Embrapa cria a sua primeira cultivar de capim Brachiaria ruziziensis

Super produtiva na seca, a variedade recebeu o nome de BRS Integra por se destinar aos sistemas de integração lavoura, pecuária e florestas (ILPF)

Lançada oficialmente no mês passado, a nova cultivar de capim Brachiaria ruziziensis passa a ter, de fato, sangue nacional. Entre todas as cultivares de forragem em uso no Brasil, esta é a primeira variedade desenvolvida inteiramente pelas mãos dos pesquisadores brasileiros. A variedade teve inclusive seu DNA sequenciado para ajudar a acelerar o processo de melhoramento genético de espécies de forrageiras no País.

Para dar os detalhes dessa nova cultivar, o Giro do Boi desta terça-feira, 26, conversou com o engenheiro agrônomo e doutor em genética e melhoramento de plantas, Fausto de Souza Sobrinho, pesquisador da Embrapa Gado de Leite, sediada em Juiz de Fora (MG).

“O programa de melhoramento da Brachiaria ruziziensis começou em 2004. Foi iniciado por causa da demanda por sementes dessa espécie de brachiaria, que foi bastante empregada em sistemas de integração lavoura, pecuária e florestas (ILPF), e pelo fato de haver apenas uma cultivar e não era nacional”, explica Sobrinho.

A única espécie de Brachiaria existente no País e que ocupa mais de 80% da área de pastagens cultivadas era de uma cultivar importada da Austrália, chamada de Kennedy, que começou a ser introduzida no País entre as décadas de 1960 a 1970.

Após o trabalho de pesquisa de 18 anos, o Brasil definitivamente passou a ter uma espécie de Brachiaria adaptada para as condições de solo e clima no Brasil. A cultivar recebeu o nome de BRS Integra por se destinar aos sistemas de ILPF. 

“A BRS Integra é destinada a sistemas de produção integrados por conta de seu alto potencial de formação de palhada, mas ela pode ser perfeitamente utilizada como pastagem na entressafra, para produzir um boi safrinha, pois, assim como toda ruziziensis, ela é um material melhor do que todas as demais forragens”, afirma Sobrinho.

Diferenciais

A planta possui uma rebrota muito mais rápida em comparação com a Kennedy, e em boas condições de fertilidade de solo, ela pode render até 25% a mais de forragem do que a cultivar australiana. A espécie nacional também pode ter um salto de 35% de produtividade.

Quanto ao valor nutricional, a variedade se mantém com 16% de proteína bruta, também em boas condições de solo com adubação. Outra vantagem é que para o estabelecimento da planta não é necessário uma programação própria de adubação, pois a BRS Integra reaproveita toda a adubação da lavoura anterior.

“O sistema radicular da planta, por ser mais ramificado, consegue penetrar mais no solo e recuperar o adubo não aproveitado pela raiz de outras lavouras. E depois de dessecada, para a produção de palhada, a forragem retorna todos os nutrientes para o solo”, diz o pesquisador da Embrapa.

Pontos de atenção

Fora da entressafra, a variedade, assim como as demais Brachiarias são muito suscetíveis ao ataque de cigarrinha, além de não suportarem solos encharcados e temperaturas muito baixas.

A necessidade de água da planta é para regiões que atingem de 800 a 900 milímetros em média por ano, em solos de média a alta fertilidade.

Onde o pecuarista acha as sementes?

As sementes estão disponíveis para a compra por meio da Associação para o Fomento à Pesquisa de Melhoramento de Forrageiras (Unipasto), que agrega mais de 31 empresas e produtores de sementes de forrageiras localizados nos Estados da Bahia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo.

Confira no vídeo abaixo a entrevista na íntegra: