A estação de monta já começa a virar assunto nas rodas de conversa dos criadores de boa parte do Brasil. Com o retorno das chuvas, que geralmente ocorre em setembro, os produtores colocam em prática o planejamento para extrair o máximo de bezerros de suas matrizes. E para quem é do ramo, a frase “o cio entra pela boca” não pode ser desconhecida. Afinal, condição corporal é fundamental para bons índices reprodutivos.
Nesta segunda, 05, o Giro do Boi conversou com um médico veterinário especialista em nutrição e produção animal, Lainer Leite, diretor de pesquisa da Nutripura. Ele respondeu dúvidas sobre o momento certo de iniciar a dieta específica para fêmeas que vão entrar em reprodução, quais as alternativas em alimentação para recuperar escore corporal, falou sobre os nutrientes essenciais que devem estar nesta dieta e mencionou os dois principais fatores limitantes da produtividade da pecuária de cria.
Leite afirmou que a pecuária brasileira passou por um inegável processo de evolução que culminou em melhorias principalmente para recria e engorda, mas que a fase de cria ainda precisa de índices mais expressivos, pois está aquém de seu potencial. Atualmente, a taxa de desmama no Brasil fica próxima de 60%.
Para mudar esta realidade e subir para um patamar de 75% a 80%, conforme utilizou como exemplo o veterinário, o criador deve executar algumas lições de casa. “Nós temos uma série de coisas que precisam ser avaliadas. A genética é uma delas. A sanidade é outro ponto muito importante. A parte nutricional é determinante no sucesso. O manejo desses animais também é super importante para que você consiga melhorar em todas estas esferas que afetam o resultado de uma fazenda de cria, para que consiga sair de 60% a 65% de taxa de desmama para ser uma fazenda que consiga fazer 75% a 80%, que já são índices muito bons e bem aceitáveis”, estabeleceu.
“Antes um pouco da suplementação, o que a gente precisa ter na fazenda, talvez o que a gente mais tenha dificuldade e limitação dentro da fazenda de cria, é o processo de gestão. Se você tem na sua mão um diagnóstico real da sua situação, você começa a buscar alguns indicadores que vão permitir que você evolua. O maior limitante hoje em uma fazenda de cria em termos produtivos é a lotação. É muito difícil sair de uma fazenda que está com uma lotação de 1,2 UA/ha para 2,5 UA/ha porque a vaca permanece praticamente o ano inteiro na sua fazenda, então ela exige um planejamento muito mais estratégico. […] Saindo da lotação, a gente tem um segundo fator importantíssimo que é a nutrição porque na escala de prioridades da vaca, a reprodução é a última. Ela precisa manter a vida, dar leite para o bezerro que está ao pé, depois ela começa a restabelecer as reservas energéticas, entra em balanço energético positivo e aí sim é possível esta fêmea dar cio e emprenhar”, detalhou o diretor da Nutripura.
Uma vez que o trabalho de genética foi bem feito e a sanidade está bem monitorada para doenças reprodutivas, como neosporose, leptospirose, brucelose e BVD, por exemplo, é a vez de focar nos detalhes de nutrição, que vira fator determinante, indicou o veterinário. Para isto, o pecuarista deve se preocupar com o escore corporal das matrizes após a estação de monta anterior, após a desmama e administrar na dieta, conforme necessário, suplementação mineral, proteica e energética.
Para o produtor que deseja iniciar estas mudanças na forma de gerir o plantel de fêmeas, o especialista indicou que ele pode suplementar parte delas, e não todo o plantel, para garantir escore corporal, começando pelas que estão subnutridas. Leite contou ainda qual o momento ideal de fornecer suplementos específicos para a reprodução e quais os nutrientes que não podem faltar para garantir que a fêmea esteja pronta para o desafio. “A gente normalmente recomenda que estas fêmeas tenham sua suplementação direcionada para reprodução 30 dias antes da estação de monta. Isto significa que ela vai ter 30 dias consumindo níveis adequados dos macro e microminerais para que ela consiga ter um processo de reprodução adequado, ou seja, ela consiga ter um folículo adequado, entrar em cio. […] Você tem que ser preocupar tanto com os macrominerais, como fósforo, cálcio, etc, e também com os micro, como zinco, selênio, cobre, manganês, etc”, detalhou.
Em resposta a um telespectador, o veterinário também comentou a importância de fornecer vitaminas A e E na dieta. “São muito importante porque estamos tratando de detalhes”, complementou.
Para que a suplementação funcione, Lainer destacou que é recomendado que o pecuarista tenha certa condição de pastagem. Mesmo no período seco, é preciso que haja alguma bucha de capim para o consumo do animal. De outra forma, é possível fornecer alimento concentrado, embora possa encarecer o processo e tornar a atividade inviável economicamente.
“Não existe uma receita pronta para o produtor rural. É preciso entender aonde ele está e qual resultado atual ele tem. Se você vai começar a estação de monta em setembro e você tem um período seco severo, esta fêmea sua vai emprenhar e no mês de junho e julho ela vai passar boa parte da seca com bezerro ao pé. Isso é ruim para o escore corporal dela. Então o manejo para sua propriedade na sua região precisa ser definido, e bem definido, no planejamento inicial”, concluiu Leite.
Veja a entrevista completa no vídeo abaixo: