
Professora Cácia Orlande explica como a ciência pode ajudar a melhorar a reprodução de equinos, que são peça-chave no manejo da pecuária de corte
Reprodução de cavalos exige atenção individualizada
No campo, o cavalo não é só companheiro, é ferramenta de trabalho. Seja na lida diária com o gado, no deslocamento por grandes áreas ou no manejo de bezerros recém-nascidos, o papel desse animal é indispensável. Mas, quando o assunto é fertilidade de equinos, ainda falta atenção.
Quem explica é a professora Cácia Orlande, especialista em reprodução animal: “Diferente da bovinocultura, que trabalha em escala de rebanho, o cavalo precisa de manejo reprodutivo individualizado. É um animal que demanda profissionalismo e olhar técnico”. Veja o vídeo:
No Brasil, são cerca de 6 milhões de equinos, número bem inferior ao de bovinos abatidos por ano, que gira em torno de 50 milhões. E justamente por isso, a reprodução de cavalos exige um cuidado especial.
Tecnologia melhora o sêmen de garanhões com baixa fertilidade
De acordo com a pesquisadora, a ciência tem evoluído para aproveitar até sêmen de menor qualidade, o que permite manter no mercado garanhões que já passaram da idade reprodutiva ideal ou que não apresentam alta fertilidade, mas que possuem qualidades importantes como resistência, docilidade e desempenho no campo.
Universidades como USP, UNESP, Unicamp e Unifesp têm liderado estudos para melhorar o sêmen após a coleta, possibilitando sua utilização com bons índices de fertilização. “Mesmo que não seja excelente, ele pode passar por procedimentos que o tornem adequado para uso”, afirma Cácia.
Genética funcional x genética fértil
A especialista lembra, no entanto, que existe um alerta nessa prática: “Estamos propagando genética funcional, mas com possível baixa fertilidade. O ideal seria equilibrar as duas características”.
Isso levanta uma discussão importante no campo: o que é prioridade ao selecionar reprodutores? No caso dos cavalos de manejo, características como rusticidade, conexão com o cavaleiro e adaptação ao ambiente muitas vezes pesam mais que o potencial reprodutivo puro e simples.
Cavalos são protagonistas no manejo de grandes rebanhos
Na pecuária de corte, especialmente em propriedades com milhares de cabeças, a presença de cavalos bem treinados faz diferença direta no desempenho do rebanho.
Cácia cita o exemplo do cuidado com bezerros neonatos: “Imagina uma fazenda com 1.000 vacas paridas. A cura de umbigo e o manejo inicial só são possíveis com o auxílio do cavalo. Ele permite que esse bezerro chegue ao curral com segurança e seja tratado adequadamente”.
A conexão entre cavalo, cavaleiro e gado precisa ser afinada. Esse entrosamento impacta diretamente a eficiência do manejo e, consequentemente, a produtividade da fazenda.
Comportamento animal influencia o resultado no campo
No mestrado do Instituto Cêncio Profissional em Produção Animal, onde a professora atua, o foco também está no comportamento e ambiência dos animais. “Temos estudado como o temperamento e as relações entre homem e animal impactam a produtividade”, comenta.
Ou seja, mais do que força e beleza, os cavalos precisam estar saudáveis, bem alimentados e conectados com quem está na lida. A reprodução é apenas um dos pilares — a base de tudo começa na nutrição e no manejo correto.