No programa que foi ao ar nesta terça, 09, o destaque do Giro do Boi foi para a recém-lançada plataforma digital Leather Labs, que tem entre suas funções facilitar o acesso de pequenos empreendedores ao couro legítimo brasileiro por meio de sua loja virtual. O assunto foi tema da entrevista com Guilherme Motta, presidente da JBS Couros, empresa responsável pela inovação.
“A JBS Couros é uma divisão dentro de uma organização de proteína animal. Nós agregamos valor ao coproduto bovino. Hoje nós temos 15 fábricas no Brasil e uma na Argentina, Uruguai, Alemanha, México, EUA e Vietnã. Somos uma empresa brasileira que promove agregação de valor em cima do couro bovino brasileiro, mas de amplitude global, estamos localizados em diversas regiões do mundo. […] É uma companhia formada por 7.200 colaboradores”, contextualizou o executivo.
Motta apresentou os diferentes destinos do coproduto, além de seu uso em calçados, indústrias automobilísticas e da moda em geral. “Existe uma gama enorme de produtos. Parte vai até para a indústria de alimentos, parte dos couros bovinos é dedicada à indústria de colágeno, de gelatina, à indústria de fármacos para o revestimento de cápsulas. Então tem uma gama enorme de produtos com couro bovino e suas aplicações”, acrescentou.
Conforme salientou Guilherme, o setor teve de buscar alternativas para se reinventar após passar por adversidades. “O setor de couros nos últimos anos estava numa crise setorial mundial. Foi uma crise global, quando o produto couro perdeu valor no mundo inteiro – nos EUA, Austrália, Argentina, no Uruguai, nos grandes produtores da Europa também. […] Alguns países da Europa chegaram a enterrar couros bovinos. No Brasil, foram descartados couros bovinos no ano de 2019. É um pecado. Não usar couros, esse sim seria um dano ambiental gravíssimo”, advertiu.
“No início da pandemia houve discussão sobre o curtume ser ou não serviço essencial, mas claro que é essencial. Se o curtume para, os frigoríficos não têm o destino apropriado para aquele material e ele se torna um resíduo industrial”, explicou. “E depois de 2019, que foi um ano um pouco traumático para o setor, […] a mensagem é: use couro! Usar couro é uma maneira de manter a cadeia perene”, relatou.
LEATHER LABS
Embora o Brasil esteja na vanguarda do volume e da tecnologia da produção de couros para as indústrias da moda, de calçados e de automóveis, o acesso de empreendedores de menor porte era de certo modo comprometido, conforme ponderou Motta, e democratizar este acesso desencadeou a concepção da iniciativa Leather Labs.
“Ela nasceu como uma plataforma online. Não nasceu exatamente por causa da crise da Covid-19, pois a gente já estava desenvolvendo esse projeto há três anos, mas a ideia sempre foi democratizar o uso da pele, dar acesso a produtores talvez mais de pequeno porte, como um artesão, tapeceiro, a materiais que normalmente são exportados. O Brasil tem uma parcela enorme da sua produção exportada. Então foi uma maneira de trazer esse pequeno produtor ou até mesmo ao público em geral para consumir esse material através de uma plataforma muito intuitiva, muito amigável, (não só para comprar, como também para) entender as aplicações do material – onde pode comprar, se pode comprar fracionado. Lá a gente pode vender a partir de uma peça só. Então se quiser comprar um couro, agora isso é possível”, resumiu o executivo.
Pelo Leather Labs, a aquisição da matéria prima é mais acessível por conta de, muitas vezes, a venda do couro acontecer em grandes volumes para grandes indústrias, dificultando oportunidades de manufatura em pequena escala. “A plataforma serve realmente para estender esse acesso. Por muitas vezes, o produto nosso é elaborado com uma especificação lá de fora. Mas esse acesso pode ser feito aqui dentro do Brasil”, reforçou.
CURSOS GRATUITOS
Ainda de acordo com o profissional, a plataforma se estende para um alcance que vai além da comercialização. “Muito mais do que vender couros, ela é uma plataforma para a gente trazer conteúdo. Conhecimento. Às vezes um arquiteto ou um tapeceiro não tem uma gama enorme de produtos, mas a plataforma vem para abrir esse horizonte, vem para expandir um pouco o portfólio deles”, exemplificou.
A iniciativa auxilia estes pequenos empreendedores em busca de reinvenção para ingressar na manufatura do couro ou reforçar sua capacitação por meio de cursos gratuitos, que ensinam algumas técnicas do uso do produto. “Esse curso aborda técnicas de tramas manuais feitas a partir de tiras em couro que podem ser aproveitadas de retalhos e sobras de indústrias e fábricas que utilizam a parte nobre da pele, mas não conseguem aproveitar o restante da pele recortada. O objetivo do curso é permitir que o aluno tenha um contato inicial com o material, experimente a técnica e, por fim, conheça as inúmeras possibilidades do trabalho manual em couro. Durante o curso, serão desenvolvidos produtos a partir dessa técnica, como bolsas, cestas, cachepôs, entre outros. Além de gratuito, o curso faz parte de um projeto social que tem como objetivo ajudar ONGs parceiras da plataforma“, consta na descrição disponível no site.
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De acordo com Motta, o couro comercializado pela Leather Labs carrega consigo toda a sustentabilidade intrínseca à pecuária de corte brasileira. “Sustentabilidade está na agenda do brasileiro há mais de décadas. A companhia que eu tenho o privilégio de trabalhar está na vanguarda, entre várias outras do Brasil, na sustentabilidade, na compra sustentável, na compra responsável dos animais. E nós, como indústria de couros, estamos inseridos nessa cadeia”, respaldou.
A plataforma oferece uma forma de rastreabilidade que leva o cliente final do couro até sua origem, conforme destacou. “Uma demanda principalmente da indústria automobilística era a rastreabilidade total. Nós precisamos entender de onde vem o produto que estava embarcando. Então dentro do Leather Labs e dentro dessa plataforma, a gente também tem acesso à rastreabilidade desse couro. Todo o couro nosso tem um código de identificação, pele por pele, que vai dizer qual é o dia do abate, qual é o frigorífico em que foi abatido, quais são as fazendas que abateram naquele dia dentro daquele frigorífico e qual foi o curtume que processou, o município, a unidade da JBS onde foi processado esse couro. Então essa rastreabilidade total conecta o produtor final ao consumidor final até a fazenda que gerou aquele animal. A sustentabilidade está no nosso dia a dia, está na nossa agenda. É no DNA. E o Brasil é realmente uma referência mundial”, confirmou.
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COURO DO BEM
Além de promover a indústria brasileira, facilitando o acesso ao couro nacional, o lançamento da Leather Labs impulsionou uma importante iniciativa voltada a mulheres em situação de vulnerabilidade social – a loja Couro do Bem.
“A gente conheceu uma mulher extraordinária, a Celeste Chad. Ela tem uma ONG extraordinária na cidade de Potim, no estado de São Paulo, que chama Orientavida. Há mais de vinte anos, o intuito dela é gerar renda para mulheres em alto grau de vulnerabilidade. Mulheres que tiveram problemas conjugais, que são arrimos de família, que são mães solteiras, que precisavam de um trabalho. E ela […] consegue agregar valor a materiais feitos ou com seda ou algodão, vários tipos de tecido, mas ela não tinha experiência nenhuma em couro. E nós fizemos um grande projeto com ela, em que nós a inserimos dentro da plataforma Leather Labs”, anunciou.
O executivo detalhou como funciona a parceria. “Nós demos as máquinas e nós levamos as moças que trabalham junto com ela para o Senai, oferecemos a instrução, capacitação para essas mulheres, que aprenderam a manusear couro, a usar as máquinas específicas de costura e corte para fazer materiais e produtos prontos, como uma necessaire, um boneco de couro […] e criamos um canal de vendas. E cada produto que nós vendemos, nós elaboramos uma rastreabilidade social. Dentro desses produtos existe um selo com um QR Code, você rastreia com seu celular e ele mostra quem foi a costureira que fez, quem foi a mulher que manufaturou. É realmente para impactar as vidas das pessoas. Dentro da plataforma, a gente podia fazer um pouco mais. Ainda é pouco, mas a gente acredita ter aberto um horizonte muito interessante para essas mulheres”, contou Guilherme.
+ Confira aqui os produtos manufaturados pelas mulheres atendidas pela ONG Orienta Vida
PROJEÇÃO
O executivo falou ainda em sua participação no programa sobre suas expectativas para o crescimento da indústria nacional de couros. “O Brasil nas últimas décadas se tornou um expoente desta indústria. Realmente há duas ou três décadas o Brasil estava começando na produção, dando seus primeiros passos em grande escala. O Sul do Brasil já era uma região muito eficiente na produção de couros acabados no País e o wet blue era a maneira de poder comercializar com o mundo. Existe muita tecnologia lá fora. A Itália é um dos principais polos produtores de couro do mundo, a China também. Mas o Brasil, ao longo das últimas duas décadas, deu uma grande virada. A indústria nacional vem ganhando muita musculatura, são muitas empresas no Brasil que têm um alto índice de eficiência, então isso só trouxe benefício para indústria e a nossa reputação como empresa de couro está super alta. O Brasil inteiro, a nação brasileira conseguiu agregar muito valor ao produto nacional”, celebrou.
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Confira pelo vídeo a seguir a entrevista completa com o presidente da JBS Couros, Guilherme Motta: