Conheça a história da menina de 13 anos que assumiu a fazenda após perder o pai

Com a morte do pai, Maria Vitória e a mãe assumiram os negócios e transformaram a propriedade de 48 hectares no celeiro do Senepol em Santa Catarina

Aos 13 anos de idade, após a morte do pai, a menina Maria Vitória Faé Proença conta que herdou, além de uma área um pouco maior que 48 hectares, o amor pelo campo, pela pecuária e valores que servem como guia para seu sucesso como produtora rural.

“Eu herdei o amor pelo campo, pela pecuária, o caráter do meu pai, a honestidade, a responsabilidade com os negócios. Aprendi a ter palavra. Aprendi a gostar do que é certo, trabalhar pelo que é certo, trabalhar por valores. Ser uma pessoa íntegra”, disse Maria Vitória em entrevista ao Giro do Boi desta terça-feira, dia 03.

“De dez anos para cá, a minha vida se revolucionou muito. A minha e a da minha mãe. A gente passou por muitas provações, mas graças a Deus a gente está de pé e lutando a cada dia que passa”, valorizou a jovem, hoje com 23 anos.

“O meu pai era meu mestre pecuarista. Ele era meu exemplo. Eu aprendi muita coisa de pecuária com ele, o amor pela pecuária. A lida no campo, como tudo em si eu aprendi com o meu pai. E o meu pai, desde quando eu era criança, ele me levava para o campo para acompanhar as lidas. Eu tinha um cavalo que se chamava Mosquito, que era meu companheiro das aventuras. Então eu aprendi a andar a cavalo aos dois anos de idade nesse cavalo Mosquito e ia para o campo com meu pai todo dia de manhã cedo. Desde criança no lombo do cavalo, fazendo arte na fazenda”, lembrou.

Maria Vitória, seu pai, Antônio, e o cavalo Mosquito.

Acompanhando o pai na lida, Maria Vitória adquiriu a paixão pela atividade e, assim com as plantas quando bem regadas e nutridas, criou raízes no campo. “Desde cedo, eu ia para a lida com meu pai, ele me incentivava a ficar no campo, a tocar a fazenda e eu fui ganhando amor pelo chão, fui enraizando cada vez mais na atividade e fui pegando o gosto mesmo” confirmou.

“As coisas foram acontecendo na minha vida. Eu perdi meu pai com 13 para 14 anos e aí eu tive que assumir a fazenda junto com a minha mãe (Eliane). Só que a gente passou muita dificuldade, muitos desafios porque a gente não tinha a autonomia e conhecimento nos negócios. A gente auxiliava mais na lida, no dia a dia, minha mãe auxiliava bastante em casa. Então quando o meu pai faleceu foi um baque muito grande para nós. Como é a gente ia assumir a propriedade? E a nossa propriedade fica a 25 quilômetros da cidade, não tem vizinhos próximos. Na época, não tinha internet, não tinha telefone. Tudo isso veio depois”, recordou os obstáculos. “Eu passei por situações constrangedoras, sendo discriminada porque as pessoas achavam que eu não era competente. Mas graças a Deus eu venci todos os comentários maldosos. Venci com o meu trabalho, mostrando por que eu vim”, exaltou.

“Logo que eu perdi meu pai, aos 13 anos, eu estava completando o ensino fundamental, quase ingressando para o ensino médio. Eu ingressei no ensino médio e tive que morar longe da fazenda e minha mãe teve que ficar sozinha na propriedade. Na época a gente tinha só um funcionário que auxiliava na lida. E eu, em virtude dos meus estudos fui morar na cidade e vinha para a fazenda só aos finais de semana para auxiliar minha mãe”, detalhou.

Mas o esforço para concluir os estudos valeram a pena. “E aí nesse meio tempo o Senepol entrou na minha vida em novembro de 2014. Eu tinha 16 anos eu fui a São Paulo conhecer a raça. Eu já tinha visto a raça naquele mesmo ano pelas lentes do Canal Rural, por isso eu digo que minha história com o Senepol tem muito a ver com o Canal Rural – porque foi através da emissora que eu conheci a raça, assistindo leilão. E eu cresci assistindo o Canal Rural, cresci vendo histórias de pecuaristas e de fazendas que são inspiradoras e eu falava: um dia a minha história vai estar nas lentes do Canal também, como uma pessoa inspiradora na pecuária, que é o que eu amo”, observou.

Aos 16 anos, Maria Vitória teve o primeiro contato com o Senepol depois de conhecer a raça pelas lentes do Canal Rural.

Vitória conta como o primeiro contato com o Senepol foi amor à primeira vista. “Eu me encantei. Eu sempre gostei de gado mocho e vermelho e eu vi no Senepol uma docilidade incrível e fiquei muito apaixonada pela raça. E eu não conhecia, mas comecei a pesquisar, comecei a estudar sobre a raça, fazer contato com criadores e não aguentei e fui a São Paulo conhecer, fiz a minha primeira viagem de avião para conhecer o Senepol. Eu cheguei em São Paulo, conheci a raça, foi amor à primeira vista, fui estudando mais sobre a genética, me aperfeiçoando e aí eu comprei dez embriões, que trouxe para Santa Catarina, e implantamos aqui. Hoje nós temos as Joias da Vitória”, ressaltou.

Vitória e suas “joias” da raça Senpeol.

“Quando eu e minha mãe assumimos a fazenda, não tinha nada de melhoramento genético, melhoramento de pastagem, assistência técnica. Tudo isso veio depois, bem depois. A gente tinha bastante problema com pastagem porque boa parte da propriedade era tudo campo nativo e aí depois que a gente começou a fazer um melhoramento de campo nativo, a trabalhar com cultivares melhoradas, a intensificar o pastejo, produzir silagem, tudo isso veio bem depois”, revelou.

Hoje, depois de provar o potencial do Senepol no estado de Santa Catarina, Vitória já busca outros horizontes para a raça. “Depois de ter solidificado a raça Senepol em Santa Catarina, de ter provado que a raça se adapta muito bem ao nosso campo frio, de pouca pastagem e as inúmeras adversidades, agora a gente está fazendo o trabalho de cruzamento industrial utilizando o Senepol. A gente está fazendo o cruzamento tricross, que envolve três raças. As raças-mãe são Caracu, Red Angus e Limousin, e a gente faz inseminação artificial em tempo fixo nas matrizes utilizando Senepol. Ee eu escolho um touro de baixo peso de nascimento, que imprima um rápido ganho de peso para os bezerros, alinhado com carcaça comprida e profunda. Isso sem contar que o Senepol, no cruzamento, também imprime muita docilidade, então é muito prático o manejo, é muito tranquilo de trabalhar com esse cruzamento e o pessoal que compra os nossos produtos, que a gente vende em feira, tem 100% de recompra, o pessoal gosta muito, eles trazem informações de que dá 54% a 56% de rendimento de carcaça desses animais. Está sendo mais uma novidade positiva para a raça Senepol em Santa Catarina”, celebrou.

Objetivo do criatório agora é consolidar sucesso do Senepol no tricross.

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Após superar a morte do pai e ser forjada por circunstâncias adversas, a jovem pretende usar a força que encontrou para expandir o conhecimento e suas capacidades. “Hoje eu curso zootecnia e divido o meu tempo entre a fazenda, os eventos da pecuária e a zootecnia”, afirmou.

“A gente tem que buscar ser melhor 1% a cada dia. No final do ano, a gente vai ter melhorado 365%. Os nossos problemas nunca são maiores que as nossas oportunidades. Para todo problema, existe uma solução. A gente tem que ter fé em Deus, tem que se manter firme porque é um dia após o outro. As vitórias sempre vêm. A gente tem que estar preparado porque a gente é vencedor, o pessoal do campo é batalhador, a gente tem que ter orgulho disso que a gente representa e continuar seguindo em frente para continuar motivando as próximas gerações que estão vindo aí. Incentivar as próximas gerações e estar se unindo, melhorando cada vez mais e se capacitando, com certeza. Você nunca pode deixar de estudar. Eu me graduei em técnica em agropecuária, agora estudo zootecnia e, mais para frente, quero fazer administração, quero fazer marketing, quero fazer gestão de pessoas”, concluiu.

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Assista a entrevista completa com Maria Vitória Faé Proença no vídeo a seguir: