O Giro do Boi levou ao ar nesta terça, dia 03, entrevista com o técnico em agropecuária José Neves Ferreira, mais conhecido como Zé Neves da Fazenda Arinos, criatório da raça Caracu localizado em Diamantino, Mato Grosso. O pecuarista destacou a importância do uso da raça taurina adaptada para o clima tropical brasileiro e o seu potencial produtivo, viabilizando a engorda de garrotes cruzados de mais de 20 arrobas aos dois anos de idade e o desafio de precocinhas f1 à reprodução com 14 a 16 meses.
“Hoje na Fazenda Arinos a gente trabalha só com raças taurinas. E o Caracu é o foco dela. Nós já selecionamos há alguns anos e trabalhamos com o melhoramento genético dessa raça. Nós começamos a criação raça em 1987, quando nós tivemos uma ideia de melhorar a carcaça porque a natureza já tinha dado para o Caracu a parte de adaptação dele, a natureza já tinha facilitado a sua sobrevivência. Mas precisava moldá-lo para a unidade produtiva. Ele tinha uma forte seleção na região de Poços de Calda na produção de leite e nós resolvemos fazer uma seleção visando a produção de carne. Foi quando começamos a montar um projeto de seleção e, graças a Deus, nós conseguimos atingir o objetivo e hoje nós temos animais excelentes em termos de desempenho e qualidade de carne”, recordou Zé Neves.
O criador lamentou o período de vácuo na seleção da raça no Brasil. “Eu acho um crime o brasileiro ter abandonado uma grande raça. E não é só o Caracu. […] Até a década de 1960 ou até 1970, essa foi a raça que dominou esse país. A gente bebia leite e comia carne desta raça. E com o cruzamento com o Nelore, ela foi sendo absorvida e foi desaparecendo ao longo do tempo, mas é uma raça extremamente produtiva com carne de muita qualidade. Então a gente aliou essas duas coisas, você tem uma raça dócil, produtiva e que produz uma carne de qualidade”, destacou.
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De acordo com o selecionador, o Caracu resolve um importante gargalo da pecuária tropical. “A falta de adaptação acaba consumindo energia no momento que você vai terminar o animal. Se o animal não estiver se sentindo bem com o calor, se não estiver se sentindo bem com o ambiente, ele vai se desgastar para a sua mantença. E quando você tem uma raça taurina que é 100% adaptada e usa no cruzamento, você tem um ganho muito bom. Além de você ter o ganho da heterose, que é um ganho que acredito que nenhum pecuarista pode dispensar, que é uma coisa que a natureza deu de graça para nós, você consegue fazer heterose com um animal adaptado que não vai ter problema com o ambiente e, consequentemente, você vai ter um ganho de produtividade muito maior”, reforçou.
Zé Neves detalhou como está propondo a consolidação do Caracu. “Hoje aqui na fazenda, para o gado puro, nós trabalhamos com toda a identificação zootécnica desde o momento do nascimento, a gente identifica sempre pai e mãe, depois a gente faz uma pesagem aos quatro meses para habilidade materna, nós fazemos uma pesagem na desmama, fazemos uma pesagem e uma medição de testículo aos 12 meses e aos 18 meses nós fazemos uma avaliação de carcaça por ultrassom e fazemos também avaliação visual, em que nós escolhemos os melhores animais. […] Quando você pega um animal que tem uma seleção bem feita e realmente bastante criteriosa e você trabalha ele no melhoramento genético ou no cruzamento com outras raças, você vai transferir isso para outras raças, já que carcaça é de alta herdabilidade. Essa é uma vantagem fantástica. O desempenho você também consegue colocar no cruzamento. Então nós temos obtido hoje, e logicamente depende de propriedade para propriedade, depende do manejo, da sanidade, da alimentação, mas tranquilamente o Caracu pode chegar aos dois anos de idade acima de 20 arrobas. As fêmeas meio-sangue podem estar emprenhando entre 14 a 16 meses com tranquilidade, o que permite você tirar uma cria dela e ainda jogar ela num protocolo tipo o 1953, que encaixa bem e funciona de uma forma bastante positiva”, exemplificou.
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“Nós temos um programa (Taurino Tropical) com uma trajetória bastante longa. Nós temos hoje um banco de dados muito grande e a gente vem medindo isso e vai vendo que a repetição disso é cada vez mais consolidada. […] Logicamente os reprodutores vão transmitir isso para os seus descendentes. Então aqui no programa a gente trabalha hoje mais ou menos com três mil matrizes no projeto de seleção e nós somos bastante criteriosos com os itens produtivos. Nós precisamos de uma fêmea que tem uma excelente habilidade materna, nós precisamos de um bezerro que após a desmama tenha um excelente ganho de peso e, além de ter o ganho de peso, que ele tenha uma carcaça de boa qualidade. Porque não adianta ter só ganho de peso. […] E a gente vem insistindo cada vez mais nisso para fixar e transmitir isso na hora do cruzamento”, acrescentou.
CARNE DE QUALIDADE “CHACOALHA” A PECUÁRIA
O pecuarista destacou a importância dos protocolos de produção de carne de qualidade para apertar o crivo na seleção de raças como o Caracu, que produzem a matéria prima no padrão requerido.
“Eu acho que os programas de carne de qualidade têm dado uma chacoalhada na pecuária e isso é excelente porque além de você colocar um produto de melhor qualidade para o consumidor, você mostra para o pecuarista que o programa de carne de qualidade também consegue extrair da sua propriedade mais rentabilidade. Mais rentabilidade pela heterose, porque a heterose te dá em torno de 15% a 20% de produtividade a mais de graça, você não precisa pagar por isso, você só tem que usar. Ela coloca qualidade na carne que vai ser vendida, uma qualidade diferenciada e, com isso, você tem um consumidor satisfeito e um pecuarista com maior rentabilidade. […] Não tem como dispensar. E eu acredito que é muito interessante que isso vá afunilando mais porque além de você ter uma carne de qualidade, você pode agora entrar em rendimento de carcaça. eu acho que tem um monte de outras coisas bacanas que servem para atender melhor cada vez melhor o consumidor e, como consequência, também premiar ou remunerar aquele pecuarista”, aprovou.
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NA IATF OU NA MONTA NATURAL
Zé Neves informou como os criadores interessados podem acessar a boa genética do Caracu. “Nós temos hoje as mídias sociais do Taurino Tropical. […] Os contatos estarão lá. […] Nós estamos à disposição para o que precisar. Eu acredito que a grande vantagem das raças adaptadas é que você pode usá-las na sua fazenda não só em inseminação, mas você pode usar em monta natural. […] Você vai usar meio-sangue como se você estivesse usando uma Nelore, só que você vai ter uma rentabilidade a mais e você vai conseguir colocar isso num preço diferenciado no frigorífico e, logicamente, produzindo uma carne diferente”, salientou.
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Segundo selecionador, por conta da sua adaptação , Caracu gera heterose no cruzamento via inseminação ou monta natural
“NÃO EXISTE ANIMAL QUE RESPONDE À FOME”
Antes de encerrar a sua participação, Zé Neves observou que os animais precisam de certas condições para expressar seu potencial genético. “Na pecuária, você tem que ter a parte de genética, que tem que estar consolidada. Essa genética precisa de uma sanidade muito bem conduzida porque não adianta. Se você não tiver uma parte sanitária bem feita, você não consegue. Você tem que ter um manejo muito bom, porque senão você vai criar hematomas, vai ter problemas com essa indivíduo para a convivência dele na fazenda e consequentemente quando mandar para o frigorífico. E alimentação. Se você não tiver alimentação, não existe animal que responde à fome. Quem insistir em achar que boi vai responder à fome, ele não responde. Boi foi feito […] para responder cada vez mais a uma nutrição melhor. Ele vai viver? Vai, mas os índices de produtividades vão caindo. Então quanto melhor for a nutrição, mais vai responder a genética. Uma coisa depende da outra”, concluiu.
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A entrevista completa com Zé Neves, da Fazenda Arinos, pode ser vista na íntegra no vídeo a seguir: