Caçador de tempestades: conheça a história e as lições de Amyr Klink

Conheça a vida de Amyr Klink, que deu os primeiros passos criando gado e cuidando de lavoura no interior do RJ e tornou-se um dos navegadores mais expoentes de todo o mundo

O Giro do Boi desta segunda, 30, recebeu um convidado especial: o navegador brasileiro e projetista de embarcações Amyr Klink, a primeira e única pessoa a cruzar o Atlântico Sul a remo desde a costa da Namíbia, no continente africano, até a costa brasileira, no estado da Bahia, no ano de 1984. Além das lições de disciplina, planejamento e dedicação aos projetos complexos de voltas ao mundo, Amyr relembrou em conversa com o apresentador Mauro Sérgio Ortega o início de sua vida profissional, justamente no campo, plantando e criando animais.

“Comecei a vida profissional no campo. Criava vaca de gado leiteiro, girolando. Não deu certo, então passei a criar búfalo. Foi uma grande escola para o que eu acabaria fazendo, que é construção e gestão de embarcações”, lembrou.

Em certa ocasião, durante a Festa do Divino, em Parati-RJ, o navegador lembrou que chegou a domar bois e búfalos para o transporte de doações aos mais pobres, uma tradição da festividade. “Era uma tradição. O carro era formado por bois que vinham do Vale do Paraíba e eu falei ‘não, nós vamos usar bois daqui’, então aprendi a amansar bois. Deixava desde bezerrinhos acostumando com a canga, no final amansamos quatro juntas de búfalos jafarabadi. Eles são bonitos, fizeram um sucesso no meio da cidade aqueles bois pretos enormes”, contou Amyr, que além de criar animais já trabalhou com o plantio de feijão, fumo e milho em Parati, no estado do Rio de Janeiro.

DO CURRAL PARA O VELEIRO

Na época em que criava gado, sem muitos recursos, Amyr precisou construir um curral e achou no bambu um material barato e flexível. O problema eram os búfalos, fortes o suficiente para derrubar a estrutura. No entanto, o trabalho lhe deu a ideia de usar o conceito da madeira para a construção de embarcações.

“Aprendi muito no campo a ter o olhar simples. Quando comecei a mexer com gado em Parati, lá não é Ribeirão Preto, Mato Grosso ou Mato Grosso do Sul, é precário. Não tinha dinheiro pra fazer um curral de Ipê, então começamos a trabalhar com bambu. É flexível, mas o búfalo é danado, levanta com a cabeça até cinco fios de arame. Mas eu adorei o conceito do Bambu e o Parati II, apesar de ter sido construído há de 15 anos, é considerado o veleiro mais moderno do mundo. É claro que eu uso fibra de carbono no mastros, não é bambu, mas é o conceito. É o olhar simples que vale, mas que de tão simples se torna extremamente confiável”, ensinou o navegador.

De sua época de produtor rural, Amyr afirma que a principal lição foi a valorizar a simplicidade. “Você tem que agir de acordo com a natureza ao invés de agir contra. Tem que ter muita sensibilidade e humildade para observar fenômenos e saber o tempo certo das coisas. No campo, é preciso muita dedicação e atitude cooperativa. Vivemos em um mundo em que o individualismo é grande e a gente ficou pouco tolerante, mas a vida no campo me ensinou a ser mais tolerante e fazer tudo junto”, filosofou.

CAÇADOR DE TEMPESTADES

Seguindo a filosofia de usar as forças da natureza a seu favor, Amyr revelou ao Giro do Boi que tornou-se um grande “caçador de tempestades”. O conceito começou a ser elaborado enquanto construía seu primeiro barco a remo para a travessia de 1984. Sabendo que outros navegadores haviam tentado uma travessia similar, no Atlântico Norte, e haviam perecido no caminho por conta do capotamento dos barcos, Amyr disse que tentava construir uma embarcação “à prova de capotamento”, mas que alguém lhe abriu os olhos e disse que fizesse um barco que pudesse capotar e lidar bem com o problema. E foi o que fez. O barco I.A.T., que hoje está em exposição em um museu no estado de Santa Catarina, capotou três vezes durante a expedição, mas pôde virar sem maiores problemas.

Em outras ocasião, sua esposa lhe abriu os olhos quando ele estava prestes a desistir da viagem por não conseguir navegar durante as tempestades. Então sua mulher lhe deu a ideia de navegar ao lado das tempestades, aproveitando o vento forte, mas fugindo dos centros de maior pressão. “Eu acabei me tornando um caçador de tempestades”, comparou.

PALESTRA A PECUARISTAS

Em sua entrevista ao Giro do Boi, além de relembrar de sua vida no sítio, Amyr Klink falou das expedições que o fizeram ser um navegador pioneiro na história mundial, como fazer a travessia do Atlântico Sul em 100 dias e 6 horas consumindo apenas 2,7 litros de água por dia para todas as necessidades. “Num lugar desse você descobre quem são seus provedores. São milhares de pessoas que você não remunera diretamente, nem agradece, não conhece ou cumprimenta, mas graças a eles você tem conforto. Aí você valoriza quando você é obrigado a cuidar do seu esgoto, produzir sua própria água, gerar sua energia, e enxerga quanta gente trabalha no silêncio. A grande escola da eficiência é a escassez. Ela ensina a gente”, frisou.

No dia 05 de dezembro, Amyr Klink estará na capital do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, para passar estas lições em palestra aos profissionais da pecuária de corte presentes no Encontro de Gestores – O Sucesso Deixa Rastros, um evento realizado pelo Inttegra (Instituto Terra de Métricas Agropecuárias) e a consultoria agropecuária Terra Desenvolvimento para apresentar dados de benchmarking de quase 300 fazendas no Brasil, Paraguai e Bolívia. As inscrições para o evento estão abertas e podem ser feitas neste link: www.melhoresdapecuaria.com.br.

Clique no player abaixo e veja a entrevista completa de Amyr Klink ao Giro do Boi: