Segundo o zootecnista Antônio Chaker, consultor mestre em produção animal e diretor do Inttegra, esta é definitivamente a pergunta que ele mais recebeu ao longo de mais de duas décadas de carreira. “O que é melhor: a cria, o ciclo completo ou a recria e engorda?”
Chaker respondeu à dúvida com os números levantados na última edição do Benchmarking, estudo que compara os resultados de centenas de fazendas no Brasil e em outros países da América do Sul, como Paraguai, Bolívia e Colômbia.
“O primeiro indicador, que nós chamamos de margem sobre a venda, é a receita total menos a despesa total dividido pela receita. […] A margem sobre a venda da cria foi 15,7%. A margem sobre a venda do ciclo completo foi 11%. E a margem sobre a venda de recria e terminação foi 23%. Então do ponto de vista de margem da arroba produzida sobre a venda, a engorda foi melhor”, informou.
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Mas este é apenas um lado do prisma que auxilia o investidor a obter sua resposta.
“E quando eu analiso um dos indicadores chave da atividade pecuária, que é o resultado por hectare ano – quanto dinheiro sobrou por hectare? As fazendas de cria na safra 2019/20 deixaram R$ 250,00 por hectare. As de ciclo completo deixaram próximo de R$ 210,00 por hectare. E as fazendas de recria e engorda, R$ 225,00 por hectare”, quantificou.
“Quando você analisa esses números, você pensa ‘eu sabia que era a cria!’. Mas eu tenho uma notícia para você: quando você faz uma análise mais profunda e estatística, nesse tamanho de banco de dados, R$ 210,00, R$ 225,00 ou R$ 250,00 são muito parecidos. Você não consegue diferenciar. Ou seja, é um empate técnico”, ponderou.
Por isso, Chaker buscou mais indicadores de desempenho para tornar a resposta mais concreta. “Aí as coisas começam a mudar a partir do momento que você analisa outros indicadores, que é o retorno sobre o investimento operacional”, continuou.
“Você tem gado na fazenda? Sim. Tem trator na fazenda? Sim. Usou dinheiro para comprar nutrição, sanidade, reprodução, pastagem, quitar folha de pagamento? Usou. Então eu tenho dinheiro, tenho gado e tenho máquinas. As fazendas de cria ganharam 6,5% sobre esse valor. As de ciclo completo 4,5% sobre esse valor e as de recria e terminação 5% sobre esse valor. Quando você analisa esses números, você percebe que, na média, há uma leve tendência de que em retorno sobre o investimento operacional e em R$ por hectare esse ano foi melhor para a cria. Mas neste ano. Perceba os valores muito próximos”, interpretou o consultor.
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A proximidade dos números, entretanto, diz respeito ao resultado obtido pela média dos produtores que praticam essas atividades. “Foi igual para a média. Mas vamos olhar os profissionais agora. […] Vamos analisar como os craques profissionais se comportaram”, convidou Chaker.
“A turma da cria gasta menos por cabeça que a turma do ciclo completo e que a turma da recria e terminação. Ou seja, na cria os melhores profissionais gastaram próximo a R$ 40,00 por cabeça ao mês. No ciclo completo, próximo a R$ 60,00 e na recria e engorda próximo a R$ 80,00 por cabeça ao mês. Então já mostro aqui que a turma da engorda gasta mais do que o ciclo completo e gasta mais do que a cria. Quando você tem esse crescimento, o que você percebe? Que a engorda está mais exposta ao risco do que a cria porque você gasta mais dinheiro. E a mesma coisa acontece de R$ por hectare, na mesma faixa”, detalhou o zootecnista.
“E quando eu vou analisar um fator decisivo, que é chamado reais por hectare ao ano, resultado por hectare ao ano dos top, olhe como mudou em relação à média. No caso da cria e do ciclo completo, as fazendas tiveram próximo a R$ 700,00 por hectare. No caso da recria e engorda, os craques foram para R$ 1.335,00 por hectare. Ou seja, quando eu analiso na média, todo mundo ganha igual por hectare. Quando eu analiso os melhores, a turma da engorda ganhou o dobro do que as demais”, salientou.
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“Porém isso, sozinho, não quer dizer que essa atividade foi simplesmente a melhor. Porque quando eu analiso a qualidade do uso do dinheiro, essas as fazendas ganharam mais por hectare, mas será que elas gastaram mais?”, indagou. “Sim, elas gastaram muito mais. E quando eu analiso o que nós chamamos de taxa interna de retorno, que é a eficiência do uso do dinheiro, a cria deu 1,8% ao mês, o ciclo completo 1,2% ao mês e a recria e terminação deu 1,8% ao mês”, esclareceu.
O consultor, então, disse que escolher entre cria, recria e engorda ou ciclo completa é questão de combinar a atividade com o perfil do investidor. “O que a gente pode concluir? […] Se você privilegia margem, se você quer segurança, você tem que estar na cria. Se você é arrojado, não tem problema nenhum em correr risco, você tem que estar na engorda porque a engorda deu maior resultado. Mas […] a turma da cria apenas 26% teve prejuízo na atividade. Quando você vê […] a turma do ciclo completo, já encontramos 37% com prejuízo. E quando eu analiso a turma da recria e engorda, […] você vai ver que quase 40% das fazendas de engorda tiveram prejuízo”, alertou.
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“Conclusão: se você está pensando em R$ por hectare, se você se sente seguro para pôr bastante dinheiro e se você realmente quer correr riscos, sem dúvida nenhuma, pra você, a recria e engorda vai ser a atividade mais recomendada. Agora se você prefere uma atividade em que o nível de desembolso é menor, onde o nível de margem tende a ser maior, onde a sua chance de ter prejuízo é menor, você certamente vai ter que optar pela cria. Lembro que o processo de ciclo completo fica no meio desse caminho, em que as fazendas de ciclo completo tiveram piores resultados na média, mas não porque o ciclo completo é pior, mas porque ele foi operado de forma mais deficitária. Enquanto os índices de cria e de recria e engorda são muito maiores nas fazendas específicas, quando você analisa esses índices no ciclo completo, a turma se perde um pouco e produz menos e por isso acabou não sendo destaque. Mas isso pode mudar se as fazendas de ciclo completo forem tão profissionais nos seus sistemas individuais quanto as outras forem”, encerrou o consultor.
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Assista esta edição do quadro Dicas do Chaker clicando no vídeo: