Suplementação de novilhas aumenta em 40% a produção de arrobas por hectare

Doutorando pela UFT apontou que recria intensiva pode servir para acelerar engorda a pasto, diminuir período de cocho e antecipar entrada na estação de monta

Uma tese de doutorado conduzida pelo zootecnista Íthalo Barros de Freitas na Universidade Federal do Tocantins, a UFT, analisou até quanto vale a pena suplementar novilhas de corte nas águas. Nesta terça, dia 27, o doutorando concedeu entrevista ao Giro do Boi para compartilhar os resultados que foram divulgados no artigo “Grão inteiro vai bem no cocho das novilhas”, publicado na edição de fevereiro de 2021 da revista DBO.

“A pesquisa foi realizada nas nossas instalações experimentais. Ele foi conduzido de dezembro de 2019 até maio de 2020, a primeira fase, que foi a fase de recria com essas novilhas sendo suplementadas, depois nós temos uma terminação curta com essas novilhas, e logo após essa fase de terminação curta, o abate desses animais”, resumiu Íthalo.

A área do experimento simulou piquetes produtivos, onde o pastejo é intensivo pela boas condições da forrageira, o que geralmente ocorre na Região Norte na época das águas – calor e muita umidade disponível. “Essa área é de capim Mombaça que nós utilizamos. Ela é adubada todos os anos e utilizada para experimentos. Foi utilizado um sistema de pastejo rotacionado. […] Sobre essas áreas, vale destacar aqui que elas foram adubadas e receberam 150 kg de nitrogênio por hectare, 75 kg de potássio e também fósforo (30 kg por hectare), então é uma boa adubação, uma adubação alta. A adubação é importante para promover mais forragem, maior disponibilidade de folhas para esses animais e também importante para nós termos um número adequado de animais para as estatísticas dos experimentos que nós rodamos aqui”, justificou o doutorando.

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Freitas revelou qual foi a finalidade da pesquisa. “O objetivo do trabalho foi avaliar diferentes relações de energia e proteína com suplementos para novilhas durante o período das águas”, sintetizou.

No estudo, quatro cenários foram simulados, conforme informou o zootecnista. “Nós tínhamos um tratamento que era o controle, em que os animais recebiam apenas sal mineral, e nós tínhamos as ofertas de concentrado de 0,3%, 0,6% e 0,9% do peso vivo (proteico-energético). O consumo de proteína desses animais por dia era igual entre todos os que recebiam suplemento. O suplemento era formado por um pellet proteico, vitamínico e mineral, mais milho. O tratamento que os animais recebiam era, no de 0,3% de peso vivo, apenas o pellet, no de 0,6% era metade milho e metade pellet e no de 0,9% de peso vivo era 66% de milho e próximo a 34% de pellet. à medida que a gente aumentava esse fornecimento de concentrado, a gente aumentava a quantidade de milho e aí, consequentemente, a gente aumentava a energia, fazendo essas diferentes relações para ver o resultado disso no desempenho dos animais”, explicou.

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Na pesquisa, a categoria com maior desempenho em ganho médio diário foi a que recebeu 0,6% do peso vivo (971 gramas por dia contra 932 do grupo de suplemento a 0,9%, 865 gramas do grupo dos 0,3% e 722 do grupo controle, que recebia somente sal mineral).

“Na verdade, essa sincronia entre quantidade de energia e proteína promoveu um melhor desempenho nessa oferta de 0,6% de peso vivo, então o melhor desempenho foi com esse menor fornecimento”, confirmou Íthalo.

O doutorando também respondeu por que razão escolheu usar o grão inteiro na dieta dos animais. “A justificativa de a gente usar o grão inteiro é redução de custo com processamento, com a facilidade maior de adoção tanto pelo pequeno, médio e grande produtor desse tipo de tecnologia. É uma dieta fácil, ela tem apenas dois ingredientes, então ela é fácil de misturar, é fácil de armazenar. Isso vai gerar uma facilidade de adoção pelo produtor, independente do tamanho do rebanho ou quantos animais que ele vai desejar tratar. […] Outro ponto coisa é que não tem a necessidade de muitos equipamentos e maquinários, triturador e outras coisas para o preparo e mistura desse suplemento, então isso vai facilitar o produtor utilizar, tanto o pequeno quanto o grande”, frisou.

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Um dos destaques do experimento foi a validação de que a suplementação potencializou a produção de arrobas em 40% uma mesma unidade de área nesta fase de recria. Enquanto as novilhas tratadas somente com sal mineral produziram 28,4 @/ha, as novilhas tratadas com suplementação a 0,3% do peso vivo produziram 33,64@/ha, 37,71 com 0,6% do peso vivo em suplemento e, com 0,9% do peso vivo, 39,59 arrobas por hectare (39,4% a mais do que o grupo controle).

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O zootecnista apontou a utilidade desta intensificação da recria, que atende objetivos diversos em sistemas diferentes de produção. “Como justificativa e vantagem, tem algumas que a gente pode destacar, como o aumento do ganho de peso dos animais durante a fase recria, que é uma fase em que o animal é mais eficiente, consequentemente reduzindo a idade de abate dele. Tem a possibilidade de abater esse animal durante o período das águas, que foi o que nós observamos. Quando nós utilizamos esses suplementos, a gente verificou que seria possível, sim, abater esses animais nas nossas condições aqui durante o período das águas (o abate não foi feito nas águas por conta de inviabilidade operacional causado pela pandemia). Não teria necessidade de fazer altos níveis de suplementação para terminar esses animais na seca”, avaliou Íthalo.

O doutorando também observou que a recria intensiva pode servir como preparação para engorda em cocho e até reprodução. “Se a gente pensar também que o pecuarista vai destinar esses animais para o confinamento, essa também é uma alternativa de reduzir o tempo de confinamento e, consequentemente, os gastos que ele teria com esse animal no confinamento. Outro ponto também que a gente pode destacar é que esse sistema de suplementação nas águas pode ser viável pensando em antecipação de reprodução nas propriedades. Não foi o objetivo do trabalho, mas os animais suplementados ao final dessa suplementação, em maio, eles estavam com 300 kg ou mais, a depender do tratamento que foi utilizado, e eles apresentaram sinais de cio. E com esses pesos, são animais que poderiam entrar em estação de monta. Então é uma possibilidade, porque anteciparia muito essa entrada na estação”, sustentou.

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Veja no vídeo a seguir a entrevista completa e mais informações sobre o abate das novilhas feito depois de um breve período de engorda: