“Existem dois tipos de rebanho, o rebanho comum e o rebanho protegido”, disse ao Giro do Boi nesta segunda, 04, o vice-presidente executivo do Sindan, o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal, Emílio Salani. Ele falou ao programa sobre as mudanças na vacinação contra aftosa para 2020, um calendário que foi influenciado por dois fatores, principalmente: a evolução do PE PNEFA, o Plano Estratégico 2017-2026 do Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa, e a pandemia de coronavírus.
Para a maior parte do país, a etapa começou na última sexta-feira, dia 1º, seguindo até o fim do mês de maio, com algumas exceções. Mas entre as principais mudanças estão a antecipação da imunização no Rio Grande do Sul, que já vacinou cerca de 15 milhões de cabeças, e a agora teve a comercialização de novas doses proibida. Cada agência estadual de defesa sanitária animal fez também suas adaptações frente aos desafios enfrentados neste ano de 2020. No Mato Grosso, por exemplo, a vacinação começou uma semana antes, com o período sendo estendido por 45 dias ao invés de 30. Já no Mato Grosso do Sul, os pecuaristas puderam antecipar a compra das doses.
“Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) publicou nesta quinta-feira (30), no Diário Oficial da União, a Instrução Normativa nº 36, que proíbe a manutenção, comercialização e o uso de vacinas contra a febre aftosa no Rio Grande do Sul e no Bloco I do Plano Estratégico 2017-2026 do Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa (PE PNEFA), composto pelos estados do Acre e de Rondônia e por alguns municípios e parte de municípios do Amazonas e de Mato Grosso”, consta em notícia do site oficial do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Os municípios que estão economicamente vinculados aos estados do Acre e Rondônia e que também deverão suspender a vacinação contra aftosa já a partir desta primeira etapa da campanha nacional em maio são: Apuí, Boca do Acre, Canutama, Eirunepé, Envira, Guajará, Humaitá, Itamarati, Ipixuna, Lábrea, Manicoré, Novo Aripuanã, Pauini e parte do município de Tapauá, no Amazonas; e o município de Rondolândia e partes dos municípios de Aripuanã, Colniza, Comodoro e Juína, em Mato Grosso, de acordo com o ministério.
As regiões se juntam a Santa Catarina e Paraná como livres de aftosa sem vacinação. “É oficial. O ministério oficializou o que se chamou de vazio vacinal. São dois anos de trabalho fazendo-se todo um esforço de montagem, comunicação e auditorias para provar ao organismo internacional, que é a OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) que ele tem condições de retirar a vacinação”, disse Salani.
A pandemia de Covid-19 também trouxe alterações para os estados do Nordeste, exceto Bahia, especificamente para 2020. Alagoas, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe deverão vacinar seu rebanho a partir de 1º junho. A comunicação que comprova a imunização também sofrerá alterações.
“Para evitar a disseminação do novo coronavírus (covid-19), o ministério mudou os procedimentos de comprovação da imunização dos rebanhos contra a febre aftosa, para preservar a saúde dos produtores rurais e, também, do pessoal que trabalha no Serviço Veterinário Oficial (SVO). Conforme nota do Mapa, ‘não serão exigidas declarações de comprovação da vacinação que impliquem em comparecimento aos escritórios’. […] Assim, a Divisão de Febre Aftosa (Difa) do Mapa orienta que a comprovação da vacinação contra a doença deverá ser realizada, preferencialmente, por meio dos sistemas informatizados, correio eletrônico ou outras soluções a distância”, consta em comunicado da Agência Brasil.
“Evitando assim qualquer problema de aglomeração, ou seja, facilitando a vida do pecuarista, a sua ida até a loja, a não necessidade de fazer tumulto, aglomeração, obedecendo todas as estratégias adotadas pelas autoridades sanitárias. Dentro deste trabalho, o ministério alonga a possibilidade para que o Nordeste inicie sua vacinação em junho, flexibiliza a notificação da vacinação nas agências estaduais correspondentes”, reforçou o vice-presidente do Sindan.
Emílio reforçou que a retirada gradual da vacinação contra a aftosa deve ser acompanhada com o aumento da responsabilidade do pecuarista em garantir a sanidade do rebanho para demais doenças. “A aftosa colaborou demais para que a gente atingisse não somente o status sanitário em aftosa, mas o status sanitário de maneira geral porque esta compulsoriedade, esta obrigatoriedade de vacinação faz com que o fazendeiro aproveitasse estas oportunidades durante o ano para fazer outras intervenções”, disse Salani, exemplificando com a aplicação de vermífugos, vacinas clostridiais, brucelose, raiva, endectocidas e demais manejos peculiares dos programas sanitários de cada propriedade.
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Salani reforçou que o compromisso com a sanidade do rebanho é fundamental na manutenção e conquista de de novos mercados para a carne bovina brasileira, que deve retomar os embarques aos Estados Unidos depois de sofrer sanção, em 2017, por conta de reações da vacina contra aftosa nas carcaças. “Esta retomada de exportação para os Estados Unidos é a clara demonstração que esta vacina realmente caiu como uma luva para o nosso produtor”, comentou.
“Existem dois tipos de rebanho, o rebanho comum e o rebanho protegido”, frisou. “Vocês não vendem produto, vocês vendem um seguro sanitário”, disse Salani, citando frase do ex-ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Blairo Maggi.
“Nós estaremos iniciando o abate dos animais no final de 2020, e olha que informação interessante, que foram totalmente imunizados com a vacina de 2 ml, com óleo reduzido, sem saponina, principalmente informando o produtor que foram mantidas todas as características de potência, ou seja, de proteção do rebanho, proteção da vaca, do animal, e também a limpeza de proteína, que mostra […] que não há circulação viral no país”, assegurou.
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Salani revelou ainda que o Sindan, em um trabalho feito a “seis mãos” com CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) e o próprio Mapa lançarão em breve a campanha “João Vaca Brava”, que contará com vídeos e outros materiais de conscientização sobre as necessidades de cuidado com o produto, desde a aquisição, transporte até a vacinação em si. Os materiais serão divulgados pela internet e também distribuídos junto com doses das vacinas para febre aftosa.
O representante do Sindan tranquilizou também os produtores que buscarão vacinas para seu rebanho nos próximos dias quanto ao abastecimento de produtos, dizendo que os fracos estarão todos disponíveis para as revendas, sendo que 100 milhões de doses já foram disponibilizadas para o repasse aos pecuaristas e outros 80 milhões serão distribuídos ao longo de maio.
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Veja no vídeo abaixo a entrevista completa com Emílio Salani:
* Atualizada às 11h45.