A Estação Experimental de Lages, unidade da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), está conduzindo um estudo inovador sobre o uso do bagaço da maçã como suplemento alimentar para bovinos de corte.
O projeto busca aproveitar a enorme oferta da fruta na Serra Catarinense e oferecer uma solução sustentável para produtores e indústrias.
A pesquisa é liderada pelas zootecnistas Vanessa Ruiz Fávaro e Ângela Fonseca Rech, que analisam os potenciais nutricionais e logísticos do resíduo, considerando seu impacto na engorda de bovinos.
O estudo foi motivado pelos bons resultados já obtidos com subprodutos agroindustriais, como bagaço de laranja, uva, abacaxi e até resíduos de cervejaria, que têm demonstrado benefícios na nutrição animal.
Benefícios nutricionais e conservação do bagaço
O bagaço da maçã, subproduto do processamento industrial da fruta, é pobre em proteína, mas rico em energia. Ele contém carboidratos solúveis e de fácil digestão, proporcionando uma liberação rápida de nutrientes para os animais.
No entanto, as pesquisadoras alertam que a inclusão desse resíduo na dieta deve ser feita de maneira equilibrada, combinando-o com outras fontes proteicas, como farelo de soja ou ureia, para garantir um regime alimentar adequado aos bovinos.
Outro fator importante analisado no estudo é a forma de armazenamento do bagaço. Devido à sua alta umidade, aproximadamente 80% de seu volume, o resíduo se deteriora rapidamente quando exposto ao ar.
Para evitar perdas e garantir um uso eficiente, as pesquisadoras recomendam a conservação na forma de silagem. Segundo os testes já realizados, o bagaço pode ser armazenado em silos fechados por no mínimo 40 dias, mantendo-se em boas condições por até um ano.
Há expectativas de que esse prazo possa se estender para dois anos, desde que o ambiente de armazenamento permaneça sem oxigênio, prevenindo fermentações indesejáveis.
Uso estratégico na suplementação do gado
A pesquisa foca especialmente no gado criado em regime de pastejo, onde há oscilações na disponibilidade de forragem ao longo do ano.
No outono, período crítico de escassez de pastagem, o bagaço da maçã pode servir como suplemento estratégico para manter o desempenho dos animais.
A recomendação das especialistas é que os produtores aproveitem a colheita da maçã, que ocorre entre fevereiro e abril, para armazenar o bagaço em silos e utilizá-lo durante os meses de menor disponibilidade de pasto.
Essa estratégia pode garantir um melhor aproveitamento dos recursos alimentares e reduzir a necessidade de ração comercial, diminuindo os custos da propriedade.
Oportunidade econômica para produtores e indústrias
Além dos benefícios nutricionais e estratégicos para a pecuária, a utilização do bagaço da maçã também representa uma oportunidade econômica para a indústria de processamento de frutas.
Atualmente, esse resíduo é considerado um problema ambiental, pois, quando descartado de forma inadequada, pode poluir o solo e a água.
Transformá-lo em alimento para bovinos, portanto, não apenas reduz os impactos ambientais, mas também permite que as indústrias lucrem com a comercialização do subproduto.
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Os pecuaristas, por sua vez, podem ter acesso a um alimento energético a um custo reduzido, quando comparado a ingredientes tradicionais como o milho. Entretanto, como o bagaço não tem um padrão fixo de qualidade, sua composição pode variar de acordo com o processo industrial pelo qual passou.
Assim, as pesquisadoras recomendam que os produtores realizem análises bromatológicas antes de incluí-lo na dieta dos animais. Esse tipo de avaliação pode ser feito em laboratórios particulares ou na própria Estação Experimental de Lages, que presta esse serviço em Santa Catarina.
Pesquisa financiada e perspectivas futuras
O projeto da Epagri conta com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) e tem parceria com a empresa TC Agronegócios, fornecedora do bagaço de maçã para os testes.
As pesquisadoras planejam lançar um boletim técnico até 2026, com um guia detalhado sobre o uso correto do resíduo na alimentação de bovinos.
A publicação trará informações sobre as melhores práticas de armazenamento, proporções adequadas na dieta e indicações específicas para diferentes categorias de animais. Dessa forma, os produtores poderão adotar essa solução com maior segurança, aproveitando ao máximo o potencial do bagaço da maçã.
Com essa pesquisa, a Epagri contribui para o avanço da pecuária de corte em Santa Catarina, promovendo a sustentabilidade e agregando valor a um subproduto que, até então, era tratado apenas como descarte industrial.
O estudo reforça a importância da inovação na pecuária e destaca o potencial de novos insumos para a alimentação animal, beneficiando tanto os criadores quanto a indústria frutífera da região.
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