Nesta quinta, dia 17, o biólogo Roberto Strumpf, mestre em ciências ambientais e diretor da Radicle Brasil, falou ao Giro do Boi sobre novidades no mercado de crédito de carbono. Segundo confirmou o especialista, as tendências se concretizaram e o mercado se aqueceu nos últimos anos, tanto pela regulação como pelos compromissos voluntários de empresas em busca de reduzir emissões de gases de efeito estufa. Com maior demanda, clareza das regras e segurança jurídica, houve, inclusive, valorização deste crédito.
Conforme recordou Strumpf, o mercado de crédito de carbono surgiu em 1997 com a assinatura do Protocolo de Kyoto. Contudo, a onda logo enfraqueceu com a falta de compromissos em nível global. Agora, com iniciativas voluntários de grandes empresas, há um novo crescimento do setor.
TIPOS DE CRÉDITO DE CARBONO
Em seguida, Strumpf falou sobre os tipos de crédito de carbono e revelou uma novidade entre eles que interessa o produtor. Além da troca de energia fóssil por fontes renováveis e do desmatamento evitado, o produtor agora pode gerar crédito pela recuperação de áreas.
“A grande novidade é, de fato, a possibilidade da geração de crédito de carbono através da regeneração de solos agrícolas. Isso é uma novidade e eu entendo que é por isso que poucos produtores tenham ouvido falar disso, por enquanto”, revelou.
PROGRAMA FAZENDAS VIVAS
Enquanto o mercado de crédito de carbono se consolida, algumas iniciativas estão se adiantando para unificar a mensuração do crédito e facilitar sua comercialização. É o caso do programa Fazendas Vivas, da própria Radicle Brasil.
“O programa Fazendas Vivas visa engajar os produtores em duas grandes práticas que promovem uma série de benefícios ambientais e também econômicos para o produtor. Uma delas é o desmatamento evitado. Ou seja, manter a floresta em pé em troca do carbono. Em outras palavras, o produtor que tem excedente florestal em sua propriedade poderia transformar em um ativo financeiro através do mercado”, apresentou o biólogo.
“Por outro lado, a regeneração de áreas degradadas. Nós sabemos que no Brasil […] algo em torno de 90 milhões de hectares estão subaproveitados. Isso quer dizer que eles podem passar por um processo de regeneração, seja com a melhoria de pastagens, com sistemas integrados, como ILP e ILPF, por exemplo. E nesse processo não só se produz mais alimento por hectare, como possibilita o sequestro de carbono da atmosfera no solo agrícola. Carbono orgânico no solo representa produtividade. É um ótimo indicador de produtividade com sustentabilidade”, acrescentou.
“Então é uma agenda onde todos ganham. Há mais alimento por hectare, carbono no solo e o crédito de carbono como se fosse a cereja do bolo. Então o programa Fazendas Vivas visa fomentar essas duas agendas, utilizando para isso todo o potencial do mercado internacional de crédito de carbono”, disse em síntese.
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VALOR DO CRÉDITO DE CARBONO
De acordo com Strumpf, um crédito de carbono que estava precificado em US$ 5,00 há cerca de dois anos hoje vale US$ 8 a US$ 10,00. Além disso, o especialista apontou que mercado de carbono representa mais que um negócio. “Ele traz consigo a proteção de recursos hídricos, a proteção da biodiversidade, a segurança alimentar a nível global. Tem uma série de benefícios sociais também, porque tem repartição, em alguns casos, com populações tradicionais. Ou com populações locais”, destacou.
“Portanto, a história por trás do crédito faz com que ele possa ter um valor premium. E o mercado comprador está sofisticado e busca esse tipo de crédito e topa pagar mais por ele. […] Um hectare de Amazônia pode gerar 400 a 500 créditos, que valem hoje de US$ 5,00 a US$10,00. Então façam a conta, é um valor substancial”, ilustrou.
CARBONO NO SOLO
Posteriormente, Strumpf falou sobre outra forma de gerar crédito de carbono. “Já para carbono no solo, tem uma variação enorme porque depende de como era o solo no início, qual é o sistema, se é só pastagem, se é ILP. É uma outra fonte. Uma fazenda, inclusive, que tem excedente florestal de um lado e tem uma área que está sendo regenerada do outro pode gerar crédito de carbono de dois tipos de projeto. Desmatamento evitado e regeneração da área agrícola. Por exemplo, uma área que tem algum nível de degradação de pastagem e vai ser implementada uma integração lavoura-pecuária, com soja e milho, etc, pode sequestrar da atmosfera até duas toneladas de carbono por hectare ao ano. Ao longo de 20 anos. Então chega a 40 toneladas por hectare ao longo de 20 anos. Multiplica-se por US$ 5 a 10,00. Também não é nada de se jogar fora”, calculou.
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Por fim, assista a entrevista completa de Roberto Strumpf, da Radicle Brasil, ao Giro do Boi desta quinta, 17:
Foto ilustrativa: Gisele Rosso / Reprodução Embrapa