Ele é a quinta geração de uma família de produtores de origem humilde e que nasceu “praticamente dentro de um curral”, como ele mesmo afirma. Formou-se em engenharia e, por quase três décadas, exerceu a profissão junto à criação de gado de corte até que transformou a propriedade, que começou com a aquisição de uma pequena gleba em Uberaba-MG, em um dos mais importantes criatórios de Nelore do país. Esta é, resumidamente, a história do pecuarista Luciano Borges Ribeiro, titular do Rancho da Matinha.
“Eu venho de uma família humilde, com bastante restrição financeira. A Matinha foi comprada por partes […], a gente foi aumentando e fazendo a Matinha ao longo de 15 anos. E eu como pecuarista nato, pecuarista de coração, eu não tinha outra opção senão continuar naquilo que eu amo, que eu gosto”, contou Luciano ao Giro do Boi em entrevista exibida nesta segunda, dia 12.
Luciano lembrou da evolução da pecuária brasileira desde a década de 1970 para o que se tornou nos dias de hoje, umas das mais competitivas do mundo na produção de proteína. “Quando eu iniciei lá em 1976, com a aquisição da primeira gleba lá da Matinha, o que a gente tinha na cabeça era o que a gente aprendeu com meu pai, com meu avô. E eu vim nessa toada durante alguns anos e o fato que me motivou a ter outros olhares foi já em meados da década de 1980, quando começou a história da globalização. E eles diziam que tudo ia globalizar, quem não fosse eficiente estaria fora do mercado. A conversa toda era essa e aí eu me interessei pela pecuária no mundo, como era a pecuária no mundo, especialmente nos países desenvolvidos”, contextualizou. “Eu disse ‘se a gente não se mexer eles vão engolir a gente’, e a partir dali eu passei a estudar a coisa mais no aspecto econômico, no aspecto de maior desempenho, de menor custo, de melhores margens”, detalhou.
Foi nesta época, em 1985, que a propriedade deu início à criação de gado Nelore com genética superior e inovou com a técnica de pastejo rotacionado para que os animais expressassem todo o seu potencial, um sistema que então era referência para professores e alunos da Fazu – Faculdades Associadas de Uberaba. Mais tarde, em meados dos anos 1990, a Matinha passou fazer parte dos integrantes do programa de melhoramento genético da USP, que viria a ser conhecido posteriormente como ANCP, a Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores. “As reuniões eram no pavilhão de genética de uma faculdade de medicina. […] Isso foi abrindo a minha cabeça para fazer o que a gente faz hoje”, afirmou o pecuarista.
Com estas mudanças, a propriedade inovou na seleção da raça Nelore pela precocidade, começando com os machos e na sequência também com as fêmeas. “Na estação de monta de 1998 iniciamos o desafio de prenhez precoce para novilhotas de 12 a 14 meses. No primeiro ano obtivemos 6% de prenhez, atualmente já estamos trabalhando com taxas acima de 80%”, consta no site oficial do Rancho da Matinha. A ideia é descartar o quanto antes animais pouco produtivos. “A fazenda é uma indústria e suas vacas são suas máquinas. Você não pode esquecer disso. Por isso sempre digo isso: máquina quebrada não pode ficar na indústria. Máquina que não produz não pode ficar na indústria”, comparou.
Os pilares estabelecidos pelo Rancho da Matinha fizeram do criatório um dos principais fornecedores de reprodutores do Brasil. “(A genética) é não só fundamental, como é o insumo mais barato de todos. Não tem nada de melhor custo x benefício do que a genética”, reforçou Borges. “O foco da Matinha nunca foi pista, o foco da Matinha sempre foi o gado comercial, sempre foi produzir genética que proporcione mais lucro pro pecuarista que vai usar”, definiu.
A fazenda estabeleceu ainda em 2002 seleção conforme ultrassonografia de carcaça e, mais tarde, em 2011, deu início também às provas de eficiência alimentar simulando condições naturais de pasto para testar o ganho de peso em condições reais. “A gente sabe que no custo de produção o alimento representa 70% quando é a pasto, em confinamento é mais de 90%. E agora a gente sabe que tem animais que demandam menos alimento para ter produção igual ou às vezes maior que os outros. No confinamento, o pessoal sempre raciocina pela média, tanto de consumo de alimento como de rendimento de carcaça e aí tem um negócio perigoso”, ponderou o pecuarista, indicando a importância de mensurar o desempenho de cada indivíduo para identificar os mais eficientes.
“Quando nós começamos a fazer esse trabalho, foi em 2011 e a gente avaliava a safra de 2010. Nesta ocasião para fazer um um quilo de peso a gente gastava praticamente nove quilos de matéria seca, e eu acho que essa é a média do Nelore nacional. Hoje na Matinha isso caiu para 7,8 quilos na média”, revelou. “Acho que a característica do século XXI é a eficiência alimentar”, frisou Luciano Borges Ribeiro. “O que a gente tem feito de bom para a pecuária brasileira é motivo de orgulho, a contribuição que a gente tem dado eu me orgulho muito disso”, concluiu.
Veja a entrevista sobre as histórias de Luciano Borges Ribeiro e do Rancho da Matinha pelo vídeo abaixo: