Antecipação da idade de abate em um ano e 20% mais de grãos colhidos. E estes são os resultados de um sistema que ainda está sendo amadurecido no Brasil Central. É a sobressemeadura de capim na soja. Em reportagem exibida no Giro do Boi desta quinta, dia 24, o pesquisador da Embrapa Lourival Vilela, um dos precursores do desenvolvimento de sementes de soja para regiões de Cerrado, adiantou os resultados de algumas das práticas que estão analisando esta nova opção para o produtor rural.
Em sua entrevista, Vilela, que é engenheiro agrônomo e mestre em ciências do solo, recordou o impressionante avanço da produção rural no Cerrado, em que boa parte se deve ao seu próprio trabalho. “Estou aqui há 44 anos e participei desta transformação do Cerrado porque eu sou nativo da região, natural daqui. Eu gostaria que tivesse um gravador dentro da cabeça para tirar e mostrar hoje para esse pessoal mais novo o que era o Cerrado antes. O Cerrado era para andar longe! E hoje é para andar perto! Eu sou de uma cidade que fica a mais ou menos 600 km de Barretos […] e para levar bois para Barretos eram 30 dias de estrada. E esses bois chegavam em Barretos e tinham que ser engordados para serem abatidos. Nós estamos falando de bois de quatro a cinco anos de idade. Estrada não tinha, era só estrada boiadeira. Carro, na minha cidade, devia ter uns dois ou três. Telefone tinha somente aqueles postos telefônicos. Então hoje, às vezes o pessoal fica questionando, criticando o agro, sobretudo na nossa região de Cerrado, porque não conheceu o início antes e não viveu, não sabe a dificuldade que tinha aqui na região”, destacou o pesquisador.
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E mesmo depois de tantos avanços, que transformaram o Cerrado em um legítimo celeiro de alimentos, bioenergia e fibras ainda é possível extrair mais riqueza com sustentabilidade do seu solo. “Sobressemeadura de algumas forrageiras”, apontou Vilela. “Hoje nós temos trabalhado muito com os Panicuns, o Mombaça, por exemplo, Tamani, também com braquiárias, como Xaraés, Marandu, a própria Ruziziensis a gente vem trabalhando a sobressemeadura”, listou.
O pesquisador explicou como o sistema se desenrola na prática. “Normalmente a gente tem trabalhado no final do ciclo da soja. A gente costuma dizer quando a soja começa a ‘aloirar‘, começa a cair as primeiras folhas […]. Na fase experimental trabalhou-se com aviões agrícolas trabalhando com sobressemeadura nos estudos que nós realizamos acompanhando os produtores na região de Quirinópolis e depois, aos poucos, começaram alguns produtores que vinham trabalhando só com consórcio de milho com braquiária, que passaram a ver o grande potencial que eles tinham de trabalhar com a sobressemeadura na soja”, contextualizou.
Soja “aloirando”: estágio ideal para a sobressemeadura. Foto: Angélica Manfron / Reprodução Embrapa
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Vilela explicou como que a semeadura da forrageira interagem com a oleaginosa de modo a não prejudicar a produtividade. “Quando eu trabalho com essa sobressemeadura no final do ciclo, é uma forma que eu não tenho competição nenhuma com a minha cultura principal. E além de tudo, quer dizer, eu vou ter uma produção de forragem para eu fazer o boi safrinha, ou a novilha safrinha, o que for, produzir comida na entressafra em quantidade e qualidade. Depois dessa colheita, com a safra de boi produzida ou com a safra de carne, uma lavoura de carne colhida dentro desse sistema, nós vamos ter uma palhada de qualidade e uma quantidade de nutrientes que está mobilizada nessa palhada que vai ser liberada para as culturas seguintes. E aí a gente faz um plantio direto de qualidade”, afirmou.
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Vilela destacou ainda os resultados obtidos com o sistema que ainda está em desenvolvimento e sendo estudado – bom para a lavoura, para o boi e para o solo também. “Hoje a gente tem visto que a gente tem conseguido produzir só com essa palhada de capim 20% ou um pouco mais em relação ao milho safrinha na soja na safra seguinte. Então mostrando essa grande melhoria das nossas forrageiras em solos já corrigidos, onde se faz uma lavoura de qualidade, nós temos observado o sistema radicular dessas forrageiras com até quatro, cinco metros de profundidade. Ou seja, ela está reciclando nutrientes como potássio, que movimentam mais no solo, ela vem e traz isso para a superfícies. O fósforo também é reciclado e liberado pela decomposição da palhada. Então esse é um sistema que melhora muito a eficiência do uso de fósforo, […] é uma cultura com grande potencial”, animou-se Lourival.
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Os números são promissores também na pecuária de corte. “Eu vou dar um exemplo de uma fazenda, […] a Fazenda Triunfo, no oeste da Bahia, que era uma fazenda de grão que começou a fazer boi safrinha. Eles começaram lá abatendo animais acima de 36 meses. Já no ano passado, a maioria foi abatida com 24 meses ou até menos no caso dos animais cruzados de Red Angus com Nelore… Então houve uma redução. E outra coisa: o aumento no peso da carcaça desses animais também em função da qualidade e da quantidade de forragem que eles têm. Essa fazenda começou a fazer (ressemeadura) em 2017/18, plantou 200 hectares como um teste, uma experiência. No ano seguinte, foi para 1.100 hectares. Na safra 19/20 foi para 3.000 hectares e, em 20/21, novamente mais 3.000 hectares fazendo sobressemeadura, uma parte com avião e hoje também já com máquinas deles, que foram adaptadas para fazer esse tipo de sobressemeadura”, ressaltou.
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O pesquisador salientou o potencial de áreas que a sobressemeadura pode recuperar gerando valor. “De acordo com os dados da Conab, nós temos no Centro-Oeste na ordem de 17 milhões de hectares de soja e nós temos mais 31 milhões de hectares de pasto em degradação. Ora, se eu quero ampliar a minha produção de soja e de pecuária, produzir boi na entressafra, eu tenho 16 a 17 milhões de hectares de soja de oportunidade, […] e se eu quero ampliar a minha área de soja, eu tenho 31 a 32 milhões de hectares. E eu estou falando só na região Centro-Oeste, não estou falando no resto do Brasil. Tem 31 milhões de hectares de pasto necessitando de uma melhoria. Então eu acho que isso é uma grande oportunidade que a gente tem”, opinou.
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“Hoje nós estamos trabalhando com sobressemeadura via avião, via algumas semeadoras adaptadas na frente do trator, na própria colhedora que o pessoal tem adaptado, mas acho que em breve nós já vamos ter algumas máquinas que vão permitir a gente plantar na entrelinha, que aí eu tenho uma segurança maior no estabelecimento dessa forrageira”, projetou Vilela.
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A entrevista completa com o pesquisador Lourival Vilela pode ser vista pelo vídeo a seguir: