Conforme a própria produtora recorda, ela “caiu de paraquedas” no agronegócio. Na verdade, a trajetória de sucesso de Antonielly Rottoli, mãe, bacharel em direito, diretora regional da Aprosoja, sócia proprietária da Agropecuária Espírito Santo (em Alto Paraíso-RO) e líder do grupo Agro Mulheres de Rondônia, indica que não houve exatamente uma queda, mas sim um pouso com estilo. Nesta terça-feira, dia 13, a empresária foi a convidada especial do Giro do Boi, onde compartilhou sua história em entrevista.
“Eu sou nascida e criada em Mato Grosso do Sul, da região de Amambai. Eu estou desde 2013 em Rondônia. E aí eu caí nesse mundo do agronegócio de paraquedas, quando eu conheci e casei com meu esposo. Ele já era do ramo e no início eu fazia mais essa questão de marmita, levava o almoço na roça, o café da tarde… E aos poucos eu fui me identificando com a administração da fazenda”, lembrou.
“Em Mato Grosso do Sul nós éramos agricultores modestos, criávamos algumas cabeças de gado e aí aos poucos eu fui gerindo as contas, organizando o escritório, pois mulher é bem organizada. […] E surgiu o meu envolvimento. Aos poucos eu fui identificando com o grupo familiar, transformando o pensamento de gestão de grupo familiar para uma empresa e assim fazendo a gestão do nosso negócio de uma melhor forma. E no ano de 2013 nós decidimos vir para Rondônia. O nosso negócio tomou uma proporção maior, com dificuldades maiores também, e assim surgiu a Agropecuária Espírito Santo”, contou.
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De agricultores modestos em MS, o grupo passou a ser um conglomerado com diversificação significativa dos negócios em Rondônia, produzindo além de gado de corte, milho, soja e feijão.
“Nós temos essa diversidade, graças a Deus. Rondônia é um estado muito abençoado que acaba nos deixando fazer todo esse processo aqui. Nós, como produtores, vemos muitas vantagens em estar diversificando. Além de diluir os custos fixos em atividade diferentes, nós otimizamos os recursos da propriedade e elevamos a rentabilidade. Acabamos ficando menos reféns de um único mercado. Uma coisa acaba complementando a outra. Diversificar é o caminho”, destacou.
Até mesmo dentro de um único segmento, na pecuária de corte, a diversificação se faz presente. “Aqui nós fazemos da seguinte forma: temos o Nelore e o Aberdeen. O Nelore a gente cria no sistema extensivo, ele vai melhor e responde melhor ao manejo. Já o Aberdeen a gente cria de forma intensiva. É um boi que requer mais investimento em trato, é todo um trabalho diferenciado. Um boi de habilidade dócil, de fácil manejo e responde ao cocho. Então se o produtor quer investir, […] a gente prefere trabalhar com Aberdeen. Se fosse para deixar ele no pasto, para trabalhar de forma extensiva, nós já não trabalharíamos com ele”, revelou.
A pecuária mais intensiva em que são terminados os animais com genética Angus é viabilizada pela agricultura praticada na própria Agropecuária Espírito Santo. “A agricultura e a pecuária se complementam. Então nós acabamos plantando milho para fazer a silagem, temos condições de fazer a nossa própria ração. O que sobraria do secador nós automaticamente introduzimos na alimentação do bovino. Claro que para isso temos um acompanhamento”, ressaltou.
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Além de aproveitar melhor os recursos advindos da agricultura dentro da própria porteira, a terminação de boiadas cruzadas também aumenta o faturamento do grupo. “Houve uma popularização da carne premium, principalmente nos restaurantes considerados gourmet. E a procura não só pelo mercado, mas por consumidores finais, também está cada vez maior. Então foi por isso que decidimos iniciar esse projeto de precocidade com qualidade da carne. Um animal pronto com menos tempo de fazenda, reduzindo assim a idade de abate. A partir do momento em que tomamos essa decisão de produzir essa carne premium, sabíamos que precisávamos ter os cuidados específicos, desde a fase de cria até a terminação, porque nós sabemos que mesmo o boi, quando alcança o peso adequado para uma comercialização, pode não produzir a carne premium. Então precisamos ter um animal de boa genética que aí já é meio caminho andado. Temos uma preocupação grande com as fontes energéticas oferecidas no cocho, essa alimentação deve ser selecionada com ingredientes de alta qualidade que nós mesmos produzimos e um proteinado bacana, vacinas em dia, o fechamento desse animal sem estresse… E aí nós vamos nos aprimorando, vamos buscando e tendo resultados, como o tão sonhado marmoreio da carne, que todo mundo fala, e fica uma carne altamente segura para o consumidor. O nosso grupo se baseia muito em responsabilidade e sustentabilidade”, afirmou.
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Mais do que uma empresa rural sustentável para o grupo familiar que administra e para todos os colaboradores e suas famílias, a atividade é motivo de orgulho para Antonielly. “Eu me sinto muito honrada de estar produzindo alimento, de estar produzindo grão, de estar produzindo a carne. […] Rondônia é o 4º maior produtor de carne desossada, o 8º produtor de leite, temos mais de 14 milhões de cabeças de bovinos. Eu tenho muito orgulho de ter escolhido Rondônia, afinal nós estamos no território amazônico, possuímos a maior biodiversidade e investimos em sustentabilidade com muita responsabilidade. Todo alimento produzido em Rondônia, tanto o grão como a carne, dentre outros, tem uma origem. É um alimento confiável por termos muito estudo e investimento. Aqui no estado nós não produzimos simplesmente por produzir. Produzimos com muito amor e muita consciência, responsabilidade e coerência. Não é à toa que Rondônia está entre os estados livres de aftosa, temos uma preocupação muito grande com a sanidade dos animais aqui e tenho certeza de que vamos continuar desenvolvendo e aprimorando cada vez mais as ações sanitárias necessárias para que isso continue assim por muitos anos”, projetou.
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Em meio às atividades, a produtora rural buscou espaço também para iniciar um movimento que pudesse inspirar outras mulheres a trilharem o caminho do protagonismo no agronegócio, o Agro Mulheres Rondônia. “Na realidade, eu me conectei com a Beatriz (Rosa), que infelizmente morreu de Covid-19 (falecida em fevereiro de 2021). Nós fomos sentindo a necessidade de ter um movimento como o Congresso Nacional das Mulheres do Agro, que é em São Paulo, a gente viu a necessidade de reproduzir aqui esse movimento. E isso foi crescendo, mais mulheres foram se engajando, todas trabalhando para o mesmo propósito. Nós criamos um grupo de Whatsapp para trocar informações e fomos nos conectando. Nós percebemos, juntas, que nós passávamos pelas mesmas dificuldades e vimos que as mulheres se sentiam representadas por nós e elas queriam aquela questão de serem protagonistas da sua própria história. Muitas mulheres tinham vergonha de dizer: ‘veja, eu estou no comando, eu faço, eu estou aqui tomando decisões, dando também a palavra final dentro do negócio’. E somos um movimento sem fins lucrativos conduzido por voluntárias. Tivemos palestras sobre sucessão familiar, falamos sobre protagonismo feminino e um pouco sobre gestão também”, resumiu.
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+ Acesse aqui o perfil do movimento Agro Mulheres Rondônia pelo Instagram
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A entrevista completa com Antonielly Rottoli pode ser vista pelo vídeo que segue: