Uso de levedura no cocho elevou peso em 1,3@ e melhorou acabamento da carcaça

Segundo pesquisador, o insumo tem potencial para substituir outros aditivos artificiais que estão sendo banidos em mercados regionais, como o europeu

Em entrevista ao Giro do Boi nesta quarta, dia 04, o médico veterinário, mestre em produtividade e qualidade da produção animal, doutor em ciência animal e pastagens e pós-doutor pela universidade do estado de Montana, nos EUA, Ricardo Pereira Manzano, consultor da Aleris Nutrição Animal, revelou resultados preliminares de uma pesquisa que analisou o efeito do uso de produtos à base de levedura inativada no desempenho de bois em confinamento. O especialista mostrou como o insumo gerou um ganho de peso 1,3@ superior ao do lote controle e também indicou que o potencial para melhoria do acabamento de gordura e rendimento de carcaça.

“No estudo realizado pela Unicentro, nós tivemos uma diferença de 200 gramas de ganho de peso por animal (que consumiu produto à base de levedura inativada. (O estudo foi feito com) Animais meio-sangue Angus x Nelore comparando com um tratamento controle, ou seja, um tratamento que não tinha nenhum tipo de aditivo, não tinha antibiótico, ionóforo, nenhuma categoria de levedura, era só a ração. Então os animais apresentaram esse diferencial de 200 gramas de ganho de peso vivo por dia, tendo um efeito no final do experimento, após 105 dias de confinamento, que foi quando a gente apurou o resultado líquido de peso de carcaça, uma diferença de 1,3 arroba líquida a mais. Mais do que isso, ela melhorou o acabamento da carcaça, houve uma diferença na espessura de gordura de cobertura no contrafilé e na carcaça como um todo, além de um aumento na área de olho de lombo, que tem alta correlação com produção de massa muscular, com produção de carcaça e produção de carne. Então a boiada produziu mais carne e com mais acabamento, o que é muito interessante porque às vezes você pode produzir muita carne sem acabamento e aí você começa a ter problemas após o abate para a própria indústria frigorífica, no processo de estocagem dessa carne em câmara fria”, resumiu Ricardo.

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“Para o telespectador ter uma ideia, os animais tratados com a cultura de levedura entraram com peso vivo, considerando 50% de rendimento de carcaça na entrada, de 12@ e terminaram com 20@. Foram 105 dias de cocho, sendo 21 dias de adaptação e mais 84 dias consumindo a ração de terminação. Agora o importante é que no tratamento controle, os animais também entraram com as 12@ e terminaram com 18,7. Está aí a diferença de pouco mais de uma arroba entre o tratamento com a cultura de levedura e o tratamento sem nenhum aditivo, quer dizer, o tratamento controle. […] A dieta controle ficou na casa dos 74% ou 73,8% e a cultura de levedura levou a uma digestibilidade da dieta próxima dos 76%, o que vai vai dar 76% de NDT (nutrientes digestíveis totais), considerando que a gordura tem 2,25 vezes mais energia que o carboidrato e proteína”, detalhou o pesquisador.

O veterinário projeta que os resultados apontem a cultura de leveduras como potencial substituto de outros aditivos utilizados na dieta de terminação dos animais. “Tem um potencial muito alto para substituir os ionóforos e outros antibióticos da dieta, até porque em paralelo a esse estudo, que já está em fase de publicação, teve um estudo de histologia, de mucosa de sistema digestivo. Os animais tratados com a cultura de levedura apresentaram muito menor grau inflamação de epitélio ruminal, conformação de papila, número de papila e comprimento de papila, mostrando que ela realmente controlou o pH ruminal, ou seja, as lesões foram menores. Isso é importante – e eu vou dar o exemplo dos EUA, que tem muito problema com abscessos hepáticos e tudo começa com a inflamação ruminal. […] Mas, de qualquer forma, a acidose subclínica em confinamento faz uma variação de consumo muito intensa no dia a dia e isso reduz o ganho de peso. Então ela é tão segura quanto (os outros aditivos), por exemplo, outros aditivos antibióticos, que são largamente utilizados em nosso país, na América do Norte, México, para controlar esse pH ruminal. Por outro lado, no mercado europeu, eles (outros aditivos) já estão proibidos. Lá no mercado europeu, eles já trabalham com aditivos naturais, como é o caso da cultura de levedura e outras categorias que existem no mercado”, lembrou Manzano.

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O veterinário revelou quais são as próximas etapas das análises sobre o uso do insumo na pecuária e como os produtores interessados podem acessar mais informações sobre a tecnologia. “Nós estamos no momento realizando a pesquisa com gado leiteiro. Nós já tínhamos dados de avaliação ruminal in vivo, sem fazer desempenho. Nós fizemos com gado de corte e estamos indo para o leite. Também outra faculdade no estado do Paraná está iniciando as atividades. Mas com relação aos resultados dessa pesquisa, o pessoal pode acessar o site da Aleris Nutrição Animal e lá eles vão encontrar os resultados desta pesquisa”, informou.

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Ainda em sua participação no programa o pós-doutor diferenciou o uso da cultura de levedura inativa do uso de leveduras vivas. “Existe uma confusão muito grande entre os tipos de produtos à base de leveduras. Quando se fala em leveduras, as pessoas pensam em organismos vivos. Existe essa categoria, que são leveduras ativas ou vivas. E quando você as compra, elas vêm nos níveis de garantia em unidades formadoras de colônia por grama. Agora a cultura de leveduras, diferente da levedura ativa, são metabólitos. Até tem as leveduras, mas elas estão inativas, ou seja, elas estão mortas. A diferença entre os dois produtos basicamente é a seguinte: com a cultura de levedura, por elas estarem mortas, eu forneço na forma de metabólitos […] para que as próprias bactérias ruminais se reproduzam, colonizem e produzam o efeito desejado. Já as leveduras ativas, são elas que têm que fazer o efeito no rúmen”, explicou.

“A diferença básica é que as leveduras ativas são extremamente sensíveis às variações de temperatura, umidade, ao meio ambiente, salinidade, então nem sempre eu consigo usar a levedura ativa com muito sucesso porque pode haver perdas no processo entre a colocação no alimento e a chegada de quantidade mínimas de células vivas no rúmen do animal. Já a cultura de levedura, eu forneço os nutrientes e lá no rúmen já existem as bactérias cujo crescimento eu quero estimular. E aí eu estimulo o crescimento de cepas específicas que contribuem para o aumento da produção animal. A vantagem da cultura é que não tem esse risco de perda da atividade, porque ela já está inativa. Eu estou dando nutriente, não estou fornecendo nenhum organismo vivo. Na levedura ativa eu forneço organismo vivo – e ela funciona muito bem, desde que ela chegue em quantidade correta no rúmen. Nesse caminho entre a produção do produto comercial, a mistura na ração e fornecimento para os animais através de ração ou de suplemento na pastagem, eu tenho risco de perda de atividade de uma grande quantidade de células”, ponderou.

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Pelo vídeo abaixo é possível assistir na íntegra a entrevista com o médico veterinário, mestre em produtividade e qualidade da produção animal, doutor em ciência animal e pastagens e pós-doutor pela universidade do estado de Montana, nos EUA, Ricardo Pereira Manzano, consultor da Aleris Nutrição Animal: