Manejo de gado confinado fica mais fácil com aclimatação

“A gente ensina a boiada a trabalhar para a gente”, revelou especialista em bem-estar animal sobre o resultado do treinamento de manejo de gado em confinamento

No manejo de gado em confinamento, o pecuarista precisa entender de antemão que o boi está entrando em um novo ambiente.

“A grande maioria dos animais veio de área de pastagem. Muitos desses animais não bebiam água em cocho, bebiam água em córregos e rios. E o que a gente quer é mostrar esse novo ambiente”, declarou o coordenador técnico de bem-estar da MSD Saúde Animal Antony Luenenberg em entrevista à equipe de reportagem do Giro do Boi.

Luenenberg falou sobre o assunto em meio a um treinamento de aclimatação de bovinos em confinamento de gado de corte no Boitel JBS em Guaiçara, interior de São Paulo.

Conforme explicou o coordenador, “a aclimatação se concentra em alocar os animais em novos ambientes”.

“Com esse processo, a gente consegue fazer com que haja interação entre os animais, que eles se conheçam, que ele se hidratem, se alimentem, descansem e confiem nas pessoas que os estão manejando”, disse, esclarecendo o conceito do treinamento.

Como resultado, o Luenenberg apontou que é possível melhorar a saúde e também a movimentação desses animais, além de identificar as doenças precocemente.

“A GENTE ENSINA A BOIADA A TRABALHAR PARA A GENTE”

Analogamente, o especialista afirmou que é como se no treinamento de aclimatação os vaqueiros ensinassem a boiada a trabalhar para eles. “A gente ensina a boiada a trabalhar para a gente. No primeiro dia você vê movimentos aleatórios, o animal querendo sair por um lado, para o outro. Mas a partir da segunda ou terceira interação, eles começam a se movimentar em grupo e é isso o que a gente quer, fazer esse movimento […] de forma ordenada, calma, sem risco de acidentes para os manejadores e para os animais”, destacou.

Nesse sentido, o coordenador revelou em que consiste o treinamento. “A gente entra dentro da baia, mostra os quatro cantos. Quem confina, vai entender. Alguns lotes têm um lado que eles gostam mais. Por exemplo, tem lote que não encosta perto da porteira. Então a gente vai mostrar os quatro cantos do curral, vai mostrar o cocho de alimentação e o cocho de água”, informou.

Segundo o especialista, “as primeiras interações no treinamento a gente faz a pé e as demais a gente faz a cavalo e elas podem ser associadas à ronda sanitária”, ilustrou. “Por exemplo, na hora que os vaqueiros vêm para olhar a saúde, eles fazem esse processo de movimentar os animais dentro de uma baia”, explanou.

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COMPLETANDO O TREINAMENTO

Segundo o especialista em bem-estar animal do Friboi Carlos Silva, o treinamento de manejo em curral no confinamento já havia sido realizado na unidade. “Agora, finalizando hoje esse treinamento aqui em Guaiçara, e a expectativa é que a gente realize futuramente, ao longo do ano de 2022 nas demais unidades nossas de confinamento”, projetou.

De acordo com Silva, os benefícios são sentidos no tanto no bolso do produtor, mas vão além disso. “Independentemente do resultado financeiro, é bom a gente reforçar as boas práticas de bem-estar animal. É uma questão ética, mas obviamente que isso também trará resultados positivos, tanto para o confinamento quanto para a indústria”, reforçou.

Em suma, Carlos apontou que o treinamento desperta nos animais um temperamento mais brando. “Isso traz para a gente também uma segurança maior tanto para os animais quanto para os próprios vaqueiros durante o trabalho deles com os bovinos. E todo mundo acaba ganhando, até em rendimento de carcaça. […] Nós teremos também um manejo de embarque, transporte, desembarque mais tranquilo. Também a expectativa nossa é que dentro da planta frigorífica os animais sejam menos reativos”, estimou.

Além disso, Carlos também ressaltou a relação de confiança do animal na equipe de manejo de gado do confinamento. “Essa aclimatação que ocorre nos primeiros dias de confinamento faz com que o animal se sinta mais confiante no vaqueiro. E aí, naturalmente, ele se sente mais confiante para demonstrar suas dores. Caso ele esteja doente, essa doença é identificada precocemente e o animal é tratado. Com isso, a gente melhora a condição de saúde dos animais, eles se tornam mais saudáveis e o índice de mortalidade do confinamento também diminui”, disse, em síntese.

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PRÉ-ABATE

Por fim, Antony explicou que o treinamento de aclimatação prevê também exercícios de pré-abate. “Só para a gente entender um pouco o processo, a aclimatação dura em torno de 15 dias. Então nos 15 dias, a gente vai movimentar os animais dentro da baia e, nesse período, nós vamos fazer em torno de três interações com eles, que é quando a gente começa o exercício de pré-abate”, revelou.

“A gente já começa a treiná-los a sair de dentro da baia do confinamento e retornar para ela”, detalhou.

Como resultado, Luenenberg projetou que quando os animais estiverem no ponto de abate, prontos para o embarque, eles se sentem menos ansiosos. “Porque eles já aprenderam a sair da baia. Então você diminui o risco de acidentes, de contusão de carcaça, acidentes com os manejadores também, porque ela vai muito mais calma para o curral. […] Melhora a vida dos animais e das pessoas também”, concluiu.

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