Nesta quinta-feira, 23, o Giro do Boi levou ao ar entrevista com o médico veterinário e diretor técnico do escritório de desenvolvimento rural de General Salgado, no estado de São Paulo, Sidney Ezídio Martins. Ele alertou para o problema da mosca dos estábulos, que se alastra pelo Brasil e causa prejuízos para o pecuarista de corte, com perda de peso de até 20% por animal infestado, e para o pecuarista de leite, com diminuição de até 60% da produção.
Segundo o veterinário, o problema foi detectado na região noroeste do estado de São Paulo em 2008 e se agravou nos últimos dois anos. “A população das moscas aumentou muito e está distribuída praticamente por quase todo o estado de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e até Mato Grosso”, afirmou.
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A mosca se desenvolve em ambientes com grande disponibilidade de matéria orgânica vegetal em decomposição, o que é identificado, por exemplo, em plantações de cana-de-açúcar, sobretudo depois da proibição da queima da palhada, o que deixa nas áreas de plantio o vinhoto ou a torta de filtro, tipos de resíduos do processamento da cana, que se misturam à palhada. “É o habitat ideal para ela se desenvolver. Aí a proliferação da mosca começou a expandir e ela foi se adaptando a outros ambientes. Propriedades rurais, como granjas leiteiras e confinamentos, estão com uma população preocupante”, alertou.
De acordo com Martins, a queda na produção de leite chega a 60% por animal. No gado de corte, o impacto chega a ser de 20% de perda de peso. Isto ocorre porque, por conta do incômodo, os animais deixam de comer até a parição é dificultada. O veterinário destaca que cada animal não suporta mais do que seis a dez moscas por pata. “Mais do que isso é surto. Os prejuízos para o produtor são imensuráveis”, lamentou.
Há ainda registro de que a mosca, por ser um inseto hematófago, transmita doenças como a tristeza parasitária, anemia infecciosa para os equinos, mas pondera que estudos ainda precisam ser concluídos para indicar o fato com precisão.
MOSCA DOS ESTÁBULOS: CONTROLE
Cada mosca pode dar origem a até mil moscas, por isso o combate ao inseto adulto é meramente paliativo, avisou Sidney. O ideal é fazer o controle dos criadouros dos insetos, fazendo a limpeza de áreas com vinhoto (também conhecida como vinhaça) empoçada ou torta de filtro, resíduos de confinamento de gado ou cama de frango mal manejada.
Outra dica repassada pelo especialista é para aproveitar a entressafra da cana-de-açúcar para controlar a população do inseto “Nesta entressafra da cana, quando as indústrias estão parando a moagem e o uso potencial de vinhaça e torta de filtro vai diminuir bastante, as moscas vão para as propriedades rurais, como confinamentos e granjas leiteiras. Aí é fundamental o papel dos produtores rurais, granjeiros e confinadores, para combater a mosca, evitar os meios de cultura para ela se desenvolver. Ele não é culpado pela explosão da população, mas pode manter o controle durante a entressafra. Esta é uma importante recomendação para os meses de novembro, dezembro, janeiro e fevereiro: evite o acúmulo de matéria orgânica vegetal. E como nesta época a população de mosca adulta é mais baixa, a gente recomenda até que se faça o combate com armadilhas.
AVISO ÀS AUTORIDADES
No ano passado, o estado de São Paulo, pela Secretaria de Agricultura, criou um grupo de estudo para combater a proliferação da mosca dos estábulos, o que resultou no estabelecimento de uma legislação específica para controlar o inseto, a resolução 38, baixada pela Secretaria da Agricultura de SP em 03/07/2017. Nesta resolução, consta que o criador que tiver problema deve procurar unidade da Casa da Agricultura, uma unidade da Cati (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral) ou da defesa e fazer a solicitação para uma visita à propriedade. “Praticamente todos os municípios têm um técnico treinado e ele vai vai ver a causa do surto para auxiliar o produtor rural”, recomendou Sidney.
Veja a entrevista de Sidney Martins na íntegra pelo vídeo abaixo: