Ele é o zebuíno mais criado no planeta e tem entre suas características várias qualidades que justificam essa disseminação da genética. Nesta terça, dia 23, a evolução da raça Brahman foi destaque do Giro do boi, tema tratado em entrevista com o médico veterinário e presidente do Conselho Deliberativo Técnico da Associação dos Criadores de Brahman do Brasil, Fernando Roberto Pereira. O especialista destacou a aplicação da raça nos cruzamentos com o gado brasileiro, imprimindo “carcaças super pesadas”.
“Ele é o zebuíno mais criado no mundo. São mais de 80 países que utilizam a raça Brahman como base na sua pecuária. Nós temos em toda a América Latina, também temos na Ásia, no continente africano, na Oceania, então na Austrália tem uma base bem forte de Brahman, onde mais de 80% do gado são Brahman ou abrahmado. Tudo isso traz essa chancela de zebuíno mais utilizado no mundo”, contextualizou Pereira.
O veterinário atualizou também informações sobre o volume de gado Brahman sendo selecionado no Brasil. “Nós tivemos até agora um acumulado de 231.469 RGDs (registros genealógicos definitivos) e 139.490 RGNs (registros genealógicos de nascimento). Esses são números oficiais da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu). Então é um número bem expressivo e ele vem num ritmo bom (de crescimento). […] A gente teve também um bom crescimento nesses dois últimos anos na associação, teve uma participação bem importante junto aos criadores da raça no Brasil”, celebrou.
Mas mais do que os criatórios selecionadores da raça, o Brahman se espalha por todo o Brasil, sendo difícil mensurar sua infiltração em rebanhos comerciais, conforme observou o presidente do conselho deliberativo da associação de criadores da raça. “É difícil mensurar porque nós temos o gado Brahman espalhado no Brasil inteiro. Sua criação vai desde a fronteira com o Uruguai, com a Argentina e você também vai encontrar Brahman em Rondônia, em Roraima tem criador, e tem touros espalhados por todo o País, pelo Nordeste inteiro. Do Oiapoque ao Chuí nós temos gado Brahman. Então o número de criadores de Brahman é difícil mensurar, mas os selecionadores da raça hoje são mais de 200 espalhados no território nacional”, informou.
Fernando destacou as características da raça que ajudam a explicar o seu sucesso Brasil e mundo afora. “É impressionante a carcaça, o comprimento, largura, a qualidade de carne, são peças musculares que vão dar um alto rendimento. É impressionante e saboroso”, opinou.
O veterinário também destacou o papel do Brahman no cruzamento com o Nelore e zebuínos em geral. “Essas características que você citou de fertilidade, habilidade materna, bastante leite para o bezerro, uma capacidade de conversão alimentar muito boa, tudo isso traz para essa fêmea (F1 fruto do cruzamento), vamos falar, no cruzamento com Nelore, com as raças Zebu brancas em geral. O Brahman vai inserir isso, vai trazer algumas aptidões a mais, como uma carcaça maior, uma habilidade materna maior, leite, um cuidado excepcional com o bezerro. Tudo isso vai trazer um bezerro mais pesado, mais carcaçudo, falando em cruzamento com gado branco”, destacou.
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Pereira ressaltou ainda as características de produtos do cruzamento do Brahman em fêmeas F1 (taurino europeu x Zebu). “Quando você joga o Brahman num tricross, quando você coloca sobre uma F1, é um espetáculo. É imbatível no confinamento, no semiconfinamento, é um gado que tem uma resposta à alimentação extraordinária. Eu não conheço outro gado que tenha tanto rendimento, tanto desempenho quanto esse cruzamento do Brahman com as raças taurinas ou com F1 taurino x Zebu. Foi o motivo pelo qual eu comecei na raça: fui acompanhando alguns cruzamentos e me apaixonei por trabalhar com Brahman”, revelou.
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O especialista destacou as características das carcaças de animais meio-sangue Brahman com Angus (foto abaixo). “Olhe a amplitude de carcaça que dá, comprimento, garoupa, convexidade… E uma coisa importantíssima que a gente está agora checando agora em um dos projetos da Associação dos Criadores de Brahman do Brasil: nós estamos conferindo esses resultados de conversão alimentar, que é o CAR, a conversão alimentar residual, fazendo um trabalho de qualidade de carne e de rendimento, de quanto ele vai comer para desempenhar, uma iniciativa com o apoio da ABCZ. Veja a força desse garrote, é impressionante!”, notou Fernando. “São animais que o mercado pede hoje. E o que o mercado pede? Carne de qualidade, precocidade, rendimento, carcaça pesada. Esta é a tal da carcaça hiper pesada ou super pesada. Quem vai dar isso para o gado brasileiro é o Brahman. Ele traz essas características, essas qualidades”, sustentou.
Foto: cruzamento com Brahman resulta em animais de carcaças super pesadas.
Fernando comentou ainda fotos que viralizaram exibindo animais Brahman resistindo à recente onda de frio com nevasca que passou pelo estado americano do Texas. “Impressiona, sim, essa adaptabilidade da raça. O Texas é a nossa base, a nossa fonte da raça, e o gado está lá há mais de 100 anos fazendo melhoramento, expandindo, selecionando. Mesmo sendo poucas as vezes que neva, lá faz muito frio. Tem temperaturas abaixo de zero todo ano, o que é bastante comum. Então esse gado é muito rústico, muito preparado e adaptado. Você vê que eles estão a pasto, com certeza, recebendo alguma suplementação, até porque a vegetação já está inadequada para consumo, e eles se mantém, continua produzindo, reproduzindo com toda essa dificuldade, com todo esse desafio gigantesco da neve”, salientou.
“Assim como ele vai entrar nessa condição na neve, ele também vai entrar nessa mesma condição de produção e reprodução na época de calor. E nos grandes desafios de calor e estresse hídrico, como em desertos. Você pega regiões na África, onde tem o Brahman, você pega Austrália, que é um referência também para a gente, e no próprio Brasil. Além da fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina, onde tem calor e bastante frio, nós temos aqui Brahman na Serra Gaúcha, onde neva no Brasil também, temos criadores, selecionadores da raça ali, e também nós vamos ter no semiárido nordestino, vamos ter na região de Floresta Amazônica, […] no Pantanal, de onde eu recebi algumas fotos de touros trabalhando em vacada branca, em vacada comum. Então você vê que a raça Brahman aguenta esse desafio, esse estresse ambiental bem diversificado”, exaltou.
No Texas, animais Brahman apresentam bom aspecto mesmo em meio ao frio extremo.
Pereira mencionou ainda a importância dos trabalhos feitos pela associação em parceria com a ABCZ na genômica do Brahman para dar continuidade à expansão da genética da raça. “O Brahman entrou, sim, nessa biotecnologia. O Brahman está firme na genômica, fazendo as avaliações, coletando material em parceria com a ABCZ. A ABCZ está ajudando bastante porque não basta coletar o material e ter o DNA extraído e avaliado. Tem que ter uma parceria muito forte com as empresas de melhoramento, as empresas de software de avaliação, como o PMGZ, que está reforçando muito o nosso trabalho”, reconheceu.
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Confira no vídeo a seguir a entrevista completa com Fernando Roberto Pereira, médico veterinário e presidente do Conselho Deliberativo Técnico da Associação dos Criadores de Brahman do Brasil:
Foto: Reprodução / Associação dos Criadores de Brahman do Brasil