Na busca por selecionar novilhas precoces, que possam emprenhar mais cedo e aumentar o desfrute de uma fazenda de gado de corte, a predisposição genética é fator essencial, mas precisa estar associação a uma importante variável para que o genótipo seja expressado no fenótipo – a nutrição.
Em entrevista ao Giro do Boi desta segunda, 1º, o pesquisador da Unesp de Jaboticabal-SP e professor de livre docência da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos de Pirassununga-SP, Fernando Baldi, também diretor de pesquisa e inovação da ACNP, falou sobre uma recente pesquisa que conduziu e apontou importância desta relação genética x nutrição.
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O estudo sobre a precocidade sexual de novilhas foi feito com 613 animais da categoria na Fazenda Bacuri, propriedade de Gabriel Seraphico Peixoto em Barretos, interior de SP, e buscou descobrir por que boa parte de suas fêmeas, mesmo selecionadas para a característica, não emprenharam de fato quando desafiadas à reprodução pela primeira vez.
Segundo Baldi, a pesquisa realizada em 2019 quis esclarecer se a DEP 3P (probabilidade de parto precoce), que direciona a seleção para precocidade sexual do Nelore, funcionava na prática. O diretor de pesquisa e inovação da ANCP indicou que o estudo na Fazenda Bacuri trouxe um resultado importante, não apenas para o criador, o selecionador, mas para o pecuarista de gado de corte, contribuindo para informações que ajudam na tomada de decisão na hora da compra reposição.
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“O Programa Nelore Brasil disponibiliza mais de 30 DEPs para o criador na raça Nelore. E a pergunta era se um selecionador que quer escolher suas novilhas para precocidade sexual, se realmente essa DEP 3P funcionava. E aí fizemos uma pesquisa, na verdade, para identificar quais são as DEPs mais importantes para separar novilhas precoces e não precoces. […] E a DEP 3P foi a mais importante para separar novilhas precoces e não precoces. […] Então o resultado mostra que o criador por confiar nessa DEP porque realmente ela indica ou identifica os animais com maior precocidade sexual”, assegurou Fernando Baldi.
Entretanto, o estudo apontou que o pecuarista deve estar ciente de que existe outro passo importante para que ele possa desfrutar dessas fêmeas selecionadas para precocidade sexual. “A genética é importante para o animal manifestar precocidade sexual, mas também a nutrição é muito importante. E aí, contrariamente ao que muitas vezes o criador ou o técnico de campo pensa, o peso seria a variável mais importante. A gente identificou que aquelas novilhas que tiveram maior ganho de peso na fase pré-desmama foram as que tiveram maior sucesso de prenhez quando desafiadas. Então, nesse sentido, não apenas é importante o peso, mas o ganho de peso pré-desmama é uma variável muito importante para se levar em consideração. E aí, obviamente, valem todas as estratégias de manejo e nutrição na fase de pré-desmama, que contribuem muito para o sucesso da prenhez”, revelou o professor da FZEA-USP.
Apesar de o recente estudo na propriedade do interior paulista certificar a descoberta, Baldi lembrou que observações similares em outras fazendas já apontavam o caminho. “A gente já teve resultados semelhantes em outras fazendas da ANCP, caso do plantel do Carlos Viacava”, ilustrou.
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“O ganho de peso pré-desmama é muito mais importante em relação ao que acontece no pós-desmama porque no pós-desmama você tem que pensar que muitas vezes é pouco tempo que esse animal tem para se recuperar, caso na pré-desmama ele não tenha passado por um bom manejo, uma boa nutrição”, sustentou. Depois, o ciclo se repete. “É importante, inclusive, (a boa nutrição) desde a fase próxima do parto dessa novilha precoce, que ela ganhe condição corporal porque essa maior condição corporal vai sustentar a produção de leite e a alimentação da bezerra nos primeiros meses de vida”, ressaltou.
Baldi comentou ainda outra característica importante para a seleção de novilhas precoces depois da DEP 3P, combinada à nutrição – a espessura de gordura. “De todas as DEPs disponíveis na ANCP, a DEP 3P, para precocidade sexual, foi a mais importante, ou seja, essa mensagem não é importante apenas para o selecionador, mas também para o criador de gado de corte, que deseja comprar um reprodutor ou sêmen de um touro com essa característica. E um outro resultado que a gente gostaria de destacar, a segunda característica mais importante, foi acabamento da carcaça, medido por ultrassonografia. Isso é conhecido, é sabida essa relação que existe entre gordura e reprodução. Então isso mostra a característica, pensando no Nelore, quando a gente fala de melhorar a raça, em qualidade de carne, qualidade de carcaça… A gordura não é apenas importante para a qualidade da carne, mas também para a reprodução das novilhas”, salientou.
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“É um resultado muito importante do ponto de vista prático, no sentido de que precisamos melhorar o acabamento da raça Nelore pensando na qualidade da carne, mas também por outro lado melhorando a precocidade sexual das novilhas. É um resultado fantástico”, frisou.
Depois do estudo conduzido na Fazenda Bacuri, Baldi disse que os pesquisadores chegaram a um número em comum que aponta quando começa a valer a pena desafiar as precocinhas – 60% de prenhez positiva. “Esse seria um valor mínimo necessário para toda a reposição do seu rebanho de fêmeas precoces. Com um valor menor a 60% somente com as novilhas precoces, você não consegue fazer sua reposição, por isso é importante a gente ter percentuais altos, de forma que todas as fêmeas de reposição do seu rebanho venham de fêmeas precoces”, justificou.
O diretor da ANCP respondeu por que acredita que o criador deve de fato desafiar suas novilhinhas à reprodução. “A primeira justificativa é econômica, porque fazendo o desafio, você consegue tirar uma categoria do campo, uma categoria improdutiva da sua fazenda, que seria a categoria de novilhas de 2 a 3 anos sem prenhez. Existem trabalhos que a gente tem feito e apresentado que você consegue aumentar em 25% a capacidade da sua fazenda, pois consegue ocupar piquetes com matrizes. Ao invés de ter uma novilhas tardias, você tem uma novilhas precoces”, argumentou.
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“Essa novilha precoce tem também maior chance de permanecer no rebanho, ou seja, é de maior longevidade. Com essa característica 3P, essa novilhas não são mais precoces somente na primeira estação de monta – essa característica se repete ao longo das próximas estações de monta. Essa novilha que pare tem maior chance de emprenhar de novo, não só na primeira monta, mas na segunda, na terceira monta e assim por diante. Então ela tem menor chance de ser descartada, ela ganha longevidade produtiva”, acrescentou.
Ainda de acordo com Baldi, o retorno financeiro vai além do bezerro produtivo. “Não é apenas um bezerro a mais. Pensando no ponto de vista econômico, com uma novilha que parir antes, você consegue o capital investido retornando um ano antes quando comparado com uma novilha que é desafiada pela primeira vez aos dois anos, o que seria um esquema mais relaxado, do ponto de vista produtivo, não falando em genética. Do ponto de vista produtivo, o animal que começa a produzir antes e que, ao longo de sua vida tem maior chance de te entregar um bezerro a mais. E no preço que está a reposição hoje, sem dúvida, não precisamos fazer muita conta para validar esta questão”, opinou.
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Baldi elencou ainda durante sua participação no Giro do Boi quais são os principais erros dos criadores na hora de selecionar suas novilhas precoces. “(Precisa) melhorar nutrição, pré e pós-desmama. A gente fala que selecionar precocidade sexual não é apenas comprar um touro de boa avaliação para a característica. Precisa melhorar o manejo da fazenda e existem vários exemplos (de como fazer isso) […] Você pode integrar, fazer a integração lavoura-pecuária, que permite melhorar quantidade e qualidade das pastagens que você vai fornecer para essas novilhas precoces para ter êxito quase garantido”, exemplificou.
“Outro ponto é que o sucesso da precocidade sexual não se atinge somente até o momento da prenhe. A gente precisa acompanhar, ter um carinho diferenciado com a novilha precoce até a segunda concepção”, completou.
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O especialista revelou ainda como o produtor pode apartar, dentro de sua safra de bezerras, quais poderão ser destinadas ao desafios das precocinhas. “(O criador deve) tentar selecionar ou identificar aqueles animais que durante a pré-desmama tiveram desempenho acima da média do seu rebanho. Utilizar esse indicador de ganho de peso pré-desmama e o peso à desmama são duas variáveis importantes porque a gente fala que o peso na hora da monta é menos importante. Mas para chegar a um peso mínimo de 240, 250 kg, você tem que ter uma desmama de 170, 180 kg, sempre acima desse valor para ter maior chance de prenhez. A gente não vai investir em protocolos de IATF em animais que a gente sabe que não vão corresponder”, ponderou.
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Baldi reforçou que mesmo novilhas que recebem uma nutrição para recuperar escore no pós-desmama não terão o mesmo desempenho quando comparadas às novilhas que apresentam ganho de peso linear desde o seu nascimento. “Mesmo que após a desmama a gente faça um plano intensivo de nutrição para recuperar esses animais, a gente sabe que a probabilidade de sucesso vai ser menor em comparação ao animal que já vem com um bom desempenho desde o nascimento. […] É muito critico quando um animal não tem um ganho de peso adequado, não ganha peso durante um determinado período, e isso vai impactar futuramente na vida reprodutiva desse indivíduo. Então é sempre importante que durante a pré e pós-desmama esse animal tenha ganho de peso, não pode deixar cair o ganho de peso”, sugeriu.
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Veja no vídeo a seguir a entrevista completa com Fernando Baldi:
Foto: Reprodução / ANCP