O que o pecuarista precisa saber antes de começar a operar com hedge, ou seja, para desenvolver uma estratégia que o proteja os riscos de sua atividade? Nesta terça, 05, a médica veterinária e cientista econômica Lygia Pimentel, fundadora e diretora executiva da consultoria Agrifatto, falou sobre o tema em entrevista ao Giro do Boi.
“Em primeiro lugar, ele precisa de conhecimento. Ele precisa entender de fato como funcionam as ferramentas, senão ele pode se frustrar e aí ele joga a culpa em quem recomendou a ferramenta para ele. A verdade é que a decisão precisa partir dele, de acordo com o conhecimento que ele tem da propriedade e do negócio dele. Então o primeiro lugar é conhecimento. A ideia é que você leia o livro, faça um curso, procure um profissional que entenda para te explicar o funcionamento destas ferramentas”, frisou.
“Em segundo lugar, você precisa conhecer a sua propriedade por dentro muito bem. Sem você conhecer seus números, não há como decidir. Você é um gestor rural, é um empresário rural e o gestor decide, mas para o gestor decidir, ele precisa de dados, […] ele precisa conhecer os números dele muito bem. Sem esta lição de casa, você decide, mas decide na emoção, e não na razão. E aí fica difícil encontrar a ferramenta mais adequada também. E, por fim, se ele já tem este conhecimento dos próprios números, se ele já tem uma ideia de como funcionam as ferramentas de gestão, ele precisa começar. Ele precisa fazer uma primeira negociação. Estes são os passos mais importantes para começar”, disse a analista.
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Lygia lançou recentemente o livro “Administre o risco de preços pecuários – Um guia prático para o hedge de sucesso”, que mostra aos pecuaristas um passo a passo de como fazer a proteção contra a desvalorização natural do preços das commodities e usa exemplo reais de aplicação destas ferramentas. A obra é comercializada pelo site da consultoria, agrifatto.com.br/loja, ou ou pelo e-mail [email protected].
“O pessoal fala muito que o hedge é uma coisa fundamental, que cada vez mais ele é necessário, que ele é fácil e que basta você começar a operar. Na verdade não é bem assim. Não tem mundo perfeito, então eu percebi que o pecuarista vinha com uma expectativa muito alta das ferramentas de gestão de risco, mas não tem milagre. O que a gente tem, sim, são ferramentas que reduzem o risco, não eliminam”, justificou Pimentel.
“A maneira como você administra tem muito a ver com o perfil da sua propriedade rural, o seu diagnóstico econômico, o momento de mercado. Todas estas variáveis têm que ser combinadas para você encontrar a melhor ferramenta, senão a sua experiência vai ser negativa. Então eu verifiquei que tinha muita gente que já tinha tentado utilizar, não tinha utilizado com sucesso, não tinha gostado da experiência, e outros que achavam que aquilo era fácil de aplicar, mas não sabiam nem por onde começar. Então foi daí que surgiu a ideia. Eu queria que o ‘financês’, que é a linguagem da bolsa, ficasse mais acessível para o pecuarista”, detalhou.
Segundo a autora, a obra traz casos emblemáticos, práticos e reais de usos destas ferramentas de proteção de preços que esmiúçam as situações até “a casa da vírgula”. “Eu senti que o mercado financeiro não fala a língua do produtor. Não adianta você tentar dar carteirada no produtor, vender um produto que para ele parece sofisticado, mas na verdade não é desse jeito que ele vai conseguir aplicar. As corretoras vendem muitos produtos delas, que são o mercado futuro e o mercado de opções, e às vezes não é bem o momento de usar estes dois mercados. Tem outras ferramentas, outras maneiras de colocar isto em prática”, ponderou.
Lygia ainda resumiu as principais partes que integram a sua publicação. “Tem a parte funcional, técnica do negócio, ou seja, o que é um contrato, o que é um mercado futuro, o que é o mercado de opções, o que é uma opção, como funciona, como eu negocio, esta parte que é mais técnica. Normalmente as pessoas trazem nos cursos esta parte técnica, mas eu acho que tem uma parte mais importante. Primeiro tem a introdução do livro, em que eu trago todo o contexto do aumento da importância de administração do risco de preços […], depois a gente faz um apanhado das demais ferramentas e a gente explica na prática como elas funcionam em aplicações reais. […] Por fim, eu ensino a fazer o planejamento estratégico, que é uma coisa inédita – como se planejar estrategicamente para usar a melhor ferramenta para seu caso específico”, sintetizou.
“Não tem uma receita de bolo, não tem uma ferramenta para todo mundo, cada ano é um ano. Então a gente precisa ter um planejamento para aplicar corretamente a ferramenta certa para aquele ano. E, por fim, eu falo um pouquinho de psicologia da negociação, ou seja, por que o preço sobe e nunca está bom. Eu acho que isso é importante também. Para além da reposição, […] a gente precisa entender porque o preço sobe, sobe, sobe e a gente nunca consegue aceitar que ele chegou em um patamar satisfatório”, concluiu.
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Veja a entrevista completa com Lygia Pimentel pelo vídeo a seguir:
Foto ilustrativa: Reprodução / Embrapa