
A criação de bezerros no Acre precisa se modernizar para assegurar a sustentabilidade da pecuária local. Um estudo inédito da Embrapa Acre revela que, apesar da boa qualidade das pastagens, a baixa adoção tecnológica e a falta de infraestrutura são desafios que impedem o avanço do setor. Assista ao vídeo abaixo e confira os detalhes deste estudo.
Pecuaristas, a criação de bezerros é a base da pecuária de corte, e no Acre, ela é a principal atividade econômica, respondendo por 60% do valor bruto da produção agropecuária do estado.
No entanto, um diagnóstico recente da Embrapa Acre revela que essa importante atividade precisa de uma modernização urgente para garantir sua sustentabilidade e aumentar a produtividade.
Nesta quarta-feira, 30 de julho, o programa Giro do Boi recebeu virtualmente, direto de Rio Branco (AC), o pesquisador Carlos Mauricio de Andrade, doutor em Zootecnia e coordenador do estudo.
Ele destacou que, apesar de 75,4% das propriedades possuírem pastagens de boa qualidade, 82% dos produtores são familiares e 71% praticam a criação de bezerros com baixa adoção de tecnologias.
Cenário da pecuária de cria no Acre: potencial e gargalos
O estudo da Embrapa Acre, que visitou 246 fazendas em 12 municípios acreanos, traça um retrato detalhado da pecuária de cria, revelando tanto suas potencialidades quanto suas fragilidades.
Pontos positivos:
- Pastagens de boa qualidade: 75,4% das propriedades possuem pastagens com boa qualidade, graças ao investimento em reforma e ao uso de gramíneas adaptadas à região, como a Brachiaria brizantha cultivar Xaraés (MG5), que é resistente ao encharcamento. O Acre tem o menor índice de degradação de pastagens na região Norte.
- Diversificação: 73% dos produtores investem na diversificação com plantio de pelo menos três tipos de gramíneas.
Gargalos e desafios:
- Baixa adoção tecnológica: 71% dos criadores de bezerros utilizam poucas tecnologias, principalmente devido à falta de infraestrutura adequada.
- Falta de assistência técnica e crédito: Os principais vetores para a adoção de tecnologias e recuperação de pastagens degradadas são escassos.
- Superlotação de pastos: A taxa de lotação média de 2,49 cabeças por hectare é 27,7% maior do que a média do estado, indicando que cerca de um terço das fazendas apresenta excesso de gado. Isso causa superpastejo, comprometendo o desempenho dos animais, a persistência do pasto e a renda.
- Carência de informações: Produtores, especialmente os pequenos, têm pouco acesso a informações sobre as tecnologias disponíveis.
- Mercado: O Acre produz o bezerro mais barato do Brasil, mas a produção em pequena escala dificulta a comercialização em leilões, levando à venda para atravessadores abaixo do preço de mercado.
- Genética: Cerca de 80% dos criadores utilizam touros de “ponta de boiada” (mérito genético desconhecido) como reprodutores, comprometendo a qualidade genética do rebanho.
Necessidade de modernização e políticas públicas
Carlos Mauricio de Andrade enfatiza que o primeiro passo para modernizar a pecuária de cria é conhecer a realidade da atividade e o perfil dos produtores e propriedades. A pesquisa identificou demandas por:
- Transferência de tecnologias: Para disseminar o conhecimento já disponível.
- Investimentos em pesquisas estratégicas: Para o desenvolvimento de novas soluções.
- Políticas públicas de apoio: Essenciais para os criadores e para o desenvolvimento do segmento.
A ausência de infraestrutura adequada, o grau de escolaridade dos produtores e a falta de informação são fatores que dificultam a modernização.
Tecnologias de baixo custo, como o consórcio de gramíneas com leguminosas (o amendoim forrageiro está presente em apenas 6% das fazendas), e o plantio direto de forrageiras a lanço (que dispensa tratores e reduz custos), são pouco difundidas.
Estratégias para o futuro da pecuária acreana
O estudo compila seus resultados em quatro publicações detalhadas e aponta estratégias para vencer as limitações:
- Acesso à assistência técnica: Essencial para a adoção de tecnologias.
- Linhas de crédito rural: Ampliação do acesso ao Pronaf e outros programas com juros subsidiados.
- Cooperativismo e associações: Apoio à criação de cooperativas para compras coletivas de insumos e comercialização conjunta de bezerros, superando a barreira da pequena escala de produção.
- Melhoramento genético: Incentivar programas como o Progenética (ABCZ em parceria com o Banco do Brasil) para financiamento de touros melhorados.
- Modernização gradual: O processo deve ser adaptado à realidade socioeconômica dos pequenos produtores, priorizando “tecnologias de entrada” com baixo investimento e efeito direto na produtividade (ex: calendário reprodutivo, vermifugação estratégica, manejo de pastagem).
- Infraestrutura e logística: Destinar investimentos públicos para manutenção de estradas e ramais, reduzindo custos logísticos e conectando produtores aos mercados.
- Educação: Priorizar o ensino médio técnico rural e capacitações continuadas em manejo, gestão e empreendedorismo para jovens e filhos de produtores.
A modernização da pecuária de cria no Acre deve ser um processo gradual e integrado, com intervenções em todos os elos da cadeia para garantir a sustentabilidade e a lucratividade do setor no estado.