“Eu não sei se é o melhor, mas com certeza um dos melhores”, disse em entrevista ao Giro do Boi o médico veterinário Luís Adriano Teixeira, gerente de contas estratégicas de corte para a América Latina da ABS Global, sobre o momento da pecuária brasileira. Nesta terça, 08, o profissional comentou os fatores que trouxeram até o contexto atual.
“Tem aquele velho provérbio que diz que se você acorda cedo e trabalha duro, um dia vão dizer que você teve sorte. Acho que é daí que vem este fator ‘sorte’ do Brasil. Mas, sem sombra de dúvidas, o setor do agronegócio como um todo, em frente à situação atual, desde fevereiro ou março para cá, está pontuando só números pujantes, nós sempre comparamos como a locomotiva do Brasil, mas hoje é mais do que nunca”, classificou Luís.
De acordo com o veterinário, com o problema da peste suína africana, ainda pré-pandemia, enfrentado pela China, um dos grandes consumidores de carne do mundo, e que se perpetuaram com disseminação da Covid-19, o Brasil despontou como fornecedor confiável em volume e qualidade.
“Realmente o brasil é quem estava preparado. Está preparado! E tem condições, qualidade e um produto acessível para atender este mercado. É por isso que eu falo de sorte, mas tem que ter um produto, ter qualidade, ser um grande player do mercado, ser O player do mercado de exportação para poder atender esta demanda. Com certeza, num curto espaço de tempo, no próximo ano ou dois anos a demanda ainda vai continuar forte, então é uma grande oportunidade para o Brasil”, projetou.
+ Quando a crise chegou, o Agro já estava pronto
Para Luís Adriano, a evolução da genética do boi brasileiro passa por esta estratégia que o criador tem de estar sempre pronto para aproveitar as janelas que o mercado oferece. “É um reflexo disso tudo. Não adianta só ter proteína que o mundo vai comprar. Precisa de qualidade, de sanidade. Se a gente fizer uma analogia, a genética é o motor. Você tem que ter um excelente motor para depois colocar a melhor gasolina, o melhor piloto, a melhor estrada, refletir isso na melhor sanidade, melhor nutrição, manejo correto”, comparou.
Segundo o veterinário, o pecuarista brasileiro começou a unir os fatores e profissionalizou a atividade, chegando a um nível de produção de destaque mundialmente. “Tem que ser uma carcaça precoce, de qualidade e com aprovação sanitária. Isso não é qualquer país que consegue atender e com o volume que o mundo precisa. Nisso o Brasil tem se sobressaído”, opinou.
Segundo Adriano, é o que faz com que, de três a quatro anos para cá o mercado de genética tenha crescido sempre na casa dos dois dígitos. “É o que eu chamo de ‘terceira onda de tecnologia’. Ela chegou primeiro na nutrição, ela chegou muito na sanidade, chegou na fase de terminação, de engorda, e agora está chegando na cria. Ela é uma realidade hoje na cria, através da tecnologia de poder fazer a reprodução mais eficiente, com as técnicas de inseminação artificial, a IATF, os embriões. Essas são ferramentas reprodutivas. Agora a genética que você vai colocar lá vai dizer se o seu boi vai ser mais ou menos precoce, se vai ser mais ou menos lucrativo. Os números têm refletido isso agora através do crescimento da venda de genética”, detalhou.
+ Pecuária bota o pé no acelerador e vendas de sêmen crescem 47% no semestre
O profissional salientou que a competitividade do custo das tecnologias reprodutivas também reforçam seu crescimento. “Ela é a tecnologia que te traz o maior retorno com o menor investimento. Ela representa apenas 2% a 2,5% do seu custo de produção total, mas ela é a base. Se você não fizer um bom alicerce, uma boa base para esta pirâmide, você não vai conseguir construir paredes, telhado e depois chegar lá em cima porque pode desabar. Então ao redor de 2% do seu custo de produção, mas ela tem o potencial de aumentar de 9,5 vezes até 10,5 vezes a sua rentabilidade. […] Ele é o único investimento que você faz na fazenda que é cumulativo. O que significa isso? Você investiu em genética hoje, fez a sua novilhada cabeceira, melhorou, colocou essas fêmeas na reposição, emprenhou elas, começou a tirar uma bezerrada de melhor qualidade e, por algum motivo, seja qual for, você parou de inseminar – isso não vai acontecer porque quem começa a inseminar nunca para, mas vamos fazer esta suposição. Você fez o investimento e teve que parar. Aquele investimento feito continua lá, ninguém tira ele de você, a genética está lá e ninguém tira de você”, revelou.
+ Número de vacas inseminadas no Brasil salta para 16%
+ Como transformar sua fazenda em uma máquina de colher bezerro – e dinheiro?
Veja no vídeo a seguir a entrevista completa com Luís Adriano Teixeira:
Foto: Reprodução / ABS Global