Um salto de quase duas vezes no GMD, que saiu de 380 para 730 gramas por dia, com uma produção de nove arrobas por hectare, margem de 40% entre o custo de produção e a venda, além de um faturamento de quase R$ 1.000,00 por hectare. O desempenho da Fazenda Barra, localizada em Cassilândia-MS, é um grande caso de sucesso, mas construir sistema produtivo que levou a esses resultados não foi um caminho fácil. Que o diga o pecuarista Pedro Henrique Camargo, que nesta sexta contou a trajetória sua e da propriedade em entrevista ao Giro do Boi.
“A fazenda veio de herança da família da minha esposa e em 2014 a gente assumiu ela. Era a avó da minha esposa, dona Dagmar, quem tocava a propriedade, […] comprava bezerro, capava com 18 a 20 meses e depois de engordar até 17 ou 18 arrobas, matava. Era o feijão com arroz, que antigamente todo mundo fazia. E quando a gente assumiu, a gente viu que tinha que melhorar. E aí quando a gente assumiu, tinha pouco mais de 100 reses na fazenda, e a gente vendeu pois a boiada estava praticamente gorda, e comprou 270 bezerros e começamos a rodar”, recordou.
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Mas a mera troca da boiada gorda em mais bezerros não era o suficiente para resgatar a propriedade. Com aguadas inadequadas e pastos mal divididos e degradados, os bezerros sofreram até virar boi gordo. “Desse jeito não ia dar certo, não ia ser uma coisa interessante. Aí eu com minha esposa e meu cunhado sentamos e decidimos que ninguém ia investir na fazenda, só que o dinheiro que rendesse na fazenda ia ser reinvestido nela. Aí quando a gente matou aqueles bois, foi bem difícil, porque a gente não tinha muita divisão de pasto, algumas áreas bem degradadas, outras já virando mato, não fazia aplicação de defensivo nem correção de solo, calagem, nada. Aí quando a gente matou esse gado, aumentou um pouco o poder de compra de animais e para sobrar dinheiro em caixa para fazer as benfeitorias necessárias, a gente passou de macho para fêmea. A intenção era fazer um a dois giros de fêmeas, porque o capital investido em gado seria menor e sobraria mais dinheiro para investir na fazenda e depois a gente voltaria para macho. Só que como deu muito certo na fêmea”, detalhou.
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O que seria um sistema temporário para capitalizar a Fazenda Barra virou especialidade. Na propriedade relativamente pequena, de 220 hectares, a agregação de valor virou ferramenta chave do resultado financeiro e fez com que a família também optasse pela troca da engorda de Nelore para a de novilhas todas meio-sangue Angus. Para engordar os animais cruzados, mais exigentes, a fazenda também foi adequando sua estrutura.
“A gente teve que ir fazendo mágica! […] Nós fizemos a reforma de pastagem e rotacionamos a fazenda toda, hoje são 28 pastos na fazenda (eram somente cinco), reformamos 55 hectares para a gente melhorar o manejo de pasto. E no decorrer desse negócio das fêmeas, a gente começou com Nelore e passou a criar as meio-sangue Angus. Depois que a gente pegou as cruzadas de Angus, agora o nosso gado é 100% meio-sangue Angus. […] O primeiro lote que eu comprei meio-sangue Angus eu terminei no confinamento de grão inteiro, isso lá em 2017 (foto em destaque acima). Quando eu coloquei lá, eu achava que tava gorda demais da conta, tava dando 425 kg, queria até colocar num concurso de carcaça Angus”, lembro o pecuarista.
Pedro exibe fonte que corrigiu as aguadas da fazenda: gravidade da água da serra diminuiu também o custo com bombeamento.
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Atualmente, o produtor recebe bônus pelas novilhas que abate pelo Protocolo 1953. “Falando especificamente do 1953, quando a gente passou a mexer com Angus […] a gente começou a buscar programas de bonificação […] Tem o Precoce MS, do qual a gente faz parte desde 2017, e aí veio o 1953, quando a gente passou a mexer com Angus, que deu um salto muito grande nas bonificações mesmo. Animais desses que chegam a ser bonificados em R$ 15,00 a arroba, em cima da arroba de boi”, pontuou Pedro.
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A trajetória de sucesso da Fazenda Barra consolidou-se mais ainda quando a propriedade passou a integrar em 2020 o programa de capacitação em gestão e comparação de resultados Fazenda Nota 10. Em menos de uma safra, a fazenda já descobriu a oportunidade de aumentar rebanho e o ganho médio diário, mas sem aumentar tanto os custos, trocando a TIP – terminação intensiva a pasto – pelo confinamento, cujo primeiro giro começou há pouco mais de dois meses. “Sobre o programa Fazenda Nota 10, quando a gente começa a trabalhar com números na mão, fica mais fácil a gente tomar as decisões. A gente tinha um ganho de 380 gramas antigamente e achava que era muito bom. Agora a gente viu, quando começou a comparar com outras fazendas e viu o que elas estavam fazendo melhor, que a gente agora quer melhorar em alguns pontos que não era tão bons” sustentou o pecuarista.
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“O problema da sucessão é um desafio em qualquer empresa familiar”, comentou o diretor da área de relacionamento com pecuaristas do Friboi, o zootecnista Fábio Dias. “Pode ser uma padaria, um restaurante ou uma fazenda. A diferença é que a fazenda, às vezes, passa por um processo de transição de liderança, tem equipe, rebanho, tudo a longo prazo. No Fazenda Nota 10, […] o fato de poder comparar a fazenda, de poder posicionar os seus indicadores e comparar os seus resultados com vizinhos, com fazendas parecidas com a sua, em situação semelhante, empoderou de uma forma impressionante esses jovens líderes que estão assumindo, sucedendo lideranças anteriores. Porque com números e a possibilidade de comparação, é muito mais fácil você discutir com a sua equipe, gerenciar. Então a grande mudança, o que eu vejo de mais importante, é esse ponto que o Fazenda Nota 10 permite realmente, uma grande comparação, tudo muito bem organizado pelo instituto Inttegra. Os jovens gestores ganham muito poder com isso”, opinou Dias.
“Eu vejo muito e me surpreende em vários casos que a gente tem visto do Fazenda Nota 10: pessoas que não eram do ramo, jovens recém-formados, que acabaram de receber a tarefa, jovens como o Pedro, que receberam uma fazenda com algum problema. Na hora que ele começa a se dedicar ao negócio e tem poder de comparar, ele ganha coragem de investir, de convencer os familiares, não necessariamente só a equipe”, completou o zootecnista.
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Fábio Dias ilustrou o nível de produção a que chegam as propriedades que passam a integrar o Fazenda Nota 10. “Teve até um webinário que a gente fez com o Antonio Chaker há cerca de um mês (relembre pelo link abaixo) com três fazendas selecionadas para a gente discutir. Ele observou que se toda pecuária brasileira fosse igual a essas três fazendas, a gente produziria a mesma quantidade de carne em 14% da área que a pecuária ocupa atualmente. […] Simplesmente a gente não sabe o que está sendo feito, aí se contenta com um desempenho às vezes medíocre e começa a achar que aquilo é uma sina, um destino, que a fazenda não vai dar dinheiro. […] Mas com a comparação de indicadores você começa a perceber que existem pessoas em fazendas idênticas à sua, investimento e situação familiar parecidos e tem resultados muito melhores. Eu tenho certeza que o Pedro hoje vai ser modelo, vai ser benchmarking para outras famílias, outras pessoas que estão num processo muito semelhante pelo qual ele passou há cinco, seis anos. Quer dizer, essa virada é possível e ele fez sem investimento externo, o que eu acho que é importante. Ele entrou com dinheiro do negócio mesmo, que foi realimentando. Ele falou algo importante, que os membros da família combinaram que ninguém ia investir dinheiro, mas também ninguém ia tirar. Então está aí, o resultado da Fazenda Barra é evidente e um exemplo para todo mundo”, aprovou Fábio Dias.
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Com os resultados conquistados, Pedro respondeu se indica que outros pecuaristas façam a sua inscrição no Fazenda Nota 10. “Com certeza, e eu já até me inscrevi para a próxima turma!”, sorriu.
As inscrições para a próxima safra do Fazenda Nota 10 estão se encerrando em meio ao mês de junho, sendo que o início da safra 2021/22 começa junto ao ano safra, em julho. “Uma das características do programa é esse rigor com os números, com a forma com que os números são apurados. […] E um dos pontos é esse lance da safra. A safra pecuária, na definição do instituto Inttegra, começa em 1º de julho. Então mês que vem começa a próxima safra e a ideia é que todas as fazendas que estão entrando no programa estejam preparadas, tem um treinamento para inserção dos números, […] A gente deve ter 500 fazendas no programa, […] é um super programa de comparação. O grande desejo nosso é que os fazendeiros, através dos exemplos, encontrem o melhor caminho. Em Mato Grosso do Sul, por exemplo a gente vai passar de 80 fazendas nesta safra nova. Você imagine o poder que têm 80 fazendas em Mato Grosso do Sul, como a própria Fazenda Barra, se comparando e discutindo os seus números em todos os meses. Quer dizer, você sabe como está performance por cabeça, gasto de mão de obra dividido por cabeça, por hectare, então é muito interessante, muito rico para todos os gestores”, justificou Fábio Dias.
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Veja pelo vídeo a seguir a entrevista completa com o pecuarista Pedro Henrique Camargo e o zootecnista Fábio Dias: