Nesta quinta, 29, o Giro do Boi recebeu um convidado especial para falar de umas das linhagens de gado de corte que mais contribuíram – e contribuem – para o desenvolvimento da bovinocultura brasileira, que é o Nelore Lemgruber. O produtor Eduardo Penteado Cardoso detalhou a linha do tempo da seleção genética começou há 140 anos, em 1878. Em 2001 foi completada a aquisição completa de todos os animais do plantel por ele e seu irmão Fernando Penteado Cardoso Filho, que na Fazenda Mundo Novo, em Uberaba-MG, deram sequência ao trabalho de Manuel Lemgruber (Manduca), responsável pelas primeiras importações de animais indianos da raça Ongole, e Geraldo Soares de Paula, pecuarista imprescindível na manutenção desta genealogia.
Eduardo explicou como as histórias da família Penteado Cardoso e do Nelore Lemgruber se cruzaram. “A Manah (companhia fundada pelo agrônomo esalqueano Fernando Penteado Cardoso) começou um projeto de pecuária em 1969, quando começaram os incentivos fiscais via imposto de renda. Então ela montou um projeto no Sul do Pará, na área da Sudam, e uma área de reflorestamento em São Paulo, mais associada à pecuária. A ideia era fazer gado registrado em São Paulo e também produzir tourinhos para levar para o Pará, onde tinha um gado comercial. Tudo começou então com gado P.O. no estado de São Paulo, na região de Brotas. Em 1974, a Manah foi assessorada pelo doutor Fausto Pereira Lima a entrar na linhagem Lemgruber porque ele tinha visto esse gado lá em Curvelo-MG. Ele foi julgar na exposição e achou um animal que se enquadrava bem dentro da proposta da Manah”, contou Eduardo. Foi quando houve a aquisição do touro Mistério.
O pecuarista comentou ainda uma das principais características da linhagem Lemgruber, que, além de ser produtiva, é reconhecida pela docilidade, fruto de uma seleção direcionada. “Nós fazemos isso desde a década de 80, temos mais de 25 mil animais avaliados individualmente e temos escore para o temperamento de animal para animal no sobreano. […] Eu não vi até hoje nenhum problema, nenhuma limitação para a gente selecionar gado manso e treinar o pessoal para manejar direito os animais. Só tem vantagens. […] Aí nós temos mais ganho de peso no animal mais manso, a qualidade da carne é melhor e tem mais deposição de gordura, o dia a dia da gente é muito facilitado pelo temperamento”, atestou.
A preocupação da Fazenda Mundo Novo vai além da seleção para temperamento, utilizando também boas estruturas e manejo racional para evoluir nas práticas de bem-estar. Foi por isso que recentemente recebeu reconhecimento da medalha Temple Grandin de Bem-estar Animal pelo uso na propriedade de um curral inspirado nos projetos desta que é uma das maiores consultoras da pecuária mundial. “Em 2001 nós visitamos um curral experimental em uma cidade no centro de Minas Gerais, em Pirapora, e decidimos adotar este sistema. E achamos muito interessante porque ele obedece o instinto animal, o que facilitou muito o manejo na fazenda”, reforçou.
Veja a primeira parte da entrevista de Eduardo Penteado Cardoso ao Giro do Boi: