Nelore mantém competitividade da pecuária no Paraná em meio a redução de área

Com menor disponibilidade de áreas de pastagens por conta do avanço da agricultura, pecuária paranaense mantém nível de produção com a evolução da genética da raça

Em entrevista ao Giro do Boi desta quarta, dia 16, o publicitário e MBA em gestão empresarial Paulo Antonio Abrão Filho, presidente da Anel, a Associação dos Neloristas do Paraná, falou ao Giro do Boi sobre como a evolução da genética do Nelore, a raça mãe da pecuária brasileira e também paranaense, está ajudando o setor a manter a competitividade em meio uma redução de área de pastagem com o avanço da lavoura no estado.

“Como a gente tem uma terra muito fértil, muito produtiva, nos possibilita colher duas safras por ano – uma safra de grãos e uma safra de carne – e isso não é muito diferente com a maioria dos produtores locais. Muita gente é invernista, então utiliza esses campos de lavoura para recriar bezerro no inverno, para engordar boiada e isso acaba trazendo muita produtividade e índices positivos para as fazendas”, contou.

Conforme ponderou Paulo, criar um gado que viabilize a expressão do potencial das terras do estado é uma excelente opção para o pecuarista paranaense. “A gente vem perdendo muito espaço para agricultura, isso a gente vem vendo a cada dia, então o que nós precisamos dentro do Paraná é manter um gado de excelência”, observou.

Além do próprio Nelore servir como ponta de lança para esta transformação do agro no Paraná, o presidente da Anel também comentou a contribuição do zebuíno no cruzamento industrial. “Eu posso dizer que a nossa raça é soberana. Ela está presente em praticamente todas as linhas de produção. 80% do gado do País têm o sangue Nelore. A matriz zebuína, principalmente a matriz Nelore, tem um papel fundamental para o cruzamento industrial, que de fato vem fazendo um belíssimo trabalho. […] O número de confinamentos vem aumentando porque a gente vem perdendo áreas de pastagens para a soja, para o milho e para lavoura, de modo geral, então eu acho muito importante e benéfico principalmente para a pecuária do nosso Paraná”, frisou.

Paulo ponderou ainda em sua entrevista os obstáculos enfrentados pelos invernistas do estado com as mudanças nas regras para entrada de bovinos no estado – com a alteração do status sanitário do Paraná para livre de aftosa sem vacinação, a entrada de bovinos é permitida somente para o abate direto. “Em princípio a gente sempre teve um posicionamento contrário (à retirada da vacinação). Até acreditamos que não é muito positivo para nossa pecuária. […] O Paraná antecipou este pedido e acabou prejudicando principalmente os invernistas, que antigamente compravam gado dos estados vizinhos para engordar no Paraná”, lamentou Paulo.

O presidente da Anel disse que uma das dificuldades enfrentadas é por conta de o principal fornecedor de bezerros para recria e engorda do Paraná ser o Mato Grosso do Sul, uma fonte que não pode mais ser utilizada. “Isso acabava beneficiando muito os invernistas e aumentando as suas margens de lucro. Com esse fechamento, o valor da reposição ficou muito caro aqui dentro do nosso estado, então a tendência é que as margens diminuam. […] E um ponto que não foi benéfico ao nosso estado é que só é permitida a entrada de bois destinados ao abate, então estados vizinhos podem mandar boi para abater aqui”, acrescentou.

Em outra parte da cadeia produtiva, Paulo citou que os criadores e o produtores de genética acabaram sendo beneficiados porque a medida impede também a compra de touros e matrizes de outros estados. “Este fechamento prejudicou principalmente os invernistas, mas para aqueles produtores que fazem o ciclo completo e que vendem bezerros, está sendo muito benéfico. Até quando eu não sei, mas está. Outro nicho que está sendo muito beneficiado é o da genética, então muitos produtores que anteriormente compravam touros de outros estados agora são obrigados a comprar touros de produtores do Paraná”, detalhou.

Paulo falou ainda sobre as dificuldades do setor com a pandemia em 2020. “Infelizmente a gente não teve esta condição (de fazer eventos) aqui no Paraná. Um dos empecilhos foi o fechamento da barreira. Muitos criatórios participavam das nossas principais feiras aqui, casos da Expo Londrina, Umuarama, Paranavaí, Maringá… E com isto a gente não pode ter a participação destes pecuaristas, que era tão importante. Este problema da pandemia acabou freando um pouco as ações que a gente tinha planejado para este ano. A gente tinha algumas coisas muito interessantes, principalmente na feira de Londrina e que a gente teve que cancelar”, lastimou.

“A gente está levando este ano como um ano de lição, a gente está fazendo bastante planejamento, buscando algumas alianças com empresas prestadores de serviço e fornecedoras de insumos para pecuária para que a gente possa trazer mais benefícios para os nossos associados e buscar novos associados”, revelou.

O contato para os neloristas interessados nas ações da Anel pode ser feito pelo e-mail [email protected].

Leia também:

+ Fazendas do PR à beira da falência se tornaram exemplos de produtividade apostando na capacitação

+ Bruta de boa: por que a vaca Nelore é a “mãe” do rebanho de corte brasileiro?

+ De diamantes brutos a joias da pecuária, Nelore da Bahia ganha força no Brasil

Confira a entrevista completa com Paulo Antonio Abrão Filho no vídeo a seguir:

Foto: Reprodução / Emater-PR