Creep feeding retorna em dobro o investimento no desempenho dos bezerros

Doutor em zootecnia listou também benefícios indiretos, além do peso dos bezerros, como padronização de lotes, redução de mortalidade e maiores índices de fertilidade

“A diferença de um bezerro de creep para um bezerro digamos ‘convencional’ pode variar de 20 kg até 50 kg em média, dependendo”, apontou em entrevista ao Giro do Boi desta segunda, 24, o doutor em zootecnia pela Unesp de Jaboticabal com MBA em gestão estratégica de negócios e coordenador de pesquisa, desenvolvimento e inovação da Premix, André Pastori D’Áurea.

O especialista trouxe dicas para o produtor aumentar sua produtividade e rentabilidade usando o manejo nutricional para a cria, destacando o potencial de retorno sobre o investimento. “Provavelmente seria um protocolo dentro de um proteico-energético com os custos que poderiam variar da faixa de R$ 120,00 a R$ 150,00 até R$ 250,00 por cabeça para uma média de custo nutricional. Mais ou menos investe-se R$ 1,00 e ganha-se R$ 2,00, em uma conta rápida para fazer”, calculou.

O especialista tratou ainda dos benefícios indiretos da técnica. “Sem contar em padronização de lote, redução de mortalidade, índices de fertilidade que podem ter um reflexo, sem contar esses benefícios. (R$ 2,00 para R$ 1,00 investido) Só pensando no bezerro ganhando mais […] Hoje a venda do bezerro no quilo está estimulando muito o uso de creep feeding, mas era uma estratégia que já era para estar sendo usada há muito tempo porque você acelera muito e é o investimento mais barato que tem na pecuária porque o bezerro está na fase de crescimento mais acelerada, então qualquer investimento em nutrição responde muito rápido”, aconselhou.

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O doutor em zootecnia lembrou que a técnica consiste em suplementar os bezerros enquanto ainda estão mamando e começando a pastejar, algo que é estudado no Brasil desde 1970. “Consiste em nada mais do que colocar uma suplementação diferenciada para aquele bezerro que ainda está no pé da vaca pensando em melhorar o desenvolvimento desse bezerro, acelerar para ele se tornar um ruminante, melhorar o desenvolvimento ruminal”, resumiu.

D’Áurea detalhou como o creep feeding acelera o desenvolvimento ruminal. “À medida que o animal começa a consumir um suplemento farelado via creep feeding, ele começa a desenvolver o rúmen e, consequentemente, ele passa a pastejar, ou seja, ele tem um processo de desenvolvimento ruminal acelerado aí ele consegue aproveitar melhor aquele pasto e ficar, de certa forma, menos dependente dos nutrientes do leite da mãe. Com isso a gente consegue, além dos ganhos adicionais de peso desses animais, também ganhos com relação à menor dependência desse bezerro da mãe ao longo dos meses de vida. Pode ser feita fazer uma desmama precoce, pode trabalhar diferentes estratégias à medida que o bezerro fica com uma dependência menor da matriz”, afirmou.

Além do desenvolvimento do próprio bezerro, o profissional salientou ainda o benefício que a técnica pode trazer para a reconcepção das matrizes, reforçando, portanto, o desempenho reprodutiva da propriedade. “Se ela está produzindo leite para o bezerro, ela vai desviar todos aqueles nutrientes para o leite. Depois ela vai repor reservar e, por último, ela vai reproduzir, ou seja, se tiver qualquer nutriente faltando, a primeira coisa que vai sofrer interferência é a reprodução. À medida em que você alivia um pouco esse requerimento nutricional para produção de leite, o bezerro fica menos dependente, exige menos da vaca, vai sobrar mais nutriente, ela vai ter uma melhor reserva e, consequentemente, vai refletir em índices reprodutivos”, confirmou.

André respondeu durante sua participação a dúvida de um telespectador sobre o momento ideal de iniciar o creep feeding. “O quanto antes ele iniciar, mais cedo o bezerro vai começar a desenvolver o rúmen e o quanto antes você desenvolve o rúmen, mais cedo ele dá início ao pastejo. O animal, no seu primeiro mês, tem sua exigência 100% suprida pelo leite materno. A partir do segundo mês, a exigência dele passa a aumentar e essa, normalmente, a vaca não consegue suprir somente pelo leite. Ou seja, se você, na segunda semana de nascimento já iniciar um creep nesse bezerro, logicamente o consumo dele é um pouco menor, mas ele já vai começar a consumir um produto farelado, já vai começar a desenvolver papilas ruminais, aumentar o tamanho do rúmen. Então eu recomendo já iniciar a partir de duas semanas, no máximo um mês depois do nascimento porque a exigência do bezerro após um mês já passa a não ser suprida única e exclusivamente pelo leite materno”, indicou.

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O doutor em zootecnia também respondeu até quando este creep deve ser fornecido. “O ideal para o bezerro do creep é ir até o desmame. E um erro muito comum que acontece é o bezerro sair do creep e o pecuarista jogar em um pasto com mineral ou com produto de menor suplementação”, advertiu.

André avisou sobre um dos erros mais comuns no manejo de bezerros após o creep feeding. “Eu penso o seguinte: a partir do momento que o bezerro caiu no chão, já começou a recria dele até ele virar um boi recriado. Ou seja, se você começou um protocolo de suplementação para fazer ele ter um ganho de peso sempre crescente, a hora que ele desmama, se você tirar o pé do acelerador, o que vai acontecer? Ele vai parar de desenvolver. Então se você está evoluindo na suplementação, você tem que continuar. Só assim você vai conseguir aumentar desfrute, diminuir tempo de abate… Enfim, é um erro muito comum. Às vezes o pecuarista compra bezerro bom de creep, trata esse bezerro, traz para a fazenda e o bicho escorre. Aí o bezerro chega na fazenda com 240 kg no começo de março e na hora que começa as águas de novo ele está com os mesmos 240 kg ou até menos”, lamentou.

Para este pecuarista que vai recriar bezerros de reposição que vieram do creep, o especialista fez uma sugestão, que é conhecer o histórico do suplemento consumido ao longo da cria para que, na fase seguinte, não haja um recuo desse nível de nutrição e, assim, para que o animal possa expressar todo o seu potencial.

André detalhou também quais são os ingredientes que podem compor a dieta do creep feeding. “A maioria dos suplementos que existem para creep normalmente são suplementos com farelos, que possam ter um aporte de aminoácidos interessante para esses bezerros, muitas vezes até com algum tipo de aditivo, algum aditivo natural, algum probiótico ou prebiótico para desenvolver e até povoar melhor, trabalhar melhor esse rúmen em desenvolvimento”, citou.

“Com relação a coprodutos, subprodutos e outros ingredientes, às vezes quanto mais combinados estes produtos estiverem, melhor vai acontecer esta fermentação ruminal. Se eu tenho um carboidrato que tem uma liberação mais lenta e um mais rápido, eu vou combinar estes carboidratos e vou manter o rúmen mais equilibrado para ter um desenvolvimento ruminal, mais um aporte para eu ter esse energético mais equilibrado ao longo dos dias via suplementação para eu manter o crescimento microbiano sempre elevado. Então isso é importante para o desenvolvimento ruminal”, orientou.

Pastori explicou também que a mineralização desta categoria varia conforme a pastagem oferecida aos bezerros em creep. “As suplementações minerais vão variar de acordo com o déficit do pasto. Às vezes você pode ter algum tipo de mineral orgânico, um cromo para melhorar um pouco a resposta, absorver mais glicose, então tudo isso tem que estar bem faz parte de um escopo de se ter um suplemento bom”, declarou.

O consumo da ração ou suplemento oferecido no creep varia bastante, conforme destacou o doutor em zootecnia, conforme os objetivos do criador. “Vai variar conforme o suplemento. Você tem suplemento que vai variar de 250 a 350 gramas, até suplementos que podem chegar a 1 kg. Mas o consumo médio vai ficar em torno de 750 a 800 gramas. Tem fazendas em que você pode às vezes trabalhar com uma ração mesmo, misturando o consumo vai chegar a 2 kg, 3 kg e aí, logicamente, é o pecuarista que já vai jogar esse bezerro de uma uma recria rápida de seis meses e fechar no cocho. Então vai muito do objetivo da produção”, apontou.

O profissional comentou ainda a notícia das mortes de bovinos causadas pelo frio extremo nos últimos dias no municípios de Reserva do Cabaçal e de Salto do Céu, região sudoeste do Mato Grosso, próximos a Cáceres, ainda em Tangará da Serra e Pontes e Lacerda, já quase na fronteira com a Bolívia. A sensação térmica de temperatura negativa em alguns pontos vitimou centenas de reses, a maior de categorias mais jovens, como bezerros, bezerras, garrotes e novilhas.

“Pode ser uma junção de fatores, tanto os fatores ambientais, por não ter alguma estrutura próxima de proteção desses animais, pensando principalmente em conforto térmico, reduzir a radiação, ter alguma árvore próxima, capões de mato, uma área como se fosse um refúgio, não tão descampada, e bem como o manejo nutricional dos animais. Seria preciso levantar as informações sobre serem animais em estado de subnutrição. Tudo isso pode ser uma junção de fatores que se desencadeia num momento de estresse, no caso o térmico”, relatou.

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Confira a entrevista completa com André Pastori D’Áurea no vídeo a seguir:

 

Foto: Reprodução / Premix