Pecuarista que não precisa mais vacinar contra aftosa deve estar atento a outras doenças

Para presidente da ABMRA, abertura do produtor a tecnologias deve fazer com que o protocolo sanitário continue sendo aplicado em nome da produtividade e segurança alimentar

Em entrevista ao Giro do Boi desta terça, 15, o médico veterinário Jorge Espanha, atual presidente da ABMRA, a Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio, pediu atenção do pecuarista de estados em que a vacinação contra febre aftosa não é mais obrigatória para a execução do calendário sanitário para outras doenças que acometem a pecuária brasileira.

“A gente sabe muito bem que o programa para retirar a vacina está aprovado. A grande questão é se o pecuarista e o administrador da fazenda vão continuar a praticar os programas de vacinação de parasitoses e programas de cuidado com medicamentos e terapias da mesma forma como vinha fazendo antes, que era uma oportunidade para juntar o gado para fazer a vacinação obrigatória”, refletiu.

De acordo com Espanha, a partir de um custo proporcionalmente pequeno em relação ao investimento total na produção de bovinos, o cuidado sanitário, ou a falta dele, pode ter grandes impactos. “Hoje o custo, o que se considera custo, mas eu entendo como investimento, de produtos veterinário é irrisório – de 3 a 5% do custo praticamente do que se investe na produção da arroba do boi. E esta porcentagem é muito baixa e tem uma penalidade que é a perda, por exemplo, por verminoses. Segundo a Embrapa e outros institutos, já está provado que é mais de US$ 5 bilhões por ano em perda de produtividade”, exemplificou.

De acordo com o presidente da ABMRA, o cuidado sanitário pode representar ainda a fidelização dos mercados consumidores dos produtos da pecuária brasileira. “Essa é uma responsabilidade sanitária de todo pecuarista. O pecuarista sabe o quanto perde de dinheiro”, comentou. “Como é que você vai manter o manejo dos animais daqui para frente? Como você vai fazer os programas de sustentabilidade nas áreas que estão sendo devastadas por fogo? E como você vai garantir a segurança alimentar? Segurança alimentar hoje é tudo. Então o programa de vacinação tem de continuar da mesma forma como o programa de desparasitação”, frisou.

Entretanto, Espanha ponderou que com o atual nível de abertura do produtor brasileiro às novas tecnologias, como as reprodutivas, seguir a tendência para o calendário sanitário não deve ser um problema, desde que o criador compreenda sua relevância.

“O pecuarista, em sua maioria, está aberto à tecnologia. Você vê o sucesso que é o programa de IATF. […] Este programa de IATF é um sucesso. Tem mais de 14 milhões de protocolos vendidos, o que aponta para mim que o pecuarista brasileiro está aberto a tecnologias e à inovação. Hoje, por exemplo, o maior custo do pecuarista é reposição. A reposição está caríssima, mas ele continua investindo porque o horizonte é muito promissor. Os próximos três anos, segundo o Cepea, o horizonte é muito promissor”, comparou.

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E com uma possível retomada da economia brasileira após a retração por conta da pandemia sendo esperada, somada a uma demanda crescente do mercado externo, o produtor deve investir na sanidade para garantir o seu aumento de produtividade que será suficiente para atender demanda interna e externa nos próximos anos.