Escolher o capim ideal pode aumentar em R$ 400 o resultado por hectare

Pesquisador da Embrapa comparou potencial de produção entre variedades de forrageiras e seu impacto no resultado econômico da atividade

A escolha certa do capim para o tipo de clima, relevo, solo e objetivo da sua fazenda pode promover um salto expressivo no resultado por hectare do pecuarista de gado de corte. Quem falou sobre o assunto ao Giro do Boi desta quinta, dia 24, foi o pesquisador da Embrapa Cerrados Marcelo Ayres Carvalho, mestre em agronomia e PhD pela Universidade da Flórida.

“Esse é o grande diferencial da nossa pecuária. É uma pecuária baseada em pasto, o que nos coloca numa posição privilegiada com relação aos grandes produtores de carne bovina no mundo. Um produto diferenciado, produzido a pasto e com custo também mais reduzido”, apresentou Carvalho.

O pesquisador lembrou que desde os anos 80 a Embrapa desenvolve programas de melhoramento com o objetivo de selecionar cultivares mais produtivas e tem disponibilizado, ao longo anos, gramíneas e leguminosas tropicais de diferentes gêneros, tendo lançado no mercado mais de 20 cultivares para a pecuária nacional que podem ser usadas em diferentes condições, que se desenvolvem melhor ou pior dependendo da ofertas ambientais e sistemas produtivos: intensivos, de cria, para terminação, etc.

O pesquisador valorizou também o pacote tecnológico que contribui para a melhoria do resultado da atividade. “Assim como a nossa agricultura, a nossa pecuária também vem ganhando em produtividade e eficiência. Hoje nós temos um rebanho de quase 214 milhões de cabeças numa área de pastagens de pouco mais de 180 milhões de hectares. […] A nossa taxa de lotação média ganhou um incremento de quase 40%, o que mostra que a atividade vem a cada ano se profissionalizando, os produtores utilizando cada vez mais as técnicas que estão à sua disposição, tanto do ponto de vista da genética animal, quanto do ponto de vista de sanidade e, por fim, a nutrição. Esse grande tripé que é a base da produção pecuária no Brasil. Aqui no Brasil a gente fala muito em biodiversidade e outras coisas, que de fato a gente tem que valorizar, e o grande paradoxo é que gente promoveu o encontro das gramíneas africanas com o nosso bovino indiano para produzir uma das pecuárias mais eficientes do mundo. E uma pecuária baseada a pasto, produzindo o nosso boi verde”, analisou.

Por isso, plantar a cultivar específica para cada tipo de fazenda pode incrementar o faturamento do produtor expressivamente. Os dados nacionais de aumento de produtividade por unidade de área já aponta esta tendência.

“A nossa pecuária tem, a cada ano, ganhado eficiência e se tornado mais produtiva. Esse gráfico (visualize abaixo) se inicia no ano de 1994. A linha verde representa a pecuária bovina e a gente tem ao longo desse período até 2019 – estamos falando de 25 anos – um aumento de produção na casa de 78% e um aumento em produtividade na casa de 24%, confirmando aquilo que a gente vem falando: a eficiência cada vez maior, o nosso produtor utilizando mais tecnologia e produzindo também de uma forma sustentável. Esta é uma questão muito importante, a gente hoje tem tecnologias disponíveis para produzir com sustentabilidade. É por isso que a gente continua com ofertas constantes de produtos, cada vez mais exportando, e também permitindo que os nossos cidadãos tenham acesso a um alimento barato. O Brasil é o maior exportador mundial de carne, a gente exporta a nossa carne para mais de 150 países e isso contribui não só para o setor, mas também para toda economia, uma vez que o PIB do Agronegócio e o PIB da Pecuária crescem a cada ano. No ano de 2019, o PIB da Pecuária foi responsável por 8,4% do PIB do Brasil”, exaltou.

Na sequência, Carvalho comparou o resultado que o produtor pode ter trocando uma variedade de pastagem mais antiga por uma mais moderna e que passou por um processo de seleção mais moderno (veja slide abaixo).

“No Cerrado, a gente tem a Brachiaria brizantha cv Marandu, que foi desenvolvida pela Embrapa lá em 1984. Ela é uma cultivar que ocupa mais ou menos 25 milhões de hectares no País. Eu afirmo com tranquilidade que não existe nenhuma cultivar no mundo, de qualquer cultivo, que ocupe uma área desta magnitude. E aí a gente tem outras cultivares mais produtivas e mais modernas que poderiam estar contribuindo. A gente está aqui fazendo uma comparação entre a Marandu e a Piatã, que é uma cultivar mais moderna que a Embrapa lançou. E aqui a gente aponta para aquela questão do custo da semente”, introduziu.

“A Marandu de fato tem um custo da semente por quilo mais barato, a gente está falando de R$ 8,00 o kg da Marandu contra R$ 12,00 o kg a Piatã, elas utilizam a mesma taxa de semeadura para a gente formar um hectare, ou seja, oito quilos, o que significa que para formar um hectare de Marandu, eu vou gastar com semente R$ 64,00 e, com o Piatã, R$ 96,00. No entanto, quando a gente olha as produtividades que a gente pode alcançar utilizando a melhor técnica, a gente está falando aí na Marandu em um teto de 150 quilos por hectare ano, ou seja, 10 arrobas, enquanto na Piatã eu posso chegar a até 172,5 quilos, ou 11,5 arrobas”, calculou. “Arredondando a arroba a R$ 260,00 você vai ver que a Piatã vai te dar uma diferença aí de quase R$ 400,00”, frisou.

“Isso em um hectare! Você imagine em uma área de 100 hectares, de 1.000 hectares – os números são maiores ainda, o que traz uma vantagem ainda mais importante para a Piatã e para Paiaguás e tantas outras cultivares modernas que a gente tem aí”, projetou.

O pesquisador também citou riscos da monocultura dentro da porteira. “Como mencionei, a Marandu ocupa 25 milhões de hectares, ou seja, a gente tem uma grande área com a mesma cultivar e isso é um risco que a gente está passando, que o pecuarista está passando. A gente prega sempre a diversificação dos pastos, ou seja, dentro de uma mesma propriedade eu posso ter diferentes cultivares porque eles vão me dar respostas diferentes”, sugeriu.

“Então eu posso usar um que é mais propício para ser utilizado no período seco, outro que eu ter um arranque maior quando a chuva começar, então eu vou poder utilizar ele com mais eficiência e um outro material que eu posso usar mais para o meio do período seco, posso deixar ele reservado […]. A gente tem este portfólio, a Embrapa desenvolveu este portfólio e aqui eu gostaria de registrar quase 90% dos cultivares que estão no mercado foram desenvolvidos pela Embrapa. Então a gente tem uma grande contribuição que está sendo dada para a pecuária nacional”, reconheceu.

Para ajudar os produtores com a tomada de decisão, Carvalho ainda lembrou do lançamento do aplicativo Pasto Certo, que pode ser baixado pelas lojas de aplicativos para smartphones com sistemas Android ou iOS e ainda pode ser consultado pelo site pastocerto.com.

+ Baixe o app Pasto Certo para smartphone Andoid

Baixe o app Pasto Certo para smartphone iOS

“Nós temos este aplicativo, o Pasto Certo, ele também pode ser acessado pelo site. É um aplicativo que você pode baixar no seu telefone que usa o sistema operacional iOS e também no Android, ou seja, está aí para Apple, Samsung e todos os outros que usam. […] Lá tem todas as características das cultivares, você pode fazer uma comparação, pode entender quanto ele vai produzir, como ele precisar ser conduzido porque a gente precisa lembrar: pastagem é uma cultura”, concluiu.

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Assista a entrevista completa com Marcelo Ayres Carvalho:

Foto: Dalízia Montenário Aguiar / Reprodução Embrapa