Em MS, novilhas Angus entram na fazenda como fêmeas e são premiadas como bois

Pecuarista destacou as oportunidades e opções que a engorda de fêmeas cruzadas para protocolos de carne premium oferece para dentro da porteira

Em entrevista concedida ao Giro do Boi e exibida no programa desta sexta-feira, o engenheiro agrônomo Rodrigo Pereira de Oliveira, sócio da Agropecuária Ramawi, que em Mato Grosso do Sul possui fazendas de gado de corte em Juti e Caarapó, falou sobre a oportunidade que a fazenda encontrou na engorda de fêmeas cruzadas para abate dentro de protocolos de carne premium. O pecuarista, que recentemente abateu um lote de novilhas de 19 meses que registrou quase 500 kg de peso ao sair da fazenda, disse que a categoria oferece a possibilidade de o produtor acelerar o seu ciclo conforme a necessidade sem deixar de aproveitar a valorização de uma carcaça bem terminada.

“Nós, da Agropecuária Ramawi, começamos a trabalhar com recria e engorda dessas fêmeas meio-sangue Angus em 2018. Foi a primeira compra desse rebanho de fêmeas. É uma experiência nova, os primeiros abates ocorreram em 2019 e agora entre 2020 e 2021 a gente já tem alguns lotes abatidos dentro do Protocolo 1953. E é muito interessante porque a fêmea te dá uma oportunidade, ela é diferente do macho porque você consegue abater a fêmea mais leve, se você tiver uma necessidade para girar mais rápido o seu ciclo produtivo, por questão de pastagem, enfim, mas você consegue também agregar valor a essa fêmea se você colocá-las num processo de semiconfinamento, em que ela atinja os seus 500 kg, ou por volta disso, e aí você consegue agregar mais valor a ela. Então ela entra no seu ciclo produtivo como fêmea, mas você consegue agregar valor nela e receber valores de macho dentro do Protocolo 1953. Então é muito interessante, é uma oportunidade para quem trabalha com fêmea, a gente tem que ter um olhar para essa oportunidade do mercado”, aprovou Rodrigo.

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O produtor reforçou a importância da engorda intensiva para obter o resultado desejável, ou seja, o acabamento necessário para certificação no protocolo exigente. No caso, o lote de novilhas meio-sangue Angus foi abatido após semiconfinamento em pastagem que havia sido fortificada pela ILP. “Uma pastagem que veio de integração agricultura-pecuária, então essa pastagem tem três anos agora, após ser utilizada na área lavoura de soja e milho durante quatro anos. Ela é uma pastagem que vem com uma fertilidade de solo mais equilibrada e os níveis de produtividade desta pastagem são um pouco melhor do que a média da nossa propriedade. Então a gente destina essas fêmeas, esses lotes para o acabamento nessas áreas de melhor fertilidade, um pasto mais novo”, contou.

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O produtor explicou a relação entre a qualidade do pasto e a ração para que as fêmeas atinjam o padrão necessário para serem remuneradas pela arroba de boi, além de agregar as demais premiações do Protocolo 1953. “A gente sabe que uma pastagem equilibrada, uma pastagem nova e produtiva vai fornecer ao animal tudo o que é necessário, e você complementa com a ração. Essas fêmeas iniciaram o semiconfinamento em novembro de 2020 com 320 kg, e eram fêmeas jovens, fêmeas que estavam com 15 a 16 meses. Elas ficam por 170 dias no semiconfinamento, iniciando com uma ração de baixo consumo, começando com 0,7% a 0,8% de consumo de ração em cima do peso vivo e, no terço final, elas chegam a 1,8% a até 2% do peso vivo consumindo a ração uma vez ao dia. E com esse sistema de pasto rotacionado, que veio dessa integração agricultura-pecuária com essa ração balanceada, uma ração nobre, a gente consegue fazer um acabamento bom nessas fêmeas, a gente consegue ganhos de peso na casa de 1,1 kg a até 1,2 kg. Esse lote ficou na média de 1,160 kg e veio aqui para abate na unidade I do Friboi em Campo Grande, saindo da fazenda com 487 kg com 19 meses em média”, detalhou.

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O produtor apontou que encontrar o modelo de produção foi um processo conquistado ao longo de vários ciclos de aperfeiçoamento. “A gente foi moldando aos poucos, conforme a necessidade foi aparecendo, as oportunidades aparecendo, a gente foi encontrando e vendo o que o mercado precisava, o que estava faltando no nosso produto, nessa commodity, na hora que a gente entregava, como fornecedor do JBS. Então a gente via que acabamento e precocidade eram peças fundamentais para a gente entregar um produto de qualidade. E a gente foi observando que somente pastagem ou somente pastagem com o sal proteinado não eram o suficiente. E a gente foi implementando o uso da ração, foi otimizando, melhorando essa ração agregando aditivos e também vimos que a pastagem tem que contribuir, é um fator extremamente importante. Pastagem de qualidade”, reforçou.

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Oliveira salientou que o papel da pastagem se torna cada vez mais relevante ao passo que os insumos dos concentrados, como o milho, ficam mais caros, e também a importância de se programar para a compra antecipada dos ingredientes para a dieta, aproveitando oportunidades de mercado. “Após a reposição de bezerros, machos e fêmeas, meu segundo maior custo é o de nutrição e, dentro da nutrição, o milho é o número um em custo. Aí eu procuro comprar na baixa. No ano passado a gente já teve uma valorização muito grande de soja e milho e eu ainda estou estocado com o milho que eu comprei o ano passado, mas agora é aguardar. A gente está vendo que o milho está num patamar muito alto, o que impacta a nossa atividade. É preciso repensar. Para 2022, eu estou com algumas áreas de pastagens para serem renovadas, então é necessário olhar um pouquinho mais para o pasto agora para os próximos três anos e tentar reduzir talvez um pouco dessa ração no terço final da engorda dos animais, mas sem perder eficiência. Então vamos ter que buscar essa fórmula”, observou.

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O produtor compartilhou o que julgar ser necessário, em sua experiência, para que produtores que estão a caminho desta intensificação tenham sucesso na jornada. Na Agropecuária Ramawi, um fator decisivo foi analisar o mercado “de trás para frente” e dar “um passo de cada vez”, conforme explicou.

“Cada propriedade rural, cada produtor, tem o seu próprio estilo, a sua própria vocação, tem seus valores. Então primeiro a gente não pode esquecer de tudo isso. Não há uma receita de bolo, não há uma forma única de você realizar o seu negócio, de você conseguir sucesso no seu negócio. Eu acho que cada produtor consegue parar, pensar e analisar o que ele pode fazer para melhorar dentro da sua produção, dentro do seu estilo de produção. Eu acho que cada um tem uma forma de trabalho. Nós, da Agropecuária Ramawi, conseguimos aos poucos ir encontrando esta forma de trabalhar, essa forma de ver o mercado e, às vezes, enxergar o mercado de trás para frente, como ele pode te remunerar melhor pelo seu produto, como você pode chegar lá no final agregando o valor o máximo possível ao seu produto. E um passo de cada vez. Fazer tudo ao mesmo tempo em dias atuais é caro, o custo fica muito alto, o investimento hoje em dia é alto na hora que a gente para para pensar na rentabilidade, da rentabilidade sobre a área imobilizada ou a rentabilidade em cima do rebanho que você tem, e a gente vê que os números são pequenos. Então a gente tem que ter esse cuidado, tem que ter essa atenção com o financeiro, com essa rentabilidade. Aí um passo de cada vez também é muito importante”, concluiu.

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A entrevista completa com Rodrigo Pereira de Oliveira, engenheiro agrônomo e sócio da Agropecuária Ramawi, está disponível pelo vídeo a seguir: