“Escolha inteligente” da forrageira viabiliza intensificação da pecuária na Amazônia

Segundo agrônomo, pecuarista deve escolher a cultivar de olho em uma pastagem perene, já que características do bioma inviabilizam as reformas frequentes

O uso indiscriminado de uma determinada cultivar forrageira em uma área que não é a mais propícia para o seu desenvolvimento pode retardar a consolidação da pecuária intensiva, como foi o caso pelo qual passaram alguns produtores do Bioma Amazônico.

“A gente teve bastante problema no início da pecuária aqui na Amazônia quando aqueles capins que foram desenvolvidos para outras regiões foram trazidos e colocados, testados, e alguns aumentaram muito a escala (de uso), que foi o caso do Braquiarão, que resultou na síndrome da morte do Braquiarão. Esse problema que dizimou boa parte das pastagens da região”, disse o agrônomo, mestre e doutor em zootecnia Carlos Maurício Soares de Andrade, pesquisador da Embrapa Acre, em entrevista para mais um episódio da série especial Embrapa em Ação, que foi ao ar no Giro do Boi desta sexta, 27.

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Andrade ressaltou o trabalho incansável dos pesquisadores para viabilizar a geração de riqueza na região por meio da bovinocultura de corte. “Talvez o trabalho mais importante que a Embrapa tenha feito de suporte à pecuária na Amazônia tenha sido justamente o reconhecimento desses fatores ambientais diferentes, entender como funciona esse bioma, o clima dele, essa interação com o tipo de solo e a partir daí trabalhar para adequar as opções forrageiras para que os produtores pudessem fazer essa intensificação da pecuária aqui na região, mas de uma forma sustentável”, reconheceu.

O pesquisador explicou porque é ainda mais importante a escolha da forrageira adequada para a prática da pecuária a Amazônia, sobretudo porque os produtores rurais da região não têm um leque de opções para cultivar no bioma. “(O Braquiarão) é um capim fantástico, continua sendo o capim mais plantado do Brasil, mas para essa região nossa ela mostrou que a gente precisa diversificar mais, a pesquisa precisa dar mais opções para os produtores. E os produtores têm que aprender a utilizar melhor, de forma mais inteligente essas forrageiras porque boa parte das áreas da Amazônia […] são áreas que não têm aptidão para grão, você tem um regime de umidade do solo aqui, no período de janeiro a abril, quando você não consegue mecanizar esse solo por causa das chuvas. Então nessas regiões você precisa trabalhar com pastagens permanentes, pastagens perenes, não dá pra você ficar trocando de pasto a cada três, quatro ou cinco anos como você faz numa fazenda onde você tem integração. E aí você tem que ser muito inteligente, aproveitar todas as opções de forrageiras que estão no mercado hoje”, sustentou.

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Segundo Carlos, uma parceria que pode contribuir para a longevidade dos pastos é o consórcio da gramínea com as leguminosas, prática comum nas propriedades da região.

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O agrônomo lembrou de algumas das principais cultivares testadas pela unidade de pesquisa. “A gente ainda testou aquelas forrageiras que já eram utilizadas aqui e no Brasil, como a Grama Estrela […]. Essa era uma forrageira que os produtores só utilizavam em beira de curral, área de malhadouro, mas com os testes a gente mostrou que ela tem uma adaptação muito boa a essa condição de solo e hoje ela é utilizada em larga escala. A gente ampliou o leque de opções para os pecuaristas e eles estão utilizando essas opções para poder ter essa condição que está tendo aqui de pasto”, apontou.

Outras cultivares combinada muito bem com a característica de encharcamento do solo. “Essa é uma condição que os programas de melhoramento da Embrapa hoje, tanto de Brachiaria quanto de Panicum, estão muito concentrados em melhorar, que é gerar novas opções forrageiras para tolerância ao encharcamento do solo, porque a gente tem essa situação não só aqui na Amazônia, mas tem Pantanal, em outros biomas também […] Nessas regiões, o leque de opções de forrageiras com alta tolerância ao encharcamento é menor, […] então a gente está fazendo trabalho com cruzamentos e identificando essas fontes de variedades para poder aumentar o leque de opções. […] Nos últimos 15 anos, dois dos capins mais plantados no Acre são o Xaraés, uma Brachiaria brizantha que é a mais tolerante ao encharcamento do solo, e a Humidicola. Então esses são os dois capins que têm ampliado o uso e ajudado a reformar as pastagens de Braquiarão. A Grama Estrela Roxa, capim Tangola e mais recentemente o Panicum maximum cv Zuri têm ido muito bem também. Então a gente vai a cada ano colocando mais algumas opções para ampliar esse leque e facilitar essa diversificação de forrageiras”, apontou.

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Qual capim devo usar em área de encharcamento?

Andrade reforçou a importância de os pecuaristas que ainda sofrem com produtividade de pasto possam pesquisar cultivares mais adequadas para o bioma antes de reformar a área. “Esse é um problema sério quando você usa forrageiras que não são adaptadas. Você vai ter que reformar! No começo, quando o Braquiarão começou a morrer, aqueles que não estavam bem antenados nos alertas […] reformaram pasto de Braquiarão, plantaram Braquiarão de novo e seis meses depois estavam com a pastagem degradada. Então você tem a questão de produtividade, de longevidade, isso é redução de custo, você tem redução de problema com plantas daninhas, a gente sabe que na Amazônia, por causa desse clima quente e úmido, a gente tem uma pressão de plantas daninhas que é maior do que em outras regiões… Então aqui você tem que ter um pasto com 100% de solos cobertos, você tem que ter um pasto muito bem formado, sempre bem manejado para que você diminua essa pressão de plantas daninhas. Isso significa economia de custo também com herbicida, com manejo dessas pastagens”, lembrou.

Pelo vídeo a seguir é possível assistir na íntegra a reportagem completa da série Embrapa em Ação:

Foto: Gabriel Faria / Reprodução Embrapa