O calor é intenso e o consumo de água – uma das formas de regulação térmica do gado – aumenta expressivamente para que o animal se refresque. Mas ao mesmo tempo, a escassez de chuvas leva embora boa parte da água disponível para esse gado. O que fazer em casos assim? Foi disso que tratou em participação no Giro do Boi desta sexta, 23, o médico veterinário especialista no assunto Fernando Loureiro.
“Nós estamos em meados de outubro com um calor intenso, muito forte no Brasil Central e no Norte do Brasil. Adicionado a isso, um período de estiagem muito prolongado. Há muito tempo a gente não tinha um período tão longo sem chuvas regulares em algumas fazendas, mais de 90 dias, 120 dias e agora, recentemente, eu tive relatos de fazendas no Norte do Brasil há 150 dias sem nenhuma gota de chuva”, contextualizou Loureiro.
Desta vez, Loureiro comentou preocupação comum a dois telespectadores: Gilberto, da região de Uberlândia-MG e que trabalha com gado no Pará, e também Alexandre Scaff, pecuarista em Anastácio-MS. “A famosa Anastexas, uma região de bastante produção de gado”, brincou Loureiro.
“O pessoal está preocupado com esse calor. As represas, como essa aqui de trás, estão secando, acabando a água e virando só um restolho de barro […] E como servir água de qualidade para os animais?”, disse o veterinário, apresentando a dúvida.]
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Louro explicou qual é a relação do calor com o consumo de água pelos bovinos. “A gente tem que tomar bastante cuidado porque os animais, os bovinos a pasto, têm praticamente dois meios de combate o calor. Um é indo para a sombra, sombra das árvores, os capões de mato, que muitas vezes não estão disponíveis e aí a gente teria que prover uma sombra artificial. O outro meio, o principal deles, é a termorregulação em que o animal consegue baixar sua temperatura bebendo mais água. A necessidade de água dos animais aumenta bastante nesse período”, exaltou.
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Fernando apresentou gráfico de um estudo de Marco Balsalobre (Esalq-USP) sobre esta proporção. “Ele tabulou pelas categorias de peso dos animais, como vocês podem ver (confira na imagem abaixo), e diferentes faixas de temperatura. Animais que estavam a 21º C de temperatura média do dia a 26,5º C e a 32º C. Infelizmente, a mensuração parou nos 32º C. Hoje a gente tem vivido realidades de 37º C de temperatura média do dia, 40º C, em algumas regiões, 42º C nos horários mais quentes. E aí os animais precisam de muito mais água. Vocês veem aqui nesta coluna os animais adultos, de 450 kg, que ele eleva a necessidade de 55 litros por dia para 78, então a 40º C a gente pode predizer que, facilmente, passaria dos 100 litros de água por dia a necessidade desses animais”, projetou.
Fernando apontou algumas soluções das quais a fazenda pode lançar mão numa situação de emergência. “Como, então, fazer nesse período, em que justamente está muito calor, não tem chuva e as aguadas estão secando? […] Muitas vezes as fazendas não têm estrutura pronta para prover água para os animais, para levar uma água encanada até as pilhetas, os bebedouros artificiais. Ou mesmo a água é captada de uma dessas fontes, desses açudes, que acabam secando. Emergencialmente tem que se resolver com locação de caminhões-pipa ou empréstimo de vagões-pipa para serem puxados pelos tratores. O importante é servir água para os animais porque eles têm as suas necessidades aumentadas. Eles sofrem muito com o estresse térmico, com esse excesso de calor e falta de chuva, assim como nós. Só que os animais não conseguem ir atrás desse recurso”, comparou.
Para poder solucionar o impasse antes de ter prejuízos mais severos, Fernando sugeriu planejamento. “É bastante comum essa situação de açude, de represas secando, não tendo nova entrada, captação de água de chuva porque não chove. E mesmo que comece a chover agora nessa semana, daqui a duas semanas, daqui a um mês, leva um tempo para que os açudes e represas recuperem a quantidade de água que eles tinham para suprir as necessidades dos animais. Então bastante atenção, entre no trabalho, no projeto de planejamento da fazenda, nós vamos ter períodos de inverno, de estiagem, de falta de chuvas nos meses de julho, agosto, setembro. Vai ocorrer novamente no ano de 2021 e de 2022. Em alguns anos, a seca é mais severa, em outros anos nem tanto. O calor que está nos assolando é intenso. Essas duas condições levam os animais a um estresse térmico, eles se sentem bastante abatidos, eles ficam com a respiração comprometida, eles perdem apetite e os desempenho cai assustadoramente. A gente deve atentar para poder prover o máximo de água, água em abundância em bebedouros de tamanho adequado na localização adequada para suprir esses animais”, sustentou.
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Qual é a sua dúvida sobre qualidade da água para gado de corte? Envie para o Whatsapp do Giro do Boi, pelo número (11) 9 5637 6922 ou ainda pelo e-mail [email protected].
Veja na íntegra a participação de Fernando Loureiro no Giro do Boi desta sexta, 23: