Nesta quinta, 26, o Giro do Boi levou ao ar entrevista concedida pelo professor da Unesp de Jaboticabal-SP, Mateus Paranhos, zootecnista, pós-doutor em bem-estar animal e coordenador do Grupo Etco, o Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal, ao repórter José Neto.
Na conversa, Paranhos comentou a passagem da pesquisadora Dra. Temple Grandin na Agropecuária Orvalho das Flores, localizada em Barra do Garças, no Vale do Araguaia mato-grossense. De acordo com Paranhos, Grandin ficou impressionada com o manejo que acompanhou na propriedade, que há cerca de dez anos passou a fazer os ajustes para melhorar os indicadores de bem-estar. “Ela (Temple Grandin) está levando a melhor imagem da nossa pecuária de que é possível fazer bem, de que tem gente fazendo bem”, frisou.
+ Clique para curtir a página do Giro do Boi no Facebook
Quem está à frente do trabalho da fazenda é a pecuarista Carmen Perez, que lembrou que quando assumiu a propriedade, há mais de uma década, sequer conseguia entrar no curral. Por isso, solicitou uma consultoria do professor Paranhos para indicar quais seriam as mudanças necessárias.
O professor da Unesp destacou que, apesar de contar com instalações antigas, as estruturas da Agropecuária Orvalho das Flores estão em boas condições de uso e que apenas pequenas adaptações foram feitas. “A chave disso tudo foi o envolvimento da equipe com o conceito de bem-estar. A partir do momento que a equipe, principalmente os líderes, gerente geral e capataz, absorveram isso, incorporaram isso na rotina de manejo deles, não teve mais nenhum problema”, lembrou Paranhos.
Novos colaboradores incorporados ao manejo recebem praticamente uma aula sobre a cultura da fazenda voltada ao bem-estar, o que garante a perpetuação da boas práticas e a oferta de produtos de qualidade ao mercado, o que no caso da Orvalho das Flores significa bons bezerros. “São bezerros que não perdem peso no desmame, que têm menor risco de ficar doente, então ele está levando também para casa o produto de qualidade”, afirmou Paranhos.
“Um ponto que tem que ser falado é que tudo começa no nascimento do bezerro, então eu tenho que começar um bom manejo ali, mas ao longo do processo todo eu tenho que manter isso. Então todo o trabalho que a Carmen faz, se depois que o bezerro sair de lá não tiver continuidade, pode-se perder os benefícios promovidos pelas boas práticas lá na cria. Mas se mantiver, o que vai acontecer? O mais óbvio de tudo é que o animal menos agitado tem menos risco de se machucar, ele não corre tanto, ele não tenta pular, ele não cai, então esse tipo de acidente que normalmente leva à lesão de carcaça vai diminuir muito”, sustentou.
+ Clique aqui para baixar o Manual de Boas Práticas de Manejo: Bezerros ao Nascimento
+ Metade dos animais abatidos no Brasil apresentam lesão na carcaça
Todo o trabalho voltando para o bem-estar animal resultou na melhoria impressionante de um dos indicadores da Agropecuária Orvalho das Flores. “A fazenda da Carmen, por exemplos, tem dados mostrando que nos últimos oito anos não teve acidente com ninguém. Eu estou falando ninguém dos funcionários foi acidentado e nenhum animal saiu de lá fraturado”, ressaltou Paranhos. “Ela (Carmen Perez) criou uma cultura voltada ao tema bem-estar animal, mérito dela, da equipe dela, e o nosso papel nisso é simplesmente de orientação”, complementou.
Ainda durante a entrevista, Mateus Paranhos anunciou uma boa notícia para a pecuária brasileira. “Chega um momento que você começa a pensar em aposentar. Eu andava um pouco desmotivado e já até pensando em o que fazer daqui a um ano e meio, quando eu poderia aposentar. E a visita dela (Temple Grandin), a energia dela, a motivação dela me contagiou, então por pelo menos mais uns cinco anos eu estou aí no batente. […] Eu espero que isso também motive muitos dos nossos produtores a pensar e agir depois de pensar que as boas práticas de manejo são o caminho”, concluiu.
Veja a conversa na íntegra pelo vídeo abaixo: