Setor da carne bovina deve reconquistar fãs sem agredir detratores, sugere Tejon

Em entrevista ao Giro do Boi, José Luiz Tejon Megido sugeriu campanha publicitária educativa que incentive volta do consumo diário da proteína vermelha

Nesta segunda-feira, dia 24, o Giro do Boi levou ao ar entrevista ao vivo com o jornalista, publicitário e administrador com ênfase em marketing José Luiz Tejon Megido, sócio-diretor da agência especializada em agronegócio Biomarketing. Em sua participação no programa, Tejon fez um apelo para que as indústrias que atuam no setor da carne bovina, sobretudo as marcas que têm interação direta com o consumidor final, façam campanhas publicitárias educativas a respeito da importância do proteína vermelha para a saúde das pessoas.

“Como profissional de marketing que sou, eu sinto falta disso. […] Antigamente, a gente comia um bifinho por dia, praticamente. Essa era a regra. E na sexta-feira, eu me recordo bem, a mãe da gente servia um bife de fígado, que era para melhorar a qualidade do nosso sangue. E no domingo era frango com macarrão. Esse hábito foi se perdendo e a carne vermelha perdeu o hábito de consumo do dia a dia. Ficou mais para momentos especiais, momentos de festa, momentos nobres, como a famosa churrascada. Então durante a semana, serve-se frango ou outras coisas e, na churrascada, a carne vermelha. Isso está muito claro na cabeça das pessoas”, contextualizou o especialista em comunicação para o agro.

Tejon lamentou que a carne vermelha tenha perdido o espaço no dia a dia mesmo sendo a preferido pelos consumidores. “Carne vermelha é considerada pelo pessoal a mais saborosa, a mais gostosa, porém é para momentos especiais. Isso tem que ser corrigido, tem que ter no dia a dia, todo dia é dia de uma proteína. E aí tem o aspecto da saúde. […] Quando nós fizemos essa pesquisa (citando trabalho desenvolvido junto à Acrimat há alguns anos), a proteína que apareceu como sinônimo de saúde é o peixe e se perdeu aquela ideia de que o bifinho, o bife de fígado, como foi comigo na minha infância, é fundamental para a saúde. Então era muito importante que nós, do ponto de vista de marketing, passássemos a promover a importância do consumo da carne vermelha para a saúde humana, ao mesmo tempo que isso pode ser, e é saudável sim, que seja um hábito de consumo diário. E aí é um pedido que eu faço principalmente às companhias, às organizações, às marcas que chegam até os consumidores finais”, sustentou Tejon.

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O especialista citou um modelo usado pelo TBC, o Texas Beef Council, no estado do Texas, nos Estados Unidos, que pode servir de inspiração para o setor no Brasil. “Para dar um exemplo para os nossos telespectadores, há um trabalho muito bem feito nesse sentido nos Estados Unidos, ná no Texas. Vocês podem acessar o Texas Beef Council, o TBC, pela internet e vocês vão acessar um trabalho muito grande de pesquisa e uma dieta que é oferecida e que se você consumir 30 dias por mês, todo dia, uma dieta que inclua a carne vermelha, você não só terá melhor saúde, como além de tudo ainda vai emagrecer, vai ter peso correto. Então eu sinto falta da estratégia de marketing da carne vermelha na comunicação, este cuidado de tomar conta da percepção dos consumidores finais”, lamentou Tejon.

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Para Tejon, a educação servirá não somente para ligar a carne à saúde, como também para ajudar os consumidores a cozinharem pratos do dia a dia gastando menos, já que hoje há a percepção também de que o preço da carne bovina é impeditivo para tal finalidade.

“Precisamos comunicar, comunicar, comunicar. […] O que existe é percepção e o que o nosso cérebro percebe se transforma em realidade. Então esta distância que eu sinto nessas pesquisas e também observando o consumo per capita da carne vermelha, que era mais de 40 e hoje está em 29 kg por pessoa ao ano, essa diminuição de consumo per capita também é fruto de perdermos o hábito de consumo diário. E aí eu vejo muita gente falar que a carne vermelha é mais cara. Ela está com essa percepção também, sim, de ser uma carne mais cara para o consumidor, o que novamente a educação mostraria que existem pratos e comes que podemos fazer com carne bovina que são, do ponto de vista da relação custo x benefício de proteína, mais barato do que as alternativas. Sem nada contra as alternativas, acho que é um mix interessante de todas as proteínas animais, mas eu estou preocupado com esse aspecto de perder o consumo per capita, uma associação de que a carne é cara e que só tem partes nobres e maravilhosas, quando ela é um produto extremamente popular e que o consumidor precisa ser educado, aprender a fazer de novo alguns pratos. Ontem mesmo eu comi um maravilhoso pimentão recheado. Como é gostoso pimentão recheado com carne, por exemplo!”, exemplificou o especialista.

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O consultor lembrou ainda do papel da pesquisa científica para que os resultados desejados sejam alcançados. “Nós precisamos muito dessas informações científicas e transmitir essas informações científicas para o consumidor. Você se lembra há pouco tempo que o ovo era considerado um demônio de alimento, que criava colesterol? Foi feita uma pesquisa e descobriram que é o contrário. Esses mitos sempre existem. Se você olhar no café, na carne, esses mitos sempre existem. Eu considero muito importante que o setor da pecuária, a cadeia produtiva inteira e as marcas que falam com os consumidores, que têm as grandes verbas publicitárias, que têm presença nos supermercados, eu pediria que essas marcas passassem a investir numa linha publicitária educativa também de importância para a saúde, ensinar as pessoas a fazerem pratos muito gostosos, saborosos e baratos para resolver a questão de que a carne bovina é coisa cara”, frisou.

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“É importante, principalmente, que o setor das marcas que falam com os consumidores finais tivessem nas suas linhas, nos seus orçamentos de marketing, ações educativas sobre a saúde e recuperação, o resgate do consumo per capita. Você mencionou os supermercados. Por dia, nos supermercados brasileiros, passam 27 milhões de pessoas. E conversando com o pessoal dos supermercados, a Abras, Associação Brasileira dos Supermercados, o Márcio Milan, que é o superintendente da entidade, disse que eles querem e precisam que os açougueiros dos supermercados voltem a conversar com os consumidores porque o açougueiro, no passado, era o cara de maior confiança do nosso bairro”, salientou.

Tejon ponderou que o setor faça a campanha sem, entretanto, agredir os detratores que agridem o setor. “O pessoal é brabo. Eu estava em aula com o pessoal da França no ano retrasado e tem o Salon International de l’Agriculture e o símbolo do salão é uma vaca. E eu sentei ali num bar na rua em frente ao local do evento e tinha uma manifestação vegana contrária ao uso da vaca, enfim, aquelas propostas todas. O pessoal é bravo. […] Eles são bravos e acabam agredindo. Mas é muito importante que a gente, e os pecuaristas, entendamos uma coisa importante. Além de produtor rural, vamos pensar que você é um vendedor, tenha isso na cabeça. Agricultores são vendedores. […] Eu acho genial isso. Produtor, você é um vendedor. Não é só venda da genética, não, é vendedor de saúde. E quem é o seu cliente? São todos os consumidores! O pessoal da cidade. Então uma coisa muito importante estrategicamente falando é ‘vamos criar fãs e amigos!Cuidado com a soberba, com a arrogância”, recomendou o profissional.

O consultor em comunicação ilustrou como o setor pode lidar quando o ataque vem de celebridades. No caso, um eventual contra-ataque do setor poderia gerar indisposição com uma legião de fãs que poderia tomar as dores do seu ídolo. “Se alguém como a Anitta fala algo como não toma leite, não come carne, vamos de ‘falou, Anitta, sucesso, parabéns, legal, mas vamos pra frente. Tem muito fã seu que gosta de um churrasquinho, gosta de uma carninha, é boa pra saúde. Vamos juntos!’. A gente tem que ter muito esse cuidado de não agredir quem é detrator e mal educado conosco. Não responda na mesma palavra”, pediu Tejon.

O especialista falou, então, sobre a importância de conquistar novamente os fãs para o setor de carne bovina. “Pense que você tem que se comunicar com bilhões de pessoas. Então use muito charme e educação. E a principal forma de enfrentar o detrator não é fazer isso diretamente, é através dos nossos fãs. São eles quem devem rebater. […] Aliás, as churrascadas brasileiras, os nossos rodízios, churrascarias, são espaços maravilhosos para veganos porque têm um arsenal de saladas simplesmente espetacular como em poucos lugares a gente encontra. Portanto, muita elegância, cuidado, não vamos tratar alguns detratores mais mal educados na mesma linguagem porque a gente acaba, sem querer, passando esta mensagem para outras pessoas que não são como aquelas. E algumas dessas personalidades têm muitos fãs, têm 10, 20 milhões, 30 milhões de seguidores”, lembrou.

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Tejon comentou ainda outro ponto que vai além da saúde e é essencial para lembrar nas pesquisas e na comunicação do setor. “E eu vejo também crescendo o assunto do bem-estar animal, que a gente vai precisar cuidar. […] É muito importante que a gente também transmita uma grande preocupação com bem-estar animal, aspectos todos que comovem muito o consumidor. Então o acesso, a demanda por proteína animal e pela proteína bovina é muito grande no mundo inteiro. Só tenho essa preocupação que eu gostaria de salientar e venho enfatizar. Cuidado com a educação do consumidor final, o aspecto saúde na mente, o aspecto de aprender a fazer deliciosos pratos e retomarmos aquilo que já tínhamos antes, que é um hábito cotidiano do consumo da carne bovina como importante para a sua saúde”, reforçou.

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NOVO LIVRO

Ainda em sua entrevista ao Giro do Boi, Tejon falou do lançamento de seu mais recente livro, “O poder do incômodo”. O autor falou sobre o contexto de sua obra.

“Aquilo que nos incomoda nos movimenta. Esse livro trata exatamente das nossas histórias de vida no mundo do agro, os incômodos que movimentaram inclusive a própria evolução, o plantio direto, safra e safrinha, produtividade. Esse mundo agora moderno de sustentabilidade nos incomoda, mas a partir do incômodo, a gente responde a ele e a gente evolui. Agora precisa cuidado, não pode substituir o legítimo incômodo e ficar incomodado com o que não é importante. É dar o foco para aquilo que a gente tem realmente que enfrentar para movimentar. O mundo é imperfeito e a nossa missão é o aperfeiçoamento das imperfeições. Esse campo da pecuária é um exemplo riquíssimo. Todo dia tem aperfeiçoamento para fazer. Então o poder do incômodo é esse. Incomodou, enfrentou, corrigiu e evoluiu”, resumiu o autor.

O livro foi publicado pela Editora Gente e, segundo o escritor, está disponível nas mais variadas lojas virtuais de livrarias.

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A entrevista completa com José Luiz Tejon Megido pode ser vista pelo player abaixo:

Foto: Reprodução / Agência de Notícias IBGE