Minha vaca está com uma impinge que não cicatriza. Tem tratamento?

Criador enviou fotos da lesão e veterinário apontou as causas mais plausíveis, indicando tratamento para aliviar o sofrimento do animal até a chegada de um profissional

O pecuarista Nezon Francisco de Oliveira, com propriedade no município de Novo Brasil-GO, demonstrou em forma de pergunta a sua preocupação com uma vaca de seu plantel. “Tenho uma vaca leiteira que começou com uma impinge. Com o passar do tempo, foi criando uma crosta grossa que se transformou em feridas bem feias, que não cicatrizam de jeito nenhum. Tem tratamento para esta doença? Se tiver, qual o tratamento adequado para esta situação?”, questionou.

O Giro do Boi buscou o médico veterinário e professor Guilherme Vieira, criador das plataformas Farmácia na Fazenda e do Semiconfinamento.com.br, para orientar Nezon. “Ele nos informa que tem uma vaca leiteira que apresenta há muito tempo uma lesão cutânea na região da anca, na parte dorsal da anca, a qual apresenta lesões crostosas que ele chama de impinge”, contextualizou Vieira.

“Essas fotos sugerem algumas questões, algumas patologias. Mas eu lembro que para fechar um diagnóstico correto de qualquer lesão cutânea, há necessidade de se fazer um exame raspado cutâneo e, dando negativo para fungo, progredir para outros exames para poder fechar o diagnóstico, já que a literatura fala que existem mais de 300 lesões de pele que acometem os animais, tanto os ruminantes como os caninos, os equinos, todos os tipos de animais”, ponderou Vieira.

POSSÍVEIS CAUSAS

“Neste caso, a partir das fotos, nós podemos chegar a três possibilidades, entre tantas outras. Nós podemos chegar à conclusão de que pode ser uma dermatofilose, uma infecção causada pela Dermatophilus congolensis, que é uma bactéria que causa uma grave lesão na superfície da pele dos animais, principalmente dos bovinos”, apresentou.

“Pode ser também uma requeima ou fotossensibilização, caso esses animais estejam em pastos de braquiária, lembrando que a fotossensibilização não ocorre somente nos animais Nelore de pelagem branca, pode ocorrer também em outros animais”, revelou.

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“E também a dermatofitose, que pode ser a impinge. O nome popular é impinge ou tinha, causada pelos dermatófitos, principalmente do gênero Trichophyton, que causa essas lesões”, concluiu.

Reforçando mais uma vez a importância da presença de um veterinário na fazenda, Vieira disse o que o produtor pode fazer até esperar pela chegada do profissional para aliviar o sofrimento do animal. “O que tem que ser feito? Primeiro seria interessante chamar um colega veterinário aí na sua propriedade para fechar um diagnóstico. Mas até o colega chegar, nós vamos dar algumas soluções para o senhor”, anunciou.

“Ao verificar esse caso, e aí nós mandamos uma foto circunscrita de vermelho (confira seguir), […] a gente observa essas lesões crostosas, o animal apresenta essas placas crostosas bem evidentes, superficiais e espessas, além de uma inflamação. E o que nos sugere? Que aí já tem uma infecção bacteriana com segunda intenção, ou também que pode ser causada pelo dermatófito, no caso o Trichophyton, que é uma lesão cutânea de origem micótica”, projetou.

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É importante que o produtor entenda a influência da crosta no tratamento da doença, conforme ressaltou o médico veterinário. “O que nós sugerimos? Primeiro, prenda esse animal no tronco e, com água e sabão num recipiente bem limpo e higiênico, e também uma escova bem leve, o senhor faça uma lavagem e a remoção com cuidado dessas crostas. Por que isso? Ao retirar essas crostas, você vai expor a lesão e vai facilitar o tratamento. Ele nos escreve dizendo que essas lesões não cicatrizam de jeito nenhum, mas não cicatrizam porque geralmente essas crostas são à base de queratina, elas têm tecidos mortos e que, ao receber o tratamento local, impedem a ação do princípio ativo em cima da lesão e que provavelmente por isso não tem a eficácia sugerida”, advertiu.

“Depois que ele tirar essas crostas com bastante cuidado […] o que tem que ser feito? Secar e fazer uma lavagem durante dez dias com uma solução de hipoclorito de sódio, que é a velha água sanitária. […] Fazer uma colher de sopa (de água sanitária) em um litro de água. Lavar uma ou duas vezes por dia durante dez dias para poder limpar toda essa área. Se possível, fazer a aplicação de um unguento ao redor da ferida e colocar um mata-bicheira – não em cima da lesão, mas ao lado de fora (no perímetro da ferida) para evitar a ação das moscas e demais insetos alados. E aí é esperar até a chegada do colega veterinário, que provavelmente vai indicar uma antibioticoterapia por longo tempo para fazer um tratamento de suporte”, apontou Guilherme.

O veterinário indicou ainda mais uma medida cautelar para tratar de todas as possíveis causas da ferida. “Outra coisa que tem que ser feita […] é retirar esse animal do piquete se ele tiver em pasto de braquiária. Deve tirar esses animais do pasto de braquiária para evitar reincidência de uma possível fotossensibilização”, completou.

O especialista alertou para a importância de combater a ação de ectoparasitas e insetos que podem ou causar as feridas ou ainda carregar agentes infecciosos para a ferida aberta. “E uma coisa interessante que pouca gente sabe: se tiver carrapatos, fazer o tratamento à base de carrapaticida. E se tiver alta infestação de moscas na sua fazenda, fazer o acondicionamento correto dos dejetos e fazer uma limpeza ambiental e aplicação de mosquicidas. Porque pouca gente sabe, mas as moscas e os demais insetos alados são verdadeiros carreadores, ou seja, eles carregam microorganismos que podem causar lesões de pele, causar lesões bacterianas, respiratórias e outros tipos de lesões”, avisou.

“Então cuidado, além do aspecto higiene e sanitário, as moscas também são carreadores de patógenos que podem causar vários tipos de infecções nos animais”, concluiu.

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A resposta completa do médico veterinário Guilherme Vieira segue disponível pelo player abaixo:

Fotos enviadas pelo produtor.