Três dicas para melhorar a estação de monta em sua fazenda

Reprodução bovina: faturamento por hectare pode dobrar a partir do uso adequado de tecnologias. Veja na entrevista do professor Pietro Baruselli, da FMVZ/USP.

O Giro do Boi desta segunda, 9, recebeu ao vivo em seu estúdio o professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP), Pietro Baruselli. Em sua entrevista, o médico veterinário e pós-doutor em reprodução afirmou que é possível o criador dobrar seu faturamento por hectare ao ano ao utilizar tecnologias adequadas.

Mas, segundo o professor, o desafio é expressivo. O país deve sair de uma taxa de desmame média que está na casa dos 60% para chegar aos 85%. Já o peso médio dos bezerros (machos e fêmeas) à desmama precisa subir dos atuais 160 kg para 260 kg. “Usando as tecnologias, ele pode passar de um  faturamento de R$ 500,00 para R$ 1.000,00 ou até R$ 3.000,00 por hectare”, estimou.

De acordo com Baruselli, um dos principais fatores limitantes para melhorar os índices é a condição corporal das matrizes. “Quanto melhor a nutrição, melhor a condição do nosso rebanho. E sem sombra de dúvidas, quando o criador tem vacas com condição corporal baixa, aí sim é que ele tem que usar tecnologia”, recomendou o veterinário.

Para Pietro, o produtor deve se programar para aplicar protocolos de IATF mesmo em vacas com baixo escore corporal já no início da monta, o que permite uma eventual ressincronização caso a prenhez não seja confirmada. “Se não fizermos nada, a vaca não vai ovular nem emprenhar. Se o criador não faz nada com as vacas de baixa condição corporal, ela demora pra emprenhar, sua concepção atrasa, o nascimento atrasa. O resultado é que essa vaca vai sair da estação de monta, então mesmo com condição inadequada, a gente recomenda a IATF”, declarou.

IATF NO BRASIL
Pietro lembrou que a porcentagem de matrizes submetidas à inseminação artificial no Brasil hoje é de aproximadamente 10%. O número, embora esteja acima do que é aplicado nos EUA (entre 7% e 8%) e Austrália (entre 2% e 3%), tem potencial para ser ainda maior. “Os protocolos de IATF no Brasil são mais bem estudados para a nossa realidade e apresentam eficiência superior ao que tem na pecuária da Austrália e Estados Unidos. São vários fatores que contam, mas acredito que 10% é pouco para a realidade brasileira. Pelas vantagens econômicas da IATF, pelos benefícios, a tendência é ir aumentando seu uso para 20%, 30%, e otimizar o nosso sistema de cria”, previu o professor. Na Europa, a título de comparação, o uso de IATF em bovinos de corte chega a 60%.

COMPRA DE TOUROS
Baruselli aproveitou a entrevista para responder uma dúvida de um telespectador do Giro do Boi, enviada pelo Whatsapp (11 9 5637 6922). A pergunta veio do professor aposentado da FMVZ da Unesp de Botucatu-SP, Gilberto Pedroso da Rocha, e diz respeito à recomendação para compra de touros de repasse, hoje feita normalmente no segundo semestre do ano. Rocha questiona se não seria mais prudente passar a fazer a aquisição dos reprodutores no primeiro semestre para evitar o estresse e antecipar a adaptação destes animais.

Pietro Baruselli afirma que a mudança é benéfica. “Fisiologicamente os touros demoram dois meses para produzir e liberar espermatozoides. Qualquer estresse compromete a produção e a liberação de espermatozoides de qualidade. Então é recomendável comprar o touro antecipadamente, fazer o exame andrológico, aguardar sua adaptação e colocar na monta”, respondeu o veterinário, lembrando que 90% da reprodução da pecuária de corte brasileira são feitos com monta natural.

TRÊS DICAS
Ao fim de sua participação no Giro do Boi, Baruselli listou três dicas para o pecuarista aumentar a produtividade de seu manejo reprodutivo:

1 – Manter as vacas em boa condição corporal. “Isso vem do manejo do ano todo. Se elas estão neste momento com cria ao pé e baixa condição, já vamos ter uma relativa dificuldade. E se o pecuarista não aplicar tecnologia, aí sim vai ter vai ter diminuição da produtividade”, alertou Baruselli.

2 – Ter um projeto reprodutivo para a fazenda. “Estação de monta definida, programação de quando serão realizados os eventos reprodutivos desde a compra dos touros para repasse e/ou insumos para IATF, programar a fazenda para inseminação, ressincronização e pensar na logística do processo todo”, detalhou o professor da FMVZ/USP.

3 – Atentar para a fertilidade dos animais. Neste caso, Baruselli lembra que os pecuaristas prestam normalmente mais atenção às vacas do que aos touros. “A qualidade do sêmen dos touros de repasse vai ter reflexo no resultado do programa de reprodução”, reforçou.

Veja na íntegra a entrevista com Pietro Baruselli pelo vídeo abaixo: