Pecuária mais intensiva, produtiva e fértil é o caminho para o produtor reduzir significativamente as emissões de gases de efeito estufa (GEE) do rebanho, especialmente o metano (CH4). Quem explica isso é o agrônomo e doutor em Ciência Animal e Pastagens, Sérgio Raposo, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP). O especialista participou no programa Giro do Boi, desta quinta-feira, 7/4.
Há cerca de 20 anos a unidade de pesquisa estuda a emissão do gás pelos bovinos e vem melhorando as técnicas de como medi-lo com propriedade, além de traçar os caminhos que o pecuarista deve percorrer para converter o metano em mais arrobas.
Isso porque a emissão do gás significa perda de energia do animal, o que representa menos carne produzida no final do dia. “Técnicas de intensificação são interessantes do ponto de vista de mitigação porque, ao mesmo tempo que a gente está produzindo mais carne, menos metano é emitido”, explica Raposo.
A pecuária brasileira está caminhando para uma gradual queda nas emissões de metano, especialmente com a redução da idade de abate. Há também soluções nutricionais e de melhor eficiência do rebanho que podem ajudar a reduzir essas emissões. Para o pesquisador, “a melhor métrica não é saber apenas o quanto cada animal emite, mas o quanto de carne ou leite o bovino produz por quantidade de metano liberada”. Isso significa que a saída não é a pecuária reduzir o metano, produzindo menos carne, mas reduzir o gás, produzindo mais carne.
“O Brasil ainda tem uma produção de metano alta porque há uma grande parte dos animais que não está produzindo carne. Quando um animal não está ganhando peso, ou pior, perdendo peso, ou quando há vacas que não põe um bezerro a cada ano, por falha de reprodução, então, temos um animal produzindo metano sem a contrapartida da sua produção”, explica.
Por que o foco no metano?
“Por que escolheram o metano? Por que ele é de fato o gás de efeito estufa que pode mais rapidamente reduzir esse cobertor sendo formado pelo excesso de gás carbônico (CO2) na atmosfera e o metano é o que mais rapidamente responderia para essa redução”, explica Raposo.
O metano é um importante gás de efeito estufa que é emitido através da fermentação do rúmen dos bovinos e liberado pelo arroto do animal. É um gás que requer atenção pois possui um potencial de aquecimento 21 vezes maior que o gás carbônico (CO2), segundo a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês). Além disso, o metano possui uma vida útil de 14 anos na atmosfera num horizonte de 100 anos, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).
Como o metano é medido?
O nome do aparelho é um pouco complicado: marcador hexafluoreto de enxofre (SF6). O aparelho consiste num conjunto formado com uma espécie de coletor, que fica na narina do animal, captando parte das emissões de metano e, armazenando o gás em tubos de plásticos de PVC lacrados. As medições são feitas durante cinco dias e, depois, analisadas em laboratório.
Trata-se de uma tecnologia australiana melhorada pela equipe de pesquisadores da Embrapa Pecuária Sudeste. O estudo da unidade da Embrapa de São Carlos é uma das técnicas que deverão constituir uma calculadora sobre o balanço das emissões de gases da bovinocultura nacional, que ganhou maior atenção do governo federal este ano.
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“Graças a essa técnica, nós temos a segurança do que a gente pode recomendar em termos de opções para a redução de emissões”, diz Raposo. Confira na íntegra a entrevista do pesquisador da Embrapa no link abaixo: