O episódio da série Embrapa em Ação que foi ao ar nesta sexta, 25, falou sobre a sustentabilidade da pecuária, sobretudo na Região Sul. Além disso, destacou as pesquisas da unidade Pecuária Sul voltadas ao tema. Por exemplo, uma delas apontou que a pastagem nativa, desde que com bom manejo, pode acumular até 18 toneladas de carbono no solo por hectare.
Quem falou sobre o assunto em entrevista foi a pós-doutora em zootecnia e pesquisadora da Embrapa Pecuária Sul, Cristina Genro. Conforme lembrou, a Embrapa se reuniu para começar as tratativas sobre o tema em 2009. Assim, equipes de pesquisadores em pecuária e sistemas integrados foram estudar protocolos de sistemas de produção a campo.
Dessa forma, os experimentos já estavam rondando em 2011 em todos os seis biomas do Brasil. As avaliações buscam entender a dinâmica do ciclo do carbono na atividade. Nesse sentido, o Bioma Pampa recebeu estudos para três protocolos: integração, emissões de metano pelos bovinos e pastagem nativa.
PASTAGEM
Uma das principais observações feitas pelos experimentos foi a altura ótima de manejo, inclusive da pastagem nativa. “Por que altura? A altura é parte da estrutura do pasto, um componente importante e tem uma relação muito forte com a massa de forragem que tem no campo. A quantidade de pasto que eu tenho disponível”, justificou Genro.
Conforme apontou a pesquisadora, com a variação de altura, a forrageira consegue interceptar mais ou menos luz solar para realizar a fotossíntese. Além disso, consegue também produzir mais massa verde. “Esse é o manejo. Manter o pasto nesta altura determinada”, disse em suma.
EMISSÕES E ESTOQUE DE CARBONO
Em seguida, Cristina Genro falou sobre o potencial de sustentabilidade das pastagens de inverno. “Um ponto é a altura correta em pastagem de aveia e azevém, que são pastos de inverno aqui da Região Sul. A gente usa muito sobretudo em integração lavoura-pecuária. Nós conseguimos uma redução de 30% na emissão de metano só trabalhando com manejo de altura”, ressaltou.
Posteriormente, Genro lembrou da pesquisa de um colega seu que detalhou a captura de carbono por pastagem nativa com bom manejo. “Um pasto bem manejado, na altura indicada, aqui no campo nativo… O nosso colega Leandro Volk fez uma estimativa de que, mantendo a altura indicada, nós teríamos 18 toneladas de carbono por hectare acumuladas nessa área. Em síntese, esse carbono seria da forragem disponível, das raízes no solo e do próprio solo. Analogamente, em sistema silvipastoril, uma árvore estoca 23 toneladas. Ou seja, não são só as árvores que imobilizam esse carbono. O pasto bem manejado e permanente também imobiliza”, comentou.
FUTURO DA PECUÁRIA SUSTENTÁVEL – NUTRIÇÃO
Finalmente, a pesquisadora citou os estudos que já estão em andamento na unidade que poderão contribuir para o futuro da pecuária sustentável. Além do manejo de pastagem nativa, por exemplo, a Embrapa está testando o uso de subprodutos da indústria da região. É o caso da torta de oliva, que resulta do processamento do azeite de oliva.
De acordo com a pesquisadora, o produto se transforma de um passivo ambiental para um importante componente da dieta do gado. Dessa forma, óleo tem potencial para reduzir emissões de metano. Pelo baixo nível de proteína, mas alto nível energético, o insumo pode substituir o milho na nutrição animal, barateando custos de produção. Por último, acelerando a engorda do gado, a taxa de lotação poderia ser bem ajustada, reduzindo o tempo de permanência do gado em pastagem nativa ou cultivada.
EFICIÊNCIA ALIMENTAR
Logo depois, Genro citou os estudos para descobrir reprodutores Angus, Hereford, Braford e Charolês com melhor eficiência alimentar residual. Os indivíduos têm propensão a emitirem menos metano por consumir menos alimento, ao passo que transmitem a característica à progênie.
Em conclusão, a pesquisador falou ainda sobre o estudo do uso de leguminosas juntamente com pastagem nativa ou de cultivo. As leguminosas podem reduzir necessidade de uso de fertilizante nitrogenado, pois fixam nitrogênio no solo. Igualmente possuem alto valor nutritivo, melhorando o nível de absorção intestinal pelo gado, resultando em maior ganho de peso na comparação com o consumo do pasto solteiro.
QUANTO CUSTA REDUZIR A EMISSÃO DE METANO PELA PECUÁRIA?
“Nós nos antecipamos a esse tema. Esse tema certamente vai ser barreira comercial nos próximos anos. Não muito longe, bem perto. E nós já temos bastante resultado para subsidiar o produtor e bastante ferramenta para fazer essa redução”, disse em resumo a pesquisadora.
Enfim, Genro revelou um questionamento que recebe com frequência de pecuaristas. “O que todo mundo me pergunta é o que o produtor tem que pagar para reduzir emissão. Quanto custa para um produtor reduzir emissão? Contudo, se nós pensarmos em melhoria do pasto, melhoria da condição de solo e melhoria da condição animal, ele está ganhando. Não está pagando”, concluiu.
Por fim, assista reportagem da Embrapa em Ação sobre manejo de pastagem nativa, estoque de carbono, emissão de GEE e sustentabilidade da pecuária no Sul: