tem ordenha mecânica, os produtores já têm algumas técnicas com as quais eles fazem um pouco mais de prevenção. Em geral, quando nós temos a ordenha manual, algumas prevenções acabam ainda não ocorrendo, mas elas podem ser feitas dentro da fazenda e a gente prevenir tanto quanto. Então vou dizer para você, é muito semelhante tanto numa técnica de ordenha quanto na outra”, esclareceu.

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CAUSAS DA MASTITE

“A mastite é um processo inflamatório. O processo inflamatório pode ser desencadeado por diversos fatores. Em geral, o fator que mais causa mastite são agentes infecciosos e os principais agentes infecciosos são as bactérias. […]

PREJUÍZOS

“Como consequência, a gente tem um processo de inflamação e, com isso, a gente vai ter uma alteração do leite porque a glândula não está mais normal e o leite se altera. E o leite se alterando, ele acaba não sendo mais um leite bom para o consumo ou para a produção de lácteos, seja iogurte, queijos, todos os lácteos que nós imaginarmos. Com isso a gente acaba tendo prejuízo direto, porque esse leite não pode mais ser usado, e também nós vamos ter alguns prejuízos indiretos. Quando pensamos em prejuízos indiretos, podemos exemplificar que uma vaca que tenha tido mastite, a produção leiteira cai e ela não consegue depois voltar ao mesmo nível de produção. Outro ponto é que nós estamos alterando todo esse animal e ele não está no melhor bem-estar dele. A vaca não vai conseguir desempenhar com todo o potencial de produção. Então a gente também tem que se preocupar com isso, são vários fatores desencadeados, tanto antes de o animal vir a ter a mastite, durante a infecção e após o tratamento. É algo muito preocupante realmente que a gente tem dentro da produção leiteira”.

A VACA PODE DEIXAR DE PRODUZIR LEITE?

“Podemos chegar a esses casos extremos. Isso pode acontecer se, por acaso, por algum motivo nós demorarmos para, identificar e tratar esse animal. Aí o processo pode estar tão adiantado que a gente pode até chegar num processo no qual a gente não tem mais produção leiteira daquele quarto (teto), existem até mesmo algumas formas de tratamento que chegam num certo nível que, popularmente, a gente fala que precisa ‘matar o quarto leiteiro’ porque nós não conseguimos mais reverter, e existem algumas técnicas para isso. […] Então se demorarmos, podemos chegar até este ponto, sim. É frequente, é normal? Não, porque graças a Deus os nossos pecuaristas produtores leiteiros estão muito atentos e tentam tratar a vaca o mais rápido possível”.

ATENÇÃO PARA NÃO PERDER TODA A PRODUÇÃO DIÁRIA OU TER QUE PAGAR O TANQUE

“O que nós indicamos quando se identifica um um animal infectado? Este leite acaba sendo descartado, porque se a gente identificar que o animal que está doente, nós vamos fazer o tratamento e os tratamentos normalmente estão relacionados ao uso de antibióticos. O antibiótico vai dar resíduo no leite, então esse leite deve ser descartado. Nós temos que tomar o maior cuidado porque se por acaso esse leite não for desviado do tanque, aí a gente vai estar contaminando todo o leite do tanque e vai ter um grande problema, que vai ser realmente o descarte de todo o tanque. Em alguns casos, inclusive, quando se recolhe o seu leite, e esse leite está com resíduo de antibiótico e ele cai no tanque no caminhão, o pecuarista tem que pagar esse tanque como um todo. Por isso a gente fala que a gente tem que descartar o leite dessa vaca, não deixar nem ir para o tanque para não aumentar ainda mais os prejuízos. A gente precisa realmente pensar em remover esse leite”.

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CUIDADO COM A MASTITE SUBCLÍNICA (ASSINTOMÁTICA)

“Tem mais um ponto. A gente está falando muito da mastite clínica, mas tem a mastite subclínica, que a gente não consegue identificar a olho nu. Essa é a pior porque é aquele animal que você não sabe que tem dentro da fazenda. Eu comparo com um cano furado dentro da sua parede, que você só vai descobrir que o cano está furado o dia que o reboco ou a parede cai. E quando isso acontece, o prejuízo já é muito maior.

PROTOCOLO DE TRATAMENTO

“Quanto a protocolo, vamos pensar em um protocolo durante a lactação. Quando eu identifico uma vaca com mastite, a infecção pode ter diferentes causas, diferentes graus e com isso a gente acaba podendo ter diferentes tipos de tratamento. Como eu oriento o produtor neste caso? Procurar uma ajuda técnica. A MSD tem diversos consultores da empresa que prestam esse serviço de auxílio ao produtor para poder ajudá-lo a saber como tratar melhor os animais. A gente vai ter diversos protocolos, diversas linhas de trabalho e de estudo nisso. […] Pensando em tratamento, eu digo para procurar um médico veterinário, seja da cooperativa, da fazenda, procurar os consultores da MSD que podem auxiliar nisso, eles são totalmente treinados para poder ajudar na parte de tratamento quando já temos mastite na fazenda”.

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PREVENIR É O MELHOR REMÉDIO

“A prevenção sempre é o melhor caminho porque depois que a mastite entrou na fazenda, o prejuízo já veio. O que a gente pensa como prevenção? Você ter um bom bem-estar dos seus animais, porque o animal com bem-estar é mais saudável, tem que pensar em fazer um tratamento na categoria que a gente chama de vaca seca, que é usar um produto específico para o período seco, um selante que não deixa as bactérias entrarem (no teto), e usar medicamentos neste momento do período seco que realmente têm uma alta eficácia. Se nós conseguimos executar este plano de bem-estar animal, um bom protocolo de secagem, nós vamos conseguir prevenir bastante a mastite durante o período de lactação. E durante o período de lactação, nós devemos manter o ambiente confortável para o animal, o mais limpo possível, usando técnicas de ordenha com as quais a gente tenha a maior higiene possível. Se a gente conseguir aplicar este tipo de protocolo que a gente chama de preventivo, nós conseguimos ajudar muito já o produtor de uma forma razoavelmente simples. Então eu diria que a melhor (forma de combater a mastite) seria realmente a prevenção”.

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Confira a entrevista completa com o médico veterinário e gerente de produtos de ruminantes da MSD Saúde Animal, Henderson Ayres:

Foto: Reprodução / Embrapa