Nesta quinta, 09, o médico veterinário Tamires Miranda Neto, mestre em reprodução animal e gerente de pecuária da CFM, um dos principais criatórios de touros do Brasil, falou sobre a lacuna entre o volume de reprodutores de pecuária de corte no País e a demanda potencial para este tipo de animal.
“O Brasil, na verdade, entre os programas que trabalham com CEIP, que é o caso da CFM, e as associações de raça, que também desenvolvem trabalhos de melhoramento, não consegue atender 10% a 15% da demanda de touros no País. Isso é um número absolutamente alarmante e é nisso que a gente tem trabalhado com afinco, procurando mudar este número”, alertou o veterinário.
+ Número de selecionadores de animais com CEIP cresceu 23,5% em dois anos
Segundo Neto, esta variação de sistemas e níveis de produtividade, característica do país com dimensões continentais, é, na verdade, motivo de preocupação para diversos elos da cadeia de insumos da pecuária. “O nosso desafio é conseguir colocar (touros) onde a gente não colocou ainda, mas, colocando, o resultado vai vir e esse cliente vai ficar satisfeito. Isso é regra”, disse o veterinário, que destacou que dos cerca de 1.400 touros comercializados pela empresa em 2019, entre 60% e 65% foram destinados a compradores que já eram clientes satisfeitos do criatório.
O veterinário, em entrevista, chegou a revelar o “segredo” da companhia. “O segredo é não ter segredo”, respondeu. Segundo Tamires, a agropecuária abre seu sistema produtivo em eventos como dias de campo justamente para mostrar que os animais passam por rigorosa seleção dentro de um ambiente que simula e entra em alinhamento com as condições de grande parte das propriedades brasileiras. “A nossa seleção é baseada em conceitos extremamente simples”, reforçou.
“A base do negócio é fertilidade. […] Fertilidade sempre foi prioridade, foi uma das primeiras características colocadas como prioridade no programa de seleção e, por isso que há 40 anos na CFM uma fêmea que não emprenhou naquele ano é, invariavelmente, descartada. Seja vaca, seja novilha, tenha índice alto, índice baixo, seja filha de touro x ou y. Se ela não produzir, ela vai embora porque, para a gente, a fertilidade é fundamental. Em seguida, em 1993, a gente começou a selecionar para precocidade porque a gente percebeu que havia espaço para melhorar a precocidade sexual no Nelore. Então a gente foi apertando. Em 1991, começou a selecionar fêmeas que emprenhavam aos 18 meses. Logo em seguida, em 93, começou a selecionar fêmeas que emprenhavam aos 14 meses. E por que isso? Porque é uma forma de realmente a gente apertar na precocidade e conseguir tirar um bezerro a mais daquela fêmea, desde que sejam dadas as boas condições”, detalhou o veterinário.
+ Criador ainda não sabe, mas tem um “inquilino caro” na fazenda
+ Precocidade sexual vai ser “novo capítulo” para o Nelore do Brasil
Tamires comentou ainda a importância da terminação de animais precoces para satisfazer o cliente final de toda esta cadeia produtiva, o consumidor de carne. “Animais jovens, machos ou fêmeas, conseguem atender (este mercado). Se você quer atingir estes números, se você quer trabalhar atendendo os mercados que são exigentes – e serão cada vez mais exigentes – você tem que estar antenado com o melhoramento genético. Não tem como fugir disto”, recomendou.
Miranda ainda falou sobre as prioridades dos produtores neste momento de gerenciar a fazenda em meio à pandemia de coronavírus. “Se cuide e não descuide do seu negócio”, resumiu, dizendo que o cuidado com a escolha das sementes e do touro neste momento é um dever de casa que vai provar seu valor no futuro.
Veja a entrevista completa pelo vídeo abaixo: