Fazendas à beira da falência se tornaram exemplos de produtividade apostando na capacitação

Gestor transformou a história de propriedades improdutivas com qualificação pessoal e profissional dos colaboradores; em uma das fazendas, taxa de prenhez saltou de 65% para 90%

Foram mais de 50 cursos realizados em um período de oito anos para colaboradores de duas fazendas localizadas no interior do Paraná. A história do gestor rural Eriel Alves de Oliveira, que resgatou a produtividade de propriedades nos municípios de Roncador e Mato Rico, foi contada em detalhes no Giro do Boi desta quinta, dia 24.

Nascido na cidade de Araruna, no Centro-Ocidental paranaense, Oliveira foi criado no campo, acompanhando seus pais nas atividades em uma pequena propriedade rural. “As minhas origens sempre foram do campo. Nasci e fui criado na lavoura e desde bem cedo já acompanhava as atividades junto com os pais. Sempre vivendo e me divertindo quando criança, desfrutando de tudo aquilo que a natureza oferecia”, relembrou.

Pelo pequeno porte da propriedade da família, Eriel buscou oportunidade de crescer profissionalmente na indústria, setor no qual trabalhou por dez anos. Mas o destino já estava traçado. O dono da indústria, o patrão de Eriel, precisava melhorar a produtividade de sua fazenda em Roncador, também na região Centro Ocidental do PR, e encontrou no profissional a solução para transformar a história de sua fazenda e de seus trabalhadores rurais também.

“A princípio (a tarefa) foi montar um sistema de gestão empresarial para tornar a fazenda economicamente viável sempre levando em consideração as responsabilidades ambiental, social e visando o bem-estar dos colaboradores”, resumiu brevemente Eriel.

O plano elaborado, segundo o gestor rural, tinha objetivos claros, definidos, buscando os recursos tecnológicos viáveis e melhorando qualidade de equipamentos, máquinas e, claro, a qualificação da mão de obra. “Hoje a gente tem visto que a margem não só do agronegócio, mas de qualquer atividade, tem reduzido muito, então você tem que trabalhar em cima de produtividade e de redução de custos e sempre estar atento não só dentro da porteira mas tudo aquilo que está acontecendo fora da porteira também”, analisou.

Para atingir suas metas, Eriel envolveu toda a comunidade da fazenda em Roncador-PR. Buscou no Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) do Paraná cursos não somente voltados à atividade primária da propriedade (como armazenagem, classificação de grãos, operação e manutenção de máquinas), como também cursos de desenvolvimento pessoal, como primeiros socorros, panificação e 5S.

Com o sucesso da ‘empreitada’, Eriel foi convidado a desenvolver trabalho semelhante na Fazenda Bele Tele, em Mato Rico, no Centro-Sul do Paraná, onde implementou a mesma filosofia de administração. “Basicamente os fatores fundamentais são um plano de gestão bem elaborado em que você consegue envolver os colaboradores com objetivos claros e bem definidos, saber aonde você quer chegar, e é fundamental ter a capacitação e o envolvimento das pessoas em todo o processo produtivo”, simplificou.

No quadro abaixo, é possível verificar o impacto da execução do plano do gestor rural em apenas três anos na administração da Fazenda Bele Tele.

“Aplicando o conhecimento do Eriel e os cursos, cada um foi melhorando aos poucos e conseguimos chegar a esta mudança atualmente. Claro, não foi de uma hora para outra, são três anos em que estamos trabalhando nisso, mas conforme as pessoas vão adquirindo mais conhecimento e vão aplicando na prática, as coisa vão mudando, vão melhorando”, disse ao Giro do Boi a proprietária da Fazenda Bele Tele, Cibele Soria, uma das filhas de Nelson Soria, o proprietário da Bele Tele falecido há dois anos.

Cibele contou ao programa como passou pelo obstáculo de encontrar os melhores profissionais, aptos a contribuir para a fazenda vencer os desafios propostos. A solução estava bem próxima. “No início até existia essa dificuldade para contratação, mas a nossa decisão foi investir nas pessoas que já estavam conosco e trabalhar na capacitação delas para melhorar as coisas porque não adianta só ir atrás de novos profissionais, temos que envolver também as pessoas que já estavam conosco, que estavam trabalhando desde o início”, revelou.

Para realizar os cursos de capacitação pessoal e profissional oferecidos pelo Senar, Eriel afirmou que não houve um investimento específico, uma vez que eles são oferecidos gratuitamente para os produtores que contribuem com a instituição. “Um grande parceiro nosso desde o início tem sido o Senar. O Senar tem uma grande quantidade de cursos específicos para todas as áreas voltadas ao agronegócio. Não só na parte técnica, mas treinamentos que trazem crescimento profissional e pessoal para os colaboradores. […] Nós dizemos que os cursos do Senar são gratuitos. É descontada uma alíquota de 0,2% sobre todo produto comercializado, mas independentemente se o produtor usa ou não o treinamento do Senar, esta alíquota é descontada, então praticamente para a fazenda isto é gratuito”, elucidou.

O gestor rural indicou o “caminho das pedras” aos produtores e demais administradores, não só de estabelecimentos rurais, que estão no início desta jornada. “A gente percebe que muitas vezes tem produtor que não sabe ou até muitas vezes não tem ideia do quanto é importante a capacitação dos colaboradores. A princípio, quando você leva essa ideia, você encontra um pouco de dificuldade porque é uma mudança de comportamento. Mas à medida que os resultados vão aparecendo e você envolve o pessoal nesse processo produtivo e eles veem o quanto isso é gratificante, não só no aspecto profissional, mas pessoal também, tudo começa a ficar mais fácil”, estimulou.

Confira a entrevista completa com Eriel Alves de Oliveira e Cibele Soria pelo vídeo abaixo:

Foto: Reprodução / Senar-PR